O resultado da eleição gerou divisão clara entre grupos políticos em Alagoas. Pelos resultados: os mais fortes serão os comandados pelo PSDB e pelo PMDB. Diferença entre eles? Mínimas. Tanto pela biografia de seus integrantes quanto pela ausência de um projeto sistemático e programático, propriamente dito. Apareceram - de ambos os lados - propostas soltas. 

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), que não é bobo, sabia disso desde sempre. Sabe, inclusive, que terá pela frente um caminho difícil para consolidar sua reeleição ao Senado Federal diante dos nomes que despontam dentro do grupo tucano. Além do próprio ex-governador Teotonio Vilela (PSDB), há o crescimento do ministro dos Transportes, Maurício Quintella (PR). 

Renan Calheiros não terá o mesmo espaço para manobrar o xadrez político, como fez em 2010, quando eliminou concorrentes antes mesmo do pleito. Fez isto com Pinto de Luna no PT, por exemplo. Vale lembrar que na época - com base nas pesquisas pré-eleitorais - o atual senador Benedito de Lira (PP) não era um rival que incomodava. Foi surpresa ele ser, naquele momento, o senador mais votado, colocando Calheiros na segunda posição. 

Além disto, Calheiros sabe que o governador Renan Filho (PMDB) pode ter Rui Palmeira (PSDB) como rival em 2018. Então, passada a eleição, ele resolveu entrar na briga por meio de nota. Não arrefeceu o discurso do palanque. O peemedebista-mor - ao contrário - elevou o tom. Marcou posição e dispara contra Rui Palmeira e contra o PSDB. 

O CadaMinuto publicou a nota na íntegra. Mas, alguns trechos valem o comentário.

O presidente do Senado diz que “encerrado o processo eleitoral de Maceió, não deve se omitir”. Ora, o PMDB de Calheiros não se omitiu no processo. Ele tinha candidato e sua interferência na campanha nunca seria indevida. Fosse para pedir votos ao seu candidato, fosse para responder aos ataques que sofreu por parte de Rui Palmeira. Ela seria legítima, uma vez que Cícero Almeida (PMDB) era o candidato dele e - além disso - o próprio Renan Calheiros foi citado várias vezes por Rui Palmeira. Logo, sua resposta seria natural. 

Renan Calheiros se omitiu naquele momento não para não interferir, já que sempre interferiu em tabuleiros de xadrez. O senador se omitiu para não se desgastar politicamente e entrar em um bate-boca onde - naquele momento - poderia perder. Além disso, suas preocupações eram outras em Brasília. O presidente do Senado Federal sabe muito bem jogar esse xadrez. 

Dizer que Cícero Almeida foi o tempo todo, equilibrado e maduro não corresponde a verdade. É fato que não foi apenas Almeida quem bateu. Em alguns momentos foi alvo sim de críticas exageradas por parte da imprensa. É fato que Rui Palmeira assumiu um discurso de vitimismo para além do tom, assumido uma postura de falsa humildade enquanto fazia ataques velados, como chamar o rival de “capacho”. Queiram ou não, é uma falta de respeito que condeno. Há formas e formas de debater e mostrar a influência de quem está nos bastidores em uma campanha. 

Mas, Almeida também saiu do tom e do script e isto trouxe problemas internos na campanha do PMDB, que foram amplamente mostrados pela imprensa. Uma pesquisada no google e se vê. 

Almeida sofreu uma derrota sim. Com ele, todo o PMDB. Agora, uma coisa é fato: o deputado federal Cícero Almeida mostrou, por incrível que pareça, mais maturidade ao lidar com a derrota do que Renan Calheiros. Almeida foi objetivo ao dizer que volta à Câmara de Deputados para ajudar e ao mesmo tempo pontuou as críticas que tem a Rui Palmeira. Ou seja: soube se posicionar como “oposição construtiva”. Ainda que não seja na prática, acertou no discurso. Parabenizei Almeida por isto em meu programa de rádio. Parabenizo aqui. O discurso foi acertado. 

