Criou-se uma polêmica em relação à eleição de Lobão (PR) para a Câmara Municipal de Maceió. Quem acompanha os bastidores, já sabia da chance de vitória em função das pesquisas de intenção de votos. Ainda assim, Lobão surpreendeu não apenas por ser o mais votado, mas por ter alcançado mais de 24 mil votos. Um resultado expressivo.
Lobão é uma figura folclórica por conta das produções de baixo custo de filmes pornográficos e pelo rock da banda Cheiro de Calcinha, com suas letras humoradas de conteúdo apelativo. Porém, possui um trabalho na comunidade a que é ligado e vive buscando - por meio do assistencialismo - ajudar a população. Lobão era sempre visto no “parlamento-mirim” e em alguns espaços da Prefeitura Municipal encampando pleitos. O que é justo e já é mais do que o que muitos políticos fazem.
Ele já tinha sido candidato e mostrado potencial eleitoral. Por esta razão, foi convidado pelo ministro dos Transportes Maurício Quintella a entrar no PR. Uma estratégia para ajudar na contabilidade eleitoral para eleger ele mesmo (Lobão) e outros candidatos. É do jogo político e já falei isto aqui em outra postagem.
Agora, a maior parte da polêmica - levando em consideração o seu lado folclórico - se dá justamente em relação ao preparo de Lobão para o cargo. Bem, despreparo por despreparo, as casas legislativas municipais pelo Brasil afora já dão belos exemplos disto. Na Câmara de Deputados e no Senado Federal não é diferente. Então, a desconfiança é natural e nada tem de preconceito. Já disse em minhas redes sociais: não tenho preconceito nem conceito sobre Lobão. Espero que ele se comprometa a fazer um bom mandato. Não vire fantoche nas mãos de poderosos, busque o caminho do estudo e leve à tribuna boas pautas. Afinal, este é o meu desejo em relação a todos os vereadores eleitos.
O que ele fizer na Câmara estará sujeito às críticas e aos elogios como acontece com todo e qualquer político. Político é bicho para ser vigiado e, como já dizia o ditado, trocado pelo mesmo motivo que se trocam as fraldas de bebês. E aí tanto faz se é um Lobão ou um doutor em astrofísica, intelectual de plantão e por aí vai...
Todavia, é um absurdo que as pessoas que simplesmente externam as suas desconfianças em relação ao vereador eleito já sejam taxadas de preconceituosas. Há os preconceituosos, mas não são todos. Além disto, há o fato da eleição de Lobão render piadas diante do inusitado. Foi assim com Tiririca (PR) quando se tornou deputado federal. É sempre assim quando alguns personagens participam da política. Foi o caso do ator Alexandre Frota quando se reuniu com o Ministro da Educação. Frota foi criticado por ser um ator pornô querendo fazer política. E foi criticado por muita gente que hoje elogia Lobão.
Então, menos “mimimimi” e mais compreensão de que existem pessoas que estão sim preocupadas com o nível de discussões do parlamento-mirim cobrando preparo dos vereadores para os cargos, existem os que não perdem a piada e os que possuem torcem o nariz com ar de superioridade, mas votam em todo tipo de corrupto de plantão. Simples assim. Ao Lobão, cabe buscar responder tais críticas com trabalho e surpreender. Torço para que faça isto.
No mais, divido com vocês um texto do professor e articulista Yuri Brandão sobre o assunto. Ele foi cirúrgico em muitos pontos, inclusive ao lembrar os apoios que Lobão teve.
FALSOS CORDEIRINHOS COMENDO O LOBÃO, QUE TAMBÉM É NUTRIDO POR ALGUNS LOBOS EM PELE DE CORDEIRO
Anivaldo Luís Silva, mais conhecido em Maceió como Lobão, é uma figura exótica: roqueiro, produtor de filme pornô (já foi entrevistado de forma inesperada por Danilo Gentili anos atrás), dono de uma banda chamada "Cheiro de Calcinha" e líder comunitário. Já disputara as eleições em 2010, para deputado estadual, com o apoio da Katia Born Ribeiro; em 2012, para vereador, ficou na segunda suplência; em 2014, novamente para deputado estadual, obteve mais de 14 mil votos e conquistou a suplência; agora, no pleito de ontem, pelo PR do atual ministro dos Transportes Maurício Quintella Lessa, recebeu quase 25 mil votos, sagrou-se no primeiro lugar e deixou a segunda colocação a uma distância de mais ou menos 10 mil votos. Nesse contexto, está mais do que credenciado para tentar a Assembleia Legislativa em 2018.
