O senhor presidente Michel Temer (PMDB) utilizou o twitter para explicar à população os sinônimos da palavra "acidente" por ter sido criticado por usar o vocábulo para classificar a tragédia no presídio de Manuas (AM), como se o criticável fosse apenas o léxico empregado. Oh céus, precisamos mesmo da aula do titio Temer?

Diz ele que acidente tem como "sinônimos tragédias, perda, desastre, desgraça e fatalidade". Só que o senhor presidente esquece que palavras engravidam de seus contextos, como expliquei aqui ao falar da infelicidade de sua fala. Por isto que há análise de discurso. Por isto que existe semiótica.

Quando ele usa "acidente" não chama atenção para o fato de que se trata da crônica de uma morte anunciada, que é a completa falência do sistema brasileiro de segurança pública, que não vem de hoje e é culpa de um somatório de ações temerárias de governos passados, inclusive o petista com sua moralidade relativa e o discurso do banditismo de classe.

Mas antes mesmo disso, no Regime Militar, os discursos orgânicos e erros como o de Ilha Grande, já revelado pelo jornalista Carlos Amorim em CV/PCC: A Irmandade de Crime. Esta talvez seja a maior obra de jornalismo-reportagem recente. Se muitos não sabem da História deste país, paciência. E ainda há aqueles que em não sabendo ainda se atrevem a mandar os que sabem estudar. Temer pareceu um aluno desta escola, ao invés do professor que quis ser.

Então, no contexto da fala presidencial, há sim a tentativa de minimizar a culpa do Estado, absolver o establishment e colocar como uma fatalidade imprevisível que simplesmente aconteceu, como se ali não estivessem facções com ligações com as Farcs, que até ganham papel de destaque dentro do Foro de São Paulo, que nivela partidos políticos a grupos criminosos os amalgamando, ferindo a soberania nacional e impondo um eixo político na América Latina de visões perigosas.

O senhor Temer deveria ser crescidinho o suficiente para entender que nem todos que o criticam torcem pelo pior melhor, que nem toda crítica é fruto da ideologização de rivais ressentidos por terem sido retirados do poder. Eu mesmo já elogiei e defendi ações de seu governo. Ações que sigo elogiando e defendendo, pois são - ao meu ver - corretas! Afinal, há aqueles que criticam de forma séria o governo federal quando este merece, bem como elogiam quando acerta.

Então, ao invés da aula de português em tom professoral e debochado, o presidente deveria aprender a separar críticas de críticas e aprender a ser mais contundente e intelectualmente honesto quando necessário, como reconhecer a falência que aqui relato. Reconhecer o problema é o primeiro passo para buscar soluções. Quanto às críticas desonestas, responder a estas como devem ser respondidas: com firmeza e clareza!

Quantos às soluções, em relação ao crime no país, perpassam pela mudança de postura, de paradigma, pelo abandono desta relativização e adoção imediata de medidas efetivas que quebrem o crime organizado pela emenda, pois o que aconteceu em Manuas pode ser a porta aberta do inferno para uma outra série de ações por parte de criminosos que absorveram - ao longo da história - o discurso revolucionário ao seu favor. Não por acaso, o PCC tem estatuto e lemas, como "Justiça e liberdade", o que é um escárnio.

Por acaso, o senhor presidente vai observar quais sinônimos de palavras como estas sendo usadas por estruturas criminosas, dentro de um contexto, que mobilizam um estado paralelo e tribunais de exceção? Com certeza não serão os do dicionário.

Que existem os que criticam Temer por conta de torcerem pelo "quanto pior, melhor", não nego. Que existem os que criticam Temer e o culpam até pelo que ele não tem culpa, também não nego. Mas cabe ao presidente separar as coisas e não ser frouxo, sobretudo quando a sociedade precisa ouvir a verdade.

E - até aqui - sobre o ocorrido em Manaus, apenas o Ministério Público Federal (MPF), ainda que tardiamente (e expliquei porque em meu blog), resolveu falar a verdade sem sentimentalismos tóxicos.

O senhor Temer quer falar de acidente em sentido dicionarístico é bom lembrar que a palavra, em sua etimologia, se relaciona com a ideia de um acontecimento anormal que é imprevisto ocasionando a fatalidade. Por esta razão, há uma relação de sinonímia com as demais palavras por ele postas, mas não podendo ser substituída no contexto sem perda de significado no discurso.

Afinal, nesta mesma etimologia refere-se a fatos ocorridos sobre os quais os agentes sofredores e/ou causadores não tiveram controle, daí sua aplicabilidade a terremotos, maremotos, infortúnios de trânsito, dentre outros. Não podemos classificar neste sentido o que ocorreu em Manaus, pois como mostram as investigações houve uma crônica anunciada e não é de hoje.

Não trate a todos presidentes, como brasileiros que precisam sentar o bumbum na Escolinha do Professor Temer. Caso o senhor não sabia, há quem leia o dicionário. Houve um triste eufemismo na fala do senhor Temer. Ponto final!

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