Outro ponto: Almeida não foi acusado por Rui Palmeira de irregularidades de contratação de empresas para limpar a cidade. Ele foi acusado pelo Ministério Público e existe um processo sobre. Se ele é inocente ou não, caberá à Justiça, que deve - por sua vez - garantir a Almeida o amplo direito de defesa. Numa campanha, apontar para o fato é algo legítimo. Agora, Rui Palmeira exagerou também na dose. Tanto que assistimos - por culpa de ambos os candidatos (o derrotado e o eleito) - uma das mais baixas campanhas já feitas na capital alagoana. Os debates televisivos foram um show de horrores. No guia eleitoral, o marketing de Rui - que é pago para isto - foi mais competente.

O único ponto justo da nota é afirmar que Rui Palmeira manteve os contratos. Pois é. Manteve! E nunca conseguiu explicar por qual razão durante a campanha eleitoral. Renan Calheiros está certo em cobrar uma resposta sobre isto ao tucano. Almeida cobrou diversos momentos, mas nunca obteve resposta. Era legítimo que cobrasse. 

Renan Calheiros ainda diz que Rui Palmeira tem motivos para se preocupar com a Lava Jato e com outras denúncias. Vejam: se há motivos para preocupação por parte de Palmeira, que a Justiça o processe e que ele responda. Se houver processo e condenação, que pague. O mesmo deve ser dito sobre Calheiros que coleciona inquéritos no Supremo Tribunal Federal. 

O senador do PMDB, obviamente, tem todo direito à ampla defesa e, assim, provar a sua inocência. A existência dos processos é um dado concreto, mas não um prejulgamento. Mas a Lava Jato bate muito mais na porta de Renan Calheiros que na porta de Rui Palmeira. Por isso também concordo com Renan Calheiros quando ele diz: “Repito aqui que qualquer denúncia deve ser investigada. Aproveito esses episódios para, paciente e serenamente, comprovar que nunca cometi irregularidades. Foi o que aconteceu à primeira e principal acusação, por ouvir dizer, como as demais, e que foi arquivada. O mesmo acontecerá com as outras”.

Então, aguardemos. Agora, por que Renan Calheiros evoca para si o direito à defesa e diz que Rui Palmeira tem que se preocupar, se no caso dele há inquérito e no caso de Rui Palmeira não (ainda não, pelo menos)? 

Outro trecho: “A propósito, esclareço que a citação a João Sampaio ocorreu sem meu conhecimento. As atribuições de Presidente do Congresso Nacional me obrigam a estar em Brasília. Logo que soube, pedi que fossem retiradas, e foram”. Leram? É o próprio Calheiros reconhecendo que nem sempre houve maturidade e equilíbrio na campanha de Almeida. Que houve erro. A campanha que ele - senador Renan Calheiros - diz que sempre foi equilibrada e madura. É, Renan teve que se justificar sobre uma das peças publicitárias de Cícero Almeida. 

Por que não fez isto imediatamente, de forma pública!, assim que a peça publicitária foi ao ar, já que tinha essa visão? 

“Devo dizer que a eleição de Rui Palmeira, de certa forma, me alivia. Isso porque não me verei novamente na obrigação de dar-lhe emprego no Senado”, diz Renan Calheiros. Então da primeira vez que deu emprego ao tucano, o senhor Renan Calheiros foi obrigado? Por quem? E por qual razão se veria obrigado agora em caso de derrota de Rui? Afinal, que eu saiba, os cargos em comissão são de livre nomeação. Ou não? Que obrigação é essa?

“Depois de Rui ter perdido uma eleição, tive que contratá-lo no Senado. Foi um erro, humildemente reconheço. Rui Palmeira não tinha preparo e não gostava de trabalhar. Além do outro empecilho, este insuperável porque moral: ele sempre fez pouco caso do dinheiro público”, escreve Renan Calheiros. Por qual razão só diz isto agora? Rui Palmeira já foi deputado estadual, deputado federal e prefeito. Só agora o senador peemedebista denuncia que ele é preguiçoso. Calheiros deveria ter feito isso antes para que os eleitores tivessem acesso a informação tão importante. E se manteve um preguiçoso trabalhando as custas do erário público, jogou dinheiro do povo no lixo. Prevaricou diante de sua função de cobrar que seus empregados trabalhem, pois é para isso que são pagos com o dinheiro do povo. 

