O CadaMinuto já tocou no assunto no dia de hoje, 26, por meio de uma nota na coluna Labafero. Mas, não se pode deixar passar batido tal tema. O Estado de Alagoas - que é o último lugar no ranking do IDH - lidera a lista dos Estados com mais municípios onde houve irregularidades detectadas pelas investigações federais, em termos proporcionais. 

E o pior: isto não pode ser encarado como novidade, muito menos assustar aos alagoanos que acompanham as matérias diuturnas de nossa imprensa. Traduzindo em miúdos é possível afirmar que, proporcionalmente, Alagoas tem a maior concentração de políticos ladrões do país. 

Ao longo dos últimos anos, foram várias as operações da Polícia Federal com foco em desvios de recursos federais no Estado de Alagoas. As que mais chamaram atenção foram as que mostraram o roubo de recursos da merenda escolar. Nesta lista estão a emblemática Gabiru, cujos denunciados ainda desfrutam de liberdade e carreira política, bem como outras como a Mascoth. Se formos lembrar de outras investigações teremos Carranca, Navalha e a Operação Taturana (esta não foram recursos federais, mas mostrou metade de um parlamento estadual envolvido em desvios de dinheiro público). 

O grande problema é que os protagonistas destas operações ao invés de pagarem por seus pecados ganham até reconhecimento, títulos públicos ou avançam em suas carreiras políticas, quando não são bajulados por um séquito que mama agradavelmente nas tetas da viúva. 

Grande parte dos envolvidos na Taturana - por exemplo - seguem deputados estaduais. Um deles virou até conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas. Se tudo isto não é puro fomento à impunidade, não sei mais o que seja...

Os números revelados pelo Estadão - que mostram Alagoas como campeã de corrupção - é a crônica de uma tragédia anunciada. Revela o patronato e seus feudos eleitorais, como eles se perpetuam no poder às custas de desgraças. Em municípios paupérrimos, que se sustentam graças aos repasses federais, dentre os quais o obrigatório FPM, há um misto e incompetência gerencial dos prefeitos e roubalheira. São políticos que se mostram incapazes de criar alternativas empreendedoras, não gerem bem os recursos vindos e - em muitos casos - ainda os desviam. Fazem isto com a proteção de uma “cadeia alimentar” que se retroalimenta em busca de apoio político para manter o establishment. Por esta razão, os pequenos gabirus se sustentam nas grandes ratazanas que chegam ao Executivo estadual, ao Senado Federal e à Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. Bem na “valsa” que entoa que “uma mão lava a outra”. 

Alagoas vivencia aos olhos nus o patronato descrito por Raimundo Faoro em sua obra Os Donos do Poder. Um patronato que distribui cargos, agrada chumbetas, e os políticos são vistos como semi-deuses pela influência que conquistam juntos ao alto escalão da República. A matéria do Estadão cita Alagoas em poucas linhas, mas diz muito de nós: dos 102 municípios alagoanos, 70 se envolveram em esquemas de corrupção. Esta tragédia coincidir com o pior IDH não é coincidência. É consequência. 

Estranho ainda é o silêncio de nossas “autoridades” diante da divulgação desta reportagem. Cobro de uma em especial: o que tem a dizer o senhor presidente da Associação dos Municípios Alagoanos, Marcelo Beltrão, sobre a reportagem que atinge diretamente os associados desta instituição? Silêncio?

Lembro que - ainda neste ano - chamei atenção, neste blog, para outro ranking: o da competitividade e do empreendedorismo. A capital de Alagoas, Maceió, figurava no último lugar, assim como o Estado. Ou seja: o pior lugar para se investir, o que complica mais ainda a reversão do quadro. Enquanto tratarmos nossas Vossas Excrescências de Vossas Excelências estaremos condenados a sermos campeões no que não presta e últimos lugares no que sonhamos alcançar o topo. Pois são muitas as pessoas de bem em Alagoas vítimas destes sicários que se apossam do público como se privado fosse. A questão é: como derrubar este establishment?
 

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