Isso posto, o alarido está sendo grande, porque afinal a eleição com enorme folga de Lobão seria o retrato daquilo que somos como povo. É verdade que o Legislativo espelha, em boa parte, os valores e os anseios da sociedade; afinal, os parlamentares não são eleitos por alienígenas, nem caem de paraquedas ali. Em certa medida, cada comunidade tem o que merece, ou pelo menos deixa de ter o que poderia fazer por merecer. O Lobão não me representa em nada, embora deva pontualmente apoiar ideias com as quais comungo e tenha iniciativas que julgo louváveis. O que vai no seu coração, só Deus o sabe; mas não eram os outros candidatos que, numa das enchentes, estavam a ajudar diretamente tantas pessoas pobres e angustiadas, cuja esperança havia se desesperado em meio a tantas esperas frustradas. Se o estilo mudará? É possível. Se a aparente sinceridade dos seus atos comunitários revelará oportunismo? Não sei. O tempo que nos responda e o povo que julgue nas urnas.
O que eu sei, isto sim, é que muitos críticos do Lobão são apoiadores de corruptos contumazes ou de pessoas que fizeram da política uma herança familiar. Não suporto demagogia e hipocrisia. Não, não sou advogado do Sr. Lobão, mas pense antes de querer ser juiz dele. O que você faz, de fato, pela sua comunidade? A quantos filmes pornôs você já assistiu ou assiste, ao mesmo tempo que condena o fato de ele trabalhar com produtos dessa natureza? Se debocha do nome e do gênero musical da banda dele ("Cheiro de Calcinha"), então por que diabos investe em ingressos caros para prestigiar bandas como "Calcinha Preta" e tantas outras com letras miseráveis e de vil duplo sentido? Note que o propósito da postagem é chamá-lo à reflexão, e não colaborar com o excesso de relativismo e o multiculturalismo.
Eu jamais votaria num candidato como o Lobão, porém por razões que não servem aos eleitores daqueles que são lobos em pele de cordeiro. O discurso bonito dos velhos políticos não me encanta, muito menos se estiver assentado no cinismo e na apropriação de ONGs que alimentam o assistencialismo barato de uma elite política míope e miúda. Já quando quase 25 mil pessoas votam num novato "estranho" como o Lobão, nessa votação tem de tudo: protesto, seguidor, analfabeto político, favorecidos, amigos, etc. Parem de romantizar a política, pois quem se veste bem, frequenta rodas elitizadas (não raro, demasiadamente fúteis), defende o aborto, a ideologia de gênero e quejandos não é melhor do que o Lobão. E há ainda uma agravante: levando-se em conta o grau de instrução da classe média e da elite alagoanas, ou pelo menos a possibilidade de acesso à instrução, a crítica ao Lobão só se torna mais ridícula (não porque ele não mereça certas críticas, senão porque vários críticos não têm condições morais de sê-lo).
Então ninguém se acha em condições de criticar o Lobão? Não foi o que eu afirmei. Ele pode e deve ser criticado, mas que se proceda a ponderações ideológicas e com base em fatos. É possível rejeitar a sua atividade na pornografia; é possível não apoiá-lo por não ser um representante dos valores cristãos e católicos; é possível rechaçar sua (provável) leitura de que a "cultura da periferia" pode rivalizar com a alta cultura; é possível opor-se ao fato de que uma pessoa sem entendimento suficiente das leis e sem uma mínima formação intelectual substantiva passará a legislar em nossa cidade sobre matérias da maior relevância, etc. Mas não é possível pregá-lo na cruz devido ao estereótipo físico e social. Não caiam nessa idiotice.
Além disso, creio que parte da população começa a valorizar, cada vez mais, o candidato da prática, e não o do discurso pasteurizado. Sem excluir a contribuição do patrocínio de caciques (afinal, Lobão foi apoiado pelo Rui Palmeira e pelo Mauricio Quintella Lessa), a mim me parece haver um ingrediente necessário, mas historicamente de cariz populista: a necessidade imediata, concreta, visível do cidadão: desde um banheiro público numa praça, passando por uma lombada ou por um semáforo em regiões populosas, até a organização de pontos de ônibus numa rua para lá de movimentada e caótica. Se tudo isso pode parecer banal a quem só anda de carro e mora em bairros privilegiados, ganha relevância para tantas outras pessoas.
Sim, é óbvio que esse serviço local não substitui temas como saúde, segurança, educação, cultura, nem se sobrepõe a eles. Também não me parece mais importante do que combater a ideologia de gênero e a doutrinação ou a hegemonia esquerdista nas escolas e na mídia, o que causa um estrago abrangente, profundo e duradouro ou mesmo definitivo. Todavia, daí a desprezar aqueles serviços locais do Lobão, vai um abismo. E parte da população entendeu, nas urnas, que deve haver esse tipo de representação na Câmara Municipal de Maceió. Se esse entendimento decorre, também, dos efeitos da destruição da alta cultura no Brasil, então que o combate a eles se dê a médio e a longo prazos, nos jornais, nas editoras, nas escolas, na Igreja, aqui nas redes sociais. Que a política partidária seja apenas um meio de canalização das demandas já postas noutras esferas da sociedade. Aí a história é outra, a qual nada tem a ver com o raciocínio de dois neurônios: um contra e outro a favor.
Por ora é isso.
O texto de Yuri Brandão é - repito - cirúrgico. Traduz muito do que eu penso e foge às discussões rasas sobre uma “polêmica”.
Estou no twitter: @lulavilar