Quem me campanha neste blog sabe que já teci elogios às posturas da cúpula da Segurança Pública do Estado de Alagoas. Vejo que a pasta conseguiu resultados positivos desde o início do governo, mas que é difícil a ação de “enxugar gelo”, já que cabe a esta pasta a repressão e a ostensividade. Segurança se faz com uma série de ações integradas e não apenas com as ações policiais. Muitas vezes estas são as únicas que funcionam. É o último socorro. Por isto respeito demais estes profissionais que vão às ruas todos os dias em condições adversas. 

Combater a criminalidade envolve diversos fatores como as questões culturais, a Educação, o uso das tecnologias, enfim...é o que se chama de políticas preventivas.

Dentro de um contexto de um país com a média de 60 mil homicídios por ano, o problema se torna ainda mais difícil por não ser apenas local. Fora isto, ainda há discursos por aí de glamourização da bandidagem e de relativização do caos. Tudo isto é terrível. Em Alagoas, o governo atual assumiu a gestão do Estado mais violento do país, com uma capital com números assustadores. Então, nem os resultados por mais positivos que sejam, por mais que mereçam o reconhecimento, trazem tranquilidade e ainda há muito para fazer. Não será a Segurança Pública sozinha a detentora da solução mágica. 

Porém, a pasta acertou mais que errou nestes quase dois anos de governo. Os números mostram isto. Falava isto sobre a gestão do ex-secretário de Segurança Pública, Alfredo Gaspar de Mendonça, mesmo alertando para o ato ilegal de sua nomeação. Quanto a isto, o que eu falava antes foi confirmado posteriormente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O atual secretário - coronel Lima Júnior - também assumiu esta postura combativa, de motivar a tropa, de estar ao lado dela no confronto com a bandidagem. Claro que houve casos polêmicos e há policiais que não são dignos da tropa e tentam atuar como justiceiros. Estes merecem o mesmo destino dos bandidos: cadeia. Policiais assim desonram a tropa. Mas, no confronto entre polícia e bandido, sempre estarei ao lado do policial. 

Agora, a mais recente declaração do secretário, dada à Gazeta de Alagoas em uma reportagem de Regina Carvalho, após o fim de semana caótico que a capital alagoana vivenciou é extremamente infeliz. Diante de um cenário que envolveu incêndio a ônibus, ações orquestradas de dentro do presídio, aumento do clima de insegurança, empresas de ônibus suspendendo os serviços, o direito de ir e vir do cidadão sendo atacado, e a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) solicitando escoltas para os coletivos e o próprio secretário atribuindo a responsabilidade à Guarda Municipal, não é cabível que o titular da pasta diga que “não há motivos para a polêmica”, como se quisesse pontuar que tudo está sob controle. 

Pelo que vimos nos jornais é justamente esta a pergunta a ser feita: como está tudo sob controle, senhor secretário, se em um fim de semana bandidos resolveram tocar o terror e mandar na cidade, mesmo estando eles dentro do sistema penitenciário? Isto é polêmico por si só e não podemos enxergar como natural, por mais que estes casos ocorram pelo país afora e já não chamem mais a atenção de muitos diante das sucessões de acontecimentos. Há razões para a celeuma, infelizmente. Ainda mais quando os ataques são sistematizados e não fatos isolados.

E não é a primeira vez que isto ocorre em Maceió.

Não podemos jamais nos acostumar com isto e a indignação causa polêmica por si só. Repito: foram ataques à ônibus sendo orientados de dentro do presídio, um bairro com a população amedrontada, coletivos incendiados, casos que aumentam ainda mais a sensação de insegurança em uma cidade que é reconhecida pelo alto número de homicídios e fica em um dos Estados mais violentos do país. A SMTT demonstrando claramente o medo e pedindo que guarnições da PM escoltem ônibus. Os chamados corujões - que circulam depois das 22 horas - só retornando às ruas agora. Ou seja: antes de retornarem à circulação a população tinha perdido a opção de ir e vir diante da ação ordenada dos bandidos que - naquele momento - mandou mais na cidade do que o prefeito. É como se os criminosos estivessem livres, leves e soltos, mas nós não: estamos reféns.

Isto sem contar com o que ocorreu no Clima Bom, bairro da parte alta de Maceió.

Mas aí o secretário de Segurança Pública do Estado de Alagoas, coronel Lima Júnior, resolve dar a seguinte declaração: "Não sei o porquê da polêmica. Queimaram um ônibus na sexta-feira, nós prendemos Tivemos uma invasão de uma empresa, fomos nessa empresa e nem circuito de fechado de TV tem, não tem segurança. A inteligência foi de imediato. Teve uma tentativa domingo à noite".

Prestem atenção nesta declaração!

Se o descrito é uma situação de “normalidade” - sem polêmica a ser feita - que não merece questionamentos por parte da imprensa e da população, levantando o que o secretário parece considerar "celeuma", eu juro que não mais sei o que é. Sei que parece normal - diante da quantidade de vezes que acontece neste país - que bandidos em um presídio comandem ataques na cidade prejudicando as pessoas que estão livres, deixando-as sem transporte e causando prejuízos a empresas...mas isto não é NORMAL. É polêmico por si só!!!!! Pois os questionamentos nascem do medo e da sensação de insegurança. É normal que se busque respostas do Estado, já que só ele e os bandidos possuem o monopólio sobre as armas. E é natural que a população questione onde está a segurança pública neste momento.

Mas, vou além: o secretário ainda lamenta profundamente que uma empresa invadida não tenha circuito de TV fechado e não tenha segurança. Não se pode criar desculpas para minimizar a ação da bandidagem. Caso contrário daqui a pouco vai virar o que virou o "não reaja!". Sabe quando um criminoso mata alguém e dá a desculpa de que a vítima reagiu e isso fica parecendo um atenuante do crime ou uma justificativa? Imagine ladrões sendo presos e dizendo, com apoio nas falas oficiais da segurança pública: "mas também, ele não tinha circuito de TV, nem segurança".

Agora, falamos de não ter SEGURANÇA nos estabelecimentos privados. Vejam, quantos são os empresários - nesta crise - que conseguem manter uma vigilância 24 horas em suas empresas, com homens armados lá, a espera da hora que o bandido vá assaltar? Fora os custos de outros equipamentos tecnológicos. Em épocas de crise, com mais de 11 milhões de desempregados, acho que só as empresas mais ricas e mais estruturadas mesmo. As demais, fazem como podem. E aqui, mais uma vez os MAIS POBRES deste país SÃO OS MAIS PREJUDICADOS. Logo, ainda que ao falar isto se fale de uma empresa rica que negligenciou algo necessário aos dias atuais, não se pode generalizar ou usar como justificativa. No mais, foi o próprio Estado que tirou deles o direito a uma arma de fogo para defenderem suas famílias e seus patrimônios.

Se a inteligência foi de imediato, senhor secretário, me parece que ela esqueceu de voltar...

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