No dia 20 de novembro (ontem) tivemos atos que pediram o Fora Renan. Ou seja: que o senador Renan Calheiros (PMDB) saísse da presidência do Congresso Nacional. Em que pese eventuais manifestações exageradas que são próprias dos “gritos de ordem” e da emoção que toma conta de ações, ela (a manifestação popular) tem razão de ser e ocorreu de maneira democrática, sem ocupações/invasão de prédios públicos e pautadas por uma série de indícios que cobram explicações do presidente do Senado Federal. 

Eu acho a manifestação inócua desta vez apesar de entender os motivos e achar legítimo.

Renan Calheiros responde a 11 inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Impressiona a lentidão em relação a estes processos quando comparados aos de outros políticos, como foi o caso do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), que foi cassado e se encontra preso. Cunha, assim como Calheiros, é acusado de receber propinas e de ter manobrado o Congresso em seu favor, não levando em consideração os interesses republicanos. Para Cunha, tudo andou em uma Ferrari. Para Renan Calheiros, vai de Fusca. 

Isto por si só geram questionamos em relação aos acontecimentos. Se Renan Calheiros vai virar réu ou não nos inquéritos que responde, aí é outra história. Mas é preciso que o Supremo Tribunal Federal se posicione e que Calheiros tenha amplo direito à defesa. Agora, não se pode negar o que pesa contra ele e o fato dele ser hoje um dos homens mais poderosos da República, com influência em ações que vão de encontro ao que muitos brasileiros pedem: passar o país a limpo.

Que sejam punidos quem tiver culpa comprovada. E isto independente de partido. 

Além disto, Renan Calheiros se posiciona como um enxadrista hábil de posições camaleônicas, como quem navega - no meio da tempestade - com um pé em cada canoa. Ele está sempre pronto para se posicionar no barco que não vai virar. Foi assim o seu comportamento durante o processo do impeachment até ser um dos articuladores do ato que rasgou a Constituição do país ao ajudar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) a manter os seus direitos políticos. Tudo isto pesa contra Renan Calheiros e causa uma revolta em certa parcela da população que se justifica. 

Quando se olha para o passado, ainda se lembra do caso Mônica Veloso - que adormece no Supremo Tribunal Federal, e do quanto Renan trabalhou de forma favorável ao Partido dos Trabalhadores por motivos bem pessoais, dentre outros fatos. No dia 19 de novembro, mais uma novidade: um 12º inquérito no STF - atendendo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot - para investigar uma movimentação financeira suspeita de mais de R$ 5 milhões. 

Renan Calheiros é uma figura pública e sabe - tanto que ele mesmo já disse isto! - que seus atos precisam ser explicados a luz do sol. Calheiros também entrou na contramão do sentimento popular ao encampar uma cruzada pelo projeto de lei do abuso de autoridade. Não se trata do mérito do projeto, pois é claro que toda autoridade que comete abuso de poder precisa ser punida. 

O Estado Democrático de Direito requer isto para que não tenhamos justiçamento. 

Trata-se do momento em que ele (o projeto) surge, que deixa clara a tentativa de retaliação à Operação Lava Jato, por mais que Calheiros negue. Afinal, soma-se a esta ação as gravações feitas onde políticos discutiam formas de frear a Lava Jato. 

Então, as motivações dos movimentos de rua - tanto aqui em Alagoas, quanto pelo país afora - estão justificadas. Isto não pode ser interpretado como uma afronta dos movimentos ao Dia da Consciência Negra. Não se apaga uma data histórica que deve ser lembrada e foi. Pudemos ler matérias jornalísticas, acompanhar exposições, assistir a debates em função da data, enfim...e isto é igualmente legítimo. Acho a data um marco importante por gerar reflexões sobre uma página obscura da nossa História que precisa ser revisitada sempre, como tantas outras páginas. 

Digo mais: lutar contra o racismo, a xenofobia e todo ato de intolerância deve fazer parte do dia-a-dia das pessoas que compreendem que o ser humano deve ser respeitado sempre por ser humano, independente de classe social, credo, etnia ou orientação sexual. Seres humanos merecem ser tratados como iguais que são perante a lei e todo ato de racismo merece ser repudiado e punido dentro do que preconiza o Estado Democrático de Direito. É crime. É o fato de desejar que a lei seja igual para todos que tem mobilizado muitas pessoas nas críticas aos políticos. 

Há racismo neste país? Infelizmente a resposta é sim! Como disse antes, este deve ser combatido onde quer que ocorra. Agora, dizer que a manifestação contra Renan Calheiros é racista por ter ocorrido no dia 20 de novembro é um exagero sem tamanho. Classificar as pessoas que lá foram, por serem contrárias ao senhor presidente do Senado, de racista em função da data que escolheram, é exagero. Ninguém é obrigado a concordar com o Fora Renan; ninguém é obrigado a achar que a data foi bem escolhida ou mal escolhida; ninguém é obrigado a gostar das pessoas que lá estavam...mas quem lá foi não cometeu crime algum. Ao contrário, exerceram o direito constitucional da livre manifestação de pensamento. 

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