Uma polêmica se formou no dia de hoje, 26, envolvendo o deputado federal alagoano Pedro Vilela (PSDB) e uma atriz global que quis se mostrar detentora do “monopólio das virtudes”. Já fiz críticas a projetos de lei de Vilela e a algumas de suas posições que vão no sentido do discurso mais acovardado do “ninho tucano”, mas já o elogiei também diante de posições tomadas, como esta desta data. Vilela não perdeu tempo e reagiu a altura diante da frase preconceituosa da atriz Alexia Dechamps.
Em uma discussão sobre a regulamentação da Vaquejada (assunto para o qual não tenho opinião formada! Sim, eu assumo que não tenho opinião sobre muitas coisas e que busco estudar quando não a tenho. É o que venho fazendo, inclusive com estudos de impactos econômicos sobre o fim da Vaquejada e os discursos de maus-tratos de animais), Dechamps não se mostrou satisfeita apenas em ter sua visão de mundo, quis desqualificar os nordestinos por meio do ataque aos representantes do Estado ali presentes.
Claro, há representantes do Nordeste no Congresso Nacional que em nada representam o nosso povo, assim como há estes entre os sulistas e os nortistas. Afinal, são indivíduos. Mas vejam a fala absurda da atriz: “calem a boca que eu já pago o Bolsa Família para o Nordeste”.
Além de mostrar desprezo pelos nordestinos, a atriz ainda se sente superior aos que recebem o Bolsa Família. Ora, a maioria destas pessoas - a exceção são as fraudes existentes no programa, infelizmente - é gente em situação de vulnerabilidade e a ação do Bolsa Família, com a qual concordo, é uma forma do Estado buscar inseri-los na atividade econômica, dando oportunidades por meios que garantam liberdade e dignidade, sem deixá-los presos ao Estado, recebendo “cestas básicas” como esmolas.
O programa, por sinal, é inspirado nas ideias do economista liberal Milton Friedman - em seu livro Livre Para Escolher (se há dúvidas, procurem a obra e leiam. É o capítulo onde ele fala dos vouchers) - que pontua a necessidade do Estado olhar para estas pessoas e ajudá-los com uma contrapartida que eleve as futuras gerações, uma vez que os em situação de vulnerabilidade agora ganham um impulso que pode servir de estímulo parta deixarem uma herança melhor a seus filhos.
Há erros no Bolsa Família? Sim! Os critérios da contrapartida podem ser questionados, uma vez que o programa só aumenta deixando a população mais dependente. O efeito deveria ser inverso. Mas estas são críticas que visam a correção do programa, jamais o seu fim.
Além disto, não podemos olhar para estas pessoas - sejam nordestinas ou não - com um ar de superioridade em função de ocuparmos algum status, qualquer que seja ele. Pois são pessoas lutadoras. Pessoas que buscam a sobrevivência em um país tão desigual e que só aprofunda distâncias sociais que finge combater por meio de pueris discursos ideológicos. Devemos ser solidários com estas pessoas.
Quanto aos nordestinos, são importantíssimos para a economia do país. O Brasil como um todo deve muito aos nordestinos, bem como a imigrantes. Sua construção e seu desenvolvimento não seria possível sem o Nordeste, tanto no aspecto econômico, quanto no social e político. Eu me orgulho, por exemplo, de ser da terra de Graciliano Ramos (mesmo tendo divergências políticas com os posicionamentos do mestre); orgulho-me de ser da terra de Tavares Bastos e da região de Ariano Suassuna, dentre tantos outros que são dignos de reverência.
Assim como me orgulho de muitos sulistas e nortistas deste país. É gente que me faz ter fé neste país apesar do caos no qual ele se encontra. Poderia passar o texto todo citando nomes como os de Moacir Scliar, Mário Ferreira, Gustavo Corção, enfim...tantos. Poderia citar até mesmo os estrangeiros que se apaixonaram por nossa terra e enxergaram a nossa essência melhor que muitos de nós, como é o caso de Otto Maria Carpeaux.
Portanto, é de se parabenizar a postura combativa de Pedro Vilela que saiu em defesa da região e denunciou a falácia da atriz que, naquela declaração, quis botar banca de superioridade abandonando de vez os argumentos. Que as pessoas deste país - sejam nordestinas ou não! - nunca calem a boca diante destas “poses intelectualóides” dos que se acham iluminados. Que tenhamos sempre voz para concordar ou discordar do que quer que seja e que aprendamos a ter maturidade para lutar pelo que acreditamos com base em argumentos e não em posturas agressivas de quem se vê com o “monopólio das virtudes”.
Se Dechamps tinha algum argumento para defender a sua posição, estes morreram por completo diante de sua postura arrogante. Eis a frase de Vilela: “A convidada Alexia Dechamps teve uma postura inapropriada e repulsiva. Ela desrespeitou um povo que muito trabalha para o crescimento do Brasil. Não podemos admitir nenhum tipo de preconceito, seja ele qual for. Enquanto parlamentar e nordestino já estou tomando as medidas judiciais cabíveis. Exigimos punição exemplar a essa senhora e a qualquer outra pessoa que tenha comportamento semelhante”.
Que a ação de Pedro Vilela seja levada adiante para servir de exemplo. Afinal episódios como estes já foram assistidos por brasileiros. Sempre ao final de cada eleição, surgem os xenófobos para acusar o Nordeste disso ou daquilo outro. Que lembremos a eles que isto é crime e que eles respondam por seus atos.
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