Recentemente, nas redes sociais, debati sobre a questão do combate às armas de brinquedo. O assunto foi levantado por conta de uma campanha da Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev) que versa sobre o “Desarmamento infantil”. O escritor Bene Barbosa - autor de Mentiram Para Mim sobre o Desarmamento - também tocou no assunto em seu blog. 

Eis que resolvi também trazer o assunto para este meu espaço. Todavia, abordarei por um outro ângulo. Afinal, os outros pontos foram muito bem debatidos por Bene Barbosa e pode ser lido aqui: http://www.cadaminuto.com.br/noticia/293966/2016/10/14/alagoas-no-estado-mais-violento-do-pais-o-inimigo-agora-sao-as-armas-de-brinquedo

Nos últimos dias, eis que me dediquei a leitura de Aprendizagem Social e Comportamentos Agressivo e Lúdico de Meninos Pré-escolares dos autores especialistas no assunto Timoteo Madaleno Vieira, Francisco Dyonisio C. Mendes e Leonardo Conceição Guimarães.

Lá mostra algo que disse em meus textos aqui: um lar desestruturado, com abusos sofridos por crianças, com comportamentos agressivos por parte dos pais, com estas crianças sendo expostas a contexto que estimulem a violência e acesso à material inadequado para suas idades, é o que gera uma dissociação no campo de valores morais e pode resultar em pessoas agressivas. Então, temos que trabalhar para estimular a correção disto e não para dizer que brinquedos uma criança pode ter ou não, ferindo mais uma vez as liberdades individuais e dando ao Estado um papel que ele não tem: interferir nos valores e na criação familiar. 

O mesmo estudo pontua que "Meninos que relataram brincar com armas de brinquedo em casa não apresentaram mais agressões reais do que os que relataram o contrário:. Quando demonstram tal comportamento o fazem dentro de um universo do "faz-de-conta". Ou seja: na brincadeira e reconhecendo que é parte da brincadeira. Como quando nós,meninos, brincávamos de Karatê Kid, por exemplo.

"Apesar de inevitável, a expressão da agressividade depende de uma série de fatores ambientais durante o desenvolvimento do indivíduo. Estudar como comportamentos agressivos são aprendidos e mantidos na infância é fundamental não apenas para a compreensão teórica do fenômeno, como também para sua prevenção", destaca os autores. Numa compreensão que deve ser levada em conta: a agressividade é uma característica inerente à complexidade humana que não será extinta, mas trabalhada no sentido da prevenção conjugando diversos fatores. Entre estes, a importância de uma cultura elevada que ensine crianças a distinguirem o certo do errado. E isto independe delas terem armas de brinquedo ou não, pois são fatores conjugados que levam a isto, reitero. Aliás, não sou eu que reitera, mas os especialistas.

O estudo segue: "Dos sete participantes que não agrediram ninguém durante a maioria das sessões, três relataram punição e nenhum indicou haver brigas entre adultos em suas casas. Em contraste, todos os oitos participantes que agrediram na maioria das sessões disseram ser punidos freqüentemente em casa e sete admitiram vivenciar brigas entre adultos (...) Assistir a muitos programas violentos (mais do que três) também mostrou dependência com geralmente agredir ou não durante as sessões (...) O padrão foi inverso, embora de forma não significativa, para o fator “arma de brinquedo,” com mais participantes que geralmente não agrediram durante as sessões indicando a presença deste fator em suas casas".

Ou seja: sempre o ambiente do lar é o FATOR PRINCIPAL. O que quer dizer que a influência está nos valores com os quais as crianças lidam em seus cotidianos. Uma boa base de valores mostra que tudo mais é inofensivo e a criança reconhece o que é cada coisa em seu devido lugar.

Mas, como há uma tendência natural a culpar objetos, ainda assim os pesquisadores informam: "Seria interessante comparar mais dados de estudos especificamente sobre a relação entre TV e comportamento agressivo em diversas nacionalidades e culturas". Que a televisão influencia, eu não tenho dúvida. A questão é quanto, como e de que forma, pois também há a necessidade de fatores conjugados.

O que os pesquisadores concluem com precisão é que a agressão física sofrida por crianças reproduzem comportamentos agressivos. Por isto se afirma que "A arma de brinquedo, sozinha, pode não ser um fator significativo".

E diz mais, quando há um conjunto de valores sadios, as crianças compreendem isto intuitivamente. Tanto que "no contexto de brincadeira turbulenta não é comum o surgimento de conflitos significativos, sendo mais freqüente o uso de soluções pacíficas". Mas mesmo assim, sempre quando se fala da influência de objetos, os pesquisadores são claros: "mais dados são necessários para que sejam possíveis conclusões mais precisas".

Então veja, temos um estudo relativamente honesto que indica que os objetos em si são inofensivos em uma sociedade sadia, pois o que sobressai é o conjunto de valores e a forma como educamos as nossas crianças. Afirma que a maior influência estão nos ambientes que fazem da violência uma prática cotidiana. Mais uma vez o mal são as pessoas más e a influência de objetos X ou Y para o agravamento disto é algo para o qual não se pode ter conclusão específica. É óbvio que não. Pois quando há o estímulo à violência e a propagação do ódio até mãos e pés viram armas letais.

Por isto que digo que o foco é o resgate de alta cultura e a promoção de valores sadios e não a briga com objetos, culpando-os por tudo como as manchetes que trazem diariamente que "ARMAS MATAM" ou "CARRO PASSA ATIRANDO". Quem faz isso são pessoas que devem ser punidas por seus atos de crueldade.

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