Em 2012, em seu site oficial, Renan Calheiros demonstrou apoio a Palmeira. Vejam: ““A minha praxe tem demonstrado que apoio todos os prefeitos, não importando sua condição partidária”, disse o senador. Renan revelou que tem com Rui Palmeira (PSDB) uma excelente relação pessoal. “Sou amigo de seu pai, Guilherme Palmeira; fui senador com ele. O maceioense não tenha dúvida de que farei tudo para ajudar o Rui na prefeitura”. O tom era outro. A íntegra pode ser conferida aqui: http://www.renancalheiros.com.br/noticias/renan-promete-ajudar-prefeitos-eleitos-a-desenvolver-suas-cidades.html.

Mas, não é só isso que Renan Calheiros diz. “Sem que soubéssemos, Rui Palmeira viajou para a Austrália e lá ficou, alheio às obrigações e ganhando sem trabalhar. Até denúncia de Arthur Virgílio, hoje prefeito de Manaus, chegou ao meu conhecimento. Obriguei então o faltoso – disso tenho orgulho – a devolver o que havia embolsado, e documentei. Sem tabica e sem saco de dinheiro, que não são meus hábitos. Tenho nojo a violência, hipocrisia e inveja. Quem recorre à compra de votos e monta cadastros de eleitores é Rui Palmeira, não eu. Sabe disso muito bem quem esteve nas eleições de que ele participou”. A demora para responder é que é absurda. 

Agora, sobre isso aqui Rui Palmeira tem que falar, mesmo sendo uma acusação tardia: “Esses fatos são desconhecidos da população. Como ele esconde que dezenas de vezes – perdi a conta –, para ajudar Maceió, convoquei ministros para despachar com ele em meu gabinete. Mas Rui Palmeira é pródigo em propagar o que lhe convém. Lança mão diariamente dos veículos de comunicação de sua família (que incluem concessões públicas) para atacar adversários, detratando-os com adestrados nesse ofício sujo. Na vida aprendi mais com as derrotas do que com as vitórias. Na verdade, pouco se aprende com a vitória. Sobretudo quem é arrogante, presunçoso, deslumbrado e invejoso, como o prefeito Rui Palmeira”.

É verdade, senhor prefeito, que agiu com tamanha mesquinhez evitando ajuda de alguém só por conta de divergências políticas?

Diz Renan Calheiros: “Maceió contará comigo até o limite da minha capacidade de trabalho. Não faltarei à nossa bela, querida e necessitada capital, porque tenho olhos na carência extrema, na saúde, na educação, nas línguas pretas”. É uma de suas funções. Afinal, foi eleito também para isto. 

A nota de Renan Calheiros é tardia, em alguns momentos depõe contra o senador, mostra que os palanques seguirão montados até 2018, revela um Rui Palmeira que em a obrigação de responder ponto a ponto caso o senador esteja mentindo, e tem um tom de alguém que achava que estava isento do processo eleitoral de Maceió, quando não estava, pois era o seu partido que comandava a disputa.

Ah, e as críticas de Rui Palmeira ao senador Renan Calheiros - quando falou em dinheiro na mão e tabica - são falácias também. Afinal, basta pesquisar no Google para observar a quantidade de vezes em que Rui Palmeira se reuniu com Calheiros, elogiou o senador e buscou apoio. Em uma delas disse o seguinte: “É importante o prestigio do presidente Renan para conseguirmos essa liberação. Falta tão pouco para a conclusão e precisamos desse recurso para encerrar essa obra que será um ganho para toda a população de Maceió”. Viram a palavra prestígio aí, não é? Vejam a íntegra aqui: http://www.renancalheiros.com.br/noticias/prefeito-de-maceio-visita-renan.html.

Então, Rui Palmeira não tem muito o que falar. Sobretudo porque já teve ligação muito próxima com o grupo com o qual se rivaliza hoje. 

Nunca faltou elogios e entendimentos de um lado para com o outro. Agora, devido a campanha, é que as frases são outras e os ataques surgem de lado a lado. É o que falei no início deste texto e em tantos outros sobre oposição política e projetos em Alagoas.