Na figura do homem-médio (ou homem-massa), apropriando-se de um conceito de José Ortega y Gasset, está centrado o futuro da humanidade. Este homem é o futuro da humanidade, ponto. Ele esteve no passado quando consolidou conquistas, ele está no presente ditando os rumos da História, ele será futuro. Creio que o livro de Gasset (A Rebelião das Massas) define muito bem isto.

Ora, por qual razão este é o futuro da humanidade? Por ser o guardião de um conjunto de valores (para o bem ou para o mal) que orientam práticas, ações e pensamentos. Esta é uma das mais importantes reflexões de A Rebelião das Massas, pois mostra uma "guerra cultural" para ganhar corações e mentes, por meio de ideias mastigadas que direcionam comportamentos.

Se o homem-médio é despido de passado e passa a crer em um paraíso na Terra, abriremos as portas do inferno.

Por vezes, a tarefa do "intelectual orgânico" é tornar ideias palatáveis sem revelar seus objetivos finais, conquistando o coração do homem-médio. Assim, faz com que homens comprem determinados conceitos sem compreender as agendas globais que os envolvem. Não por acaso, tais conceitos são defendidos pelos que se vendem de "isentos" em uma discussão ou debate filosófico, quando é debate!, pois muitas vezes nada mais é que uma "conversa de comadre" disfarçada por pouquíssimos pontos de divergências.

O intelectual orgânico busca desenvolver teses para a construção de uma consciência coletiva no campo dos valores. Um dos passos é - como denuncia George Orwell - a subversão da linguagem. Fala-se de liberdade ao mesmo tempo que, em uma completa paralaxe cognitiva, se defende ditaduras e imposições. Fala-se de "direitos humanos" ao mesmo tempo que em que se apoia regimes de perseguição e autoritarismo. Por aí vai. Assim, as piores ações são justificadas pela causa e é esta que serve para lavar as consciências individuais diante do mal praticado: "sim, matei, xinguei, agredi meu semelhante, mas foi por um bem maior!".

É desta forma que o homem-médio compra valores de uma determinada agenda ainda que repudie o objetivo final desta agenda. É por isto que, mesmo que estejamos em uma profunda crise econômica e política, ela NUNCA será maior que a crise moral sobre a qual precisamos nos debruçar.

E entender a importância de um norte moral não é "moralismo". O "moralismo" é - em geral - a falsa e medíocre forma de pregar estes valores como se o pregador fosse um salvador da pátria, quando pode ser um sepulcro caiado. O norte