Em suas falas - ao se defender do processo de impeachment - a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) disse que não cometeu “estelionato eleitoral”, pois ninguém poderia prever a crise financeira que viria na sequência. Ou seja: após suas promessas de que tudo melhoraria no país, inclusive com energia elétrica de melhor qualidade e mais barata. Só neste ponto um fato: a energia elétrica aumentou assustadoramente adotando o sistema das bandeiras. 

Além disto, há muito que o governo havia descuidado da meta da inflação cujo centro era de 4,5%. Vale citar aqui o que fala o economista Mansueto Almeida na recente obra Finanças Públicas. Almeida coloca que a matriz da macroeconomia, mudada por volta de 2008, foi que incluiu o regime das metas inflacionárias - essenciais ao Brasil, sobretudo para melhorar a vida dos mais pobres - e o compromisso como superávit primário nas contas do governo. Ao mudar a matriz, o governo petista correu o risco sabendo muito bem o que fazia ao sair da ortodoxia econômica naquele momento para aproveitar a alta das commodities e assim surfar na onda ampliando os gastos públicos. 

O governo descuidou; o preço chegou! 

Como bem coloca Paulo Rebello de Castro - em O Mito do Governo Grátis - não há almoço grátis e uma hora a conta chega. A nova matriz - como frisa Mansueto Almeida - se caracterizou por “uma política monetária frouxa, que deixou de perseguir o centro da meta (da inflação); uma expansão de gastos sem cobertura de impostos, disfarçada por manobras contábeis e pedaladas fiscais; uma deterioração da qualidade da dívida do Tesouro, camuflada pela ampliação das operações compromissadas do Banco Central; e controle arbitrário dos preços de insumos essenciais, como petróleo, eletricidade e serviços públicos”. Ou seja: uma hora tais preços de insumos iam estourar, pois o governo não teria mais como segurá-lo.

Muitos foram os economistas que avisaram. Felipe Miranda escreveu muito sobre o assunto em O Fim do Brasil. Sabendo-se que, qualquer país, só tem como formas de financiar suas despesas a tributação, a dívida ou emissão de moeda, não é preciso ser gênio para trabalhar certas previsões. Não faltaram avisos. 

Mas, estes que cito estão em obras e ensaios. Logo, não são de pleno conhecimento popular. Dilma se aproveita disto para jogar no ar o seu discurso e culpa todo mundo, menos seu governo. 

Todavia, um caso se tornou emblemático em pleno processo eleitoral de 2014. Aí, é só puxar pela memória. Falo da demissão da ex-funcionária do Santander, a analista Sinara Plycarpo Figueiredo. Como mostra a história, perdeu o emprego por dizer a verdade. 

Figueiredo colocou que a reeleição da presidente Dilma tenderia a piorar a economia. E disse isto porque seu compromisso não era com a política, mas com os clientes de um banco que preza pela credibilidade para atrair carteiras e investimentos. Simples assim. Não por acaso, Sinara Policarpo Figueiredo obteve na Justiça o direito a receber uma indenização por danos morais. 

A decisão é da juíza do Trabalho de São Paulo, Lúcia Toledo Silva Pinto Rodrigues. Ela deve receber R$ 450 mil, mas como se trata de primeira instância, ainda cabe recurso. Portanto, a “bola de cristal” que faltou a Dilma Rousseff já rodava por aí. 

Eis um trecho da decisão: "A cronologia dos fatos e as particularidades do caso demonstram que o banco reclamado foi sim submisso às forças políticas ao demitir a reclamante. (...) Não merece qualquer amparo a tese defensiva de que o ato de demissão foi meramente jurídico e totalmente dissociado das opiniões políticas".

O que disse Figueiredo: que o cenário da reeleição de Dilma traria aumento de juros, câmbio desvalorizado e queda na bolsa, além da “deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos”. Não se trata de previsão, pois esta deterioração já vinha desde 2008, como mostra Mansueto Almeida e outros economistas, dentre os quais destacou Adolfo Sachsida. 

Mas, o Santander escolheu pedir desculpas e afirmou que o texto feriu diretriz interna. É Dilma, tem gente que tem bola de cristal por aí! Aproveitado a moda do Mais Mises, Menos Marx, eu digo: Mais Sinara, Menos Dilma!

Estou no twitter: @lulavilar