Não sou admirador de Bertrand Russell, mas o leio. Já fiz até texto criticando uma de suas visões em A História da Filosofia Ocidental. Todavia, há uma reflexão que ele faz que me parece certeira.
Russell diz que quando você sente raiva de alguém pelo simples fato desta pessoa possuir uma visão contrária a sua é que você começa a dar sinais, ainda que inconscientemente, da ciência das suas falsas razões para acreditar no que acredita. Então, sobra apenas o grito, o ódio e a imposição de seu pensamento por todos os meios possíveis: da censura ao extermínio do adversário.
Bertrand Russell ainda coloca que quando você está diante de alguém que professa algo que você entende ser inteiramente ilógico, como a soma de um mais um ser cinco, você busca corrigir respeitando o outro, sente até pena da visão limitada alheia por ela achar que o burro é você.
Por isto que o filósofo conclui que, na selvageria, dos lados que adentram o campo do ódio, acabam os dois sem qualquer tipo de razão ou sem ter o que mostrar. Uma das consequências da raiva é você abandonar a você mesmo para ser uma máquina de puro ódio e combate contra aquilo que você odeia. A obsessão toma conta do teu ser por inteiro e aí, em muito pouco tempo, você perde a inteligência e nem nota o que perdeu.
Nisto, Russell está coberto de razão. E aprendi isto com um filósofo do qual divirjo por várias obras, inclusive a Porque Não Sou Cristão. É que sempre fui capaz de aprender e reconhecer os pontos fortes de opostos no campo de ideias, como ocorre com a admiração que tenho por Bauman e o respeito que tenho por Tony Judt.
Infelizmente, em nosso país, estamos vivendo tempos de louvores a uma imbecilidade que se sente superior e corajosa porque aprendeu a gritar. A verdadeira coragem está em se manter sereno nas tempestades e equilibrado para ponderar as coisas, e se manter de pé com o que há de melhor no fato de ser humano, mantendo a centralidade da psique, demonstrando por A mais B porque se acredita no que se acredita, ainda que poucos ouçam.
Cuidado com o que te alimenta e com o que alimenta as tuas opiniões. Não raro, em nome da razão que alguns acham que possuem, estes acabam virando cães raivosos sem razão alguma, mas apenas com a baba a escorrer a espera de quem eles acham ser uma vítima indefesa. Só que esta pessoa de indefesa não tem nada, pois ela guarda em si o dom que estes seres brutais fizeram questão de perder: a inteligência e a posse de si mesma, sabendo ela quem é e sem ter a necessidade que ninguém a diga ou as encaminhe para confrontos que não são os seus, mas os de idiotas úteis.
Se você chegou até aqui nesse texto, após o preâmbulo feito, vou ao fato: o professor Rodrigo Jungmann, que não é um homem de esquerda, mas um conservador em sentido filosófico, foi convidado para debater em uma universidade. De lá, foi expulso sobre os gritos de uma horda em função da discordância que esta tinha com ele. Vejam: não se trata de um corrupto, de um torturador, de um bandido, mas sim de um professor universitário conceituado, extremamente estudioso e que cumpre a sua função: dar aulas e ganhar seu dinheiro honestamente. Na atividade docente, respeita todos os pré-requisitos desta e ainda oferta aos seus alunos – e os não-alunos, pelo trabalho que faz nas redes sociais – uma vasta bibliografia interessantíssima de obras que não chegam ao país. Mas nada disto importa para quem aprendeu a simplesmente odiar quem pensa de forma diferente.
Por esta razão, minha solidariedade ao professo Rodrigo Jungmann, assim como sou solidário a toda e qualquer pessoa, quando esta é vítima de uma patrulha violenta em função do que pensa. E digo isto independente da pessoa concordar comigo ou não. Não é a primeira vez que ele é vítima disto em ambientes onde simplesmente ele professa o que acredita e mostra os motivos pelos quais crê nos valores que professa.
O professor Rodrigo Jungman sempre foi extremamente claro em seus pensamentos, algumas com doses de sacarmos, de humor, outras mostrando obras que sustentam suas posições e sempre citando as fontes primárias, inclusive com os escritos na língua original.
Jungmann nunca falsificou qualquer fonte que seja. Não é aluno - apesar de ser leitor - de Olavo de Carvalho, quiçá discípulo como fez uma nota de uma instituição sindical reverberando o ódio e o chamando de fascista. O detalhe é que o fascismo é a defesa do poder centralizado pro meio do Estado determinando o que o individuo deve ser ou pensar. Em outras palavras: tudo pelo Estado, para o Estado e com o Estado. Quem acompanha Jungmann sabe que ele defende o contrário disto e luta por liberdades individuais, inclusive a liberdade de divergirem dele. E sua posição política de apoio a quem quer que seja é um direito dele. Tenho orgulho de ter o professor em minhas redes sociais, assim como me orgulho de pessoas que pensam o contrário, mas que sempre foram respeitosas e entendem o que é um campo das ideias.
Já denunciei aqui atos absurdos feitos em universidades por pessoas que não são de esquerda, mas que agem pautadas por uma paixão juvenil, pueril, e descambam para o absurdo na tentativa de impor o que pensam.
Já abri espaços, nos meios de que ocupo, para que pessoas que divergem de mim pudessem expor seus pontos de vistas. Pois entendo o que é o campo de ideias e tenho um respeito enorme por todo e qualquer ser humano pelo simples fato dele ser humano.
Agora, é intolerável certas manifestações de intolerância. O professor está corretíssimo de recorrer às vias judiciais. Meu caro professor, siga travando o bom combate.
Estou no twitter: @lulavilar