Sem entrar no mérito das propostas do candidato do PSOL, pois quem me acompanha sabe que discordo de muitas delas, é preciso se reconhecer: Gustavo Pessoa - que disputa a cadeira de Prefeito de Maceió - se saiu bem no debate. Pessoa acertou no tom provocativo, sem perder a calma, e ao mesmo tempo conseguiu passar claramente algumas de suas ideias, sem gaguejar.

É claro que, no mérito, as discordâncias são profundas. Defendo ideias que Pessoa não defende, como por exemplo, maior liberdade de mercado, redução efetiva da máquina pública, desregulação de setores econômicos, privatizações, valores que estão presentes no conservadorismo filosófico, como valores judaico-cristãos, etc. Todavia, reconheço e acho vital ao bom debate político quando alguém se centra realmente no que pensa e busca passar isto ao eleitor. O resto é com o eleitor, como manda a boa democracia.

Além disto, acho extremamente necessário que tenhamos sempre um debate entre todas as ideias que possam estar presentes em um espectro político. Quem dera uma democracia amadurecida onde tivéssemos realmente a esquerda e a direita. Esta última sendo representada por liberais, conservadores, enfim...ou até mesmo aqueles que se julgam para além deste espectro e se apresentam como “terceira via”. Assim, o eleitor que analise as ideias, os argumentos, e julgue quais fazem sentido e quais não. Hegemonia de ideias é sempre um mal.

Outro ponto de um debate é o seguinte: as biografias dos candidatos pesam. Com isto, os rivais - o que é legítimo do jogo político - questionam passagens da vida de um político para expô-los ao público. Pessoa pode fazer isto, por exemplo, com João Henrique Caldas, o JHC (PSB), sem sair do tom. Questionou o questionável e reconheceu que JHC cumpriu um mandato importante na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, o que é inegável. Sem JHC, não teria sido aberto a “caixa-preta” da legislatura passada. 

Como quem pergunta o que quer ouve o que não quer (e isto também é legítimo), JHC acusou Gustavo Pessoa de ser “laranja” e “nazista”. Acusações pesadas. Pessoa pediu direito de resposta e, sem perder o controle, rebateu ao falar que não é nazista. Não achei a resposta das melhores, mas conseguiu se desvincular da acusação com facilidade. Pessoa não é nazista. A acusação é absurda. Ele defende ideias de esquerda que apontam para o socialismo. É o conteúdo programático de seu partido. Como eu vejo toda experiência socialista como um fracasso total para a população, gerando uma casta política hegemônica, como ocorre em Cuba, Venezuela, enfim... e nos casos mais graves, as tragédias dos regimes comunistas e seus milhões de mortos, vejo a economia liberal como melhor opção, como nos mostram os rankings que comparam os índices de liberdade econômica aos de desenvolvimento social. 

Por conta disto, que tenho enormes divergências em relação às ideias que são abrigadas pelo PSOL. Mas, reconheço a forma franca com que Pessoa dialoga e a capacidade que tem de fazer críticas inclusive a própria esquerda, se opondo - ao menos no que já vi em algumas de suas posturas - a todo e qualquer totalitarismo e reconhecendo a importância do debate. Tais críticas - por exemplo - vão estar presentes no bate-papo que tive com Pessoa, nas sabatinas do CadaMinuto que em breve irão ao ar.

Pessoa levou isto o debate televisivo da TV Mar e se saiu bem. Na postura, na linguagem escolhida, na clareza e no tom, foi superior aos adversários, que se atrapalharam e apostaram em um tom mais elevado na hora dos ataques.

Pessoa foi respeitoso com os rivais, mas ao mesmo tempo incisivo com as biografias ali presentes, tocando em pontos que eu também tocaria. Se os demais tivessem adotado a postura de Pessoa, mesmo com ideias diferentes, seria muito mais rico. E isto, como já disse, não significa excluir as provocações, as ironias, as indiretas, enfim...tudo aquilo que faz parte do jogo político. Não concordo com o mérito de muitas das ideias de Pessoa, mas fico feliz de que alguém se posicione em favor do debate sadio e no campo as ideias.

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