Li, no dia de ontem, o livro Anatomia de um Desastre dos jornalistas Cláudia Saflater, João Borges e Ribamar Oliveira. A obra - quase que em sua totalidade - se detém aos aspectos das decisões econômicas dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT). Impressiona a quantidade de detalhes técnicos, cifras, porcentagens e consequências de decisões.
Os jornalistas fazem o reconhecimento que - mesmo sendo um crítico ferrenho do PT, não só nas decisões econômicas, mas como na agenda moral - já fiz aqui: o partido acertou ao adotar a matriz econômica ortodoxa no início do primeiro mandato de Lula. Para mim, neste campo, os erros se iniciam em 2008. O livro coloca 2005 e tem bons argumentos para isto.
É uma boa obra. Eu indico. Dos livros já lançados, creio que foi o que tornou mais didática a compreensão do TCU sobre as contas da presidente Dilma Rousseff (PT), bem como sobre a política dos "campeões nacionais". Faz uma ressalva que já fiz no passado: Antonio Palocci foi uma figura importante para os acertos dos primeiros anos do governo Lula, em que pese Palocci ser quem é.
Não digo com isto que não tenho críticas aos primeiros anos do governo Lula. Claro que tenho, pois não é só de economia que vive um governo. Para mim, a agenda de degradação política, de aprofundamento do patronato como instrumento de manutenção de poder (o que se fingia combater), já estavam ali presentes. Como era coisa presente também no governo tucano, ainda que com menos veemência.
Todavia, é desonestidade intelectual não reconhecer que economicamente a matriz ortodoxa era acerto e Lula - naquele momento - adotou justamente os acertos. Discutir os motivos pelos quais o fez é outra história. Parte destes motivos está em A Carta aos Brasileiros: ganhar a eleição.
Uma boa análise proposta pelos jornalistas é apresentar a perspectiva de uma continuidade desta matriz ao invés da "nova matriz". Outro ponto: os choques existentes - desde sempre - no Ministério da Fazenda, que envolvia as decisões do Banco Central e do Planejamento. Um eterno bater de cabeças onde prevalecia a decisão ideológica e não a questão técnica.
Enfim, para mim, uma das melhores obras jornalísticas publicadas sobre a origem da crise econômica. Uma pena que não contextualize as outras crises, como a política e a moral, mas aí é dever de quem optar pela obra e associar a outras informações que já foram analisadas em livros diversos.
Ao lado de O Fim do Brasil - de Felipe Miranda - Anatomia de Um Desastre é uma publicação que julgo importante. Leitura fácil. Deu pra "matar" as 300 páginas em um dia.
Os jornalistas também separam os capítulos de forma muito didática e assim tratam do déficit das contas públicas, do crescimento dos gastos, do sacrifício imposto às receitas com desonerações sem critérios, dos empréstimos que geraram dinheiro mais barato para os amigos dos reis, do acerto (sim, eu acho um ACERTO) da unificação do Bolsa Família, do pensamento do ex-ministro Joaquim Levy, da Petrobras, dentre outros temas. Vale muito a pena!
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