O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), concedeu uma longa entrevista à Coluna Estadão (aos jornalistas Andreza Matais e Naira Trindade) em que tratou de diversos temas e mostrou que está em uma linha de entendimento sólida com o presidente Michel Temer (PMDB). Em outras palavras, bem ao estilo do PMDB que leva a sério o seguinte mantra: “há governo, sou a favor”.
Renan disse, não literalmente, que a presidente Dilma Rousseff (PT) - de quem foi aliado até o último momento, inclusive ajudando na articulação que preservou os direitos políticos da petista, contrariando a Constituição Federal - já é página virada. “Na presidência do Senado, você tem que focar no Brasil e não ficar com saudades dos presidentes que passaram. Já passaram tantos em minha vida (risos)...”.
Chamando atenção para o detalhe dos “risos”, é de se lembrar: é verdade. Muitos foram os presidentes da vida de Renan Calheiros, o que fez com que ele pudesse - sempre exercitando sua habilidade no xadrez político - ser ministro da Justiça, ser presidente do Senado, permanecer no Senado quando teve o mandato ameaçado, se reerguer e voltar à presidência do Senado. Enfim, ser o fiel da balança, ampliar tentáculos e se posicionar como “homem-chave” do poder.
Tanto que ao falar de Michel Temer, com quem tem divergências fortes, conforme os bastidores, afirmou que o atual presidente “tem feito um esforço muito grande para estabilizar a economia. E, para isso, é preciso que tenhamos uma agenda de prioridades. O Congresso tem colaborado como pode com o governo”. Calheiros classificou o estilo de Temer governar: “Ajuda bastante”. Segundo ele, Temer tem um perfil “que facilita muito nas relações com o Congresso Nacional”.
Calheiros não evitou temas espinhosos, mas sempre com a postura cautelosa que é sua marca. Por exemplo, ao falar dos super-salários do Judiciário e Ministério Público, o que é uma verdade. Estes salários existem: “Essa é uma pauta de sempre do Congresso. Outro dia alguém me perguntou se eu não sabia da existência de super salários no Judiciário e no Ministério Público. Respondi com a maior sinceridade: “não sabia”. Eu sabia da existência no Legislativo. E os enfrento desde de 2013”.
Diante das críticas que vem sofrendo de membros do Judiciário, do Ministério Público Federal, dentre outros, devido o projeto de abuso de autoridade, emendou: “Não fui criticado pelo Judiciário, mas por entidades do Judiciário que não conseguem sair dessa visão corporativa. Mas isso é um acinte. O País, com tanta desigualdade, num momento de controle de gastos, conviver com super salários?”
Mesmo assim voltou a afirmar que vota a matéria do projeto de abuso de autoridade ainda neste ano: 6 de dezembro. “A lei vigente no Brasil foi editada em 1965, sob o governo Castelo Branco. Ela estabelece penas brandas, o que estimula o abuso de autoridade. Não é contra o abuso em algum lugar. É contra abuso em qualquer lugar”. Sobre as críticas do momento escolhido (que é justamente quando a Lava Jato parte para cima de políticos, incluindo o próprio Renan Calheiros), comentou: “As leis têm que ser atualizadas no tempo da sociedade e não no tempo das corporações. O Brasil não pode caracterizar sua democracia pelo abuso de autoridade”.
Sobre o caso envolvendo o ministro Geddel Vieira - que é do PMDB - não quis se complicar e disse apenas que “Geddel conduziu equivocadamente o assunto”. Falou também sobre a anistia do Caixa 2: “A gente não sabe nem se a Câmara vai aprovar e, no Senado, a pauta está cheia até o fim do ano. Mas não se trata de anistia, porque você não pode anistiar um crime que não está tipificado, previsto”. Há outros temas tratados por Renan Calheiros que podem ser conferidos lá na Coluna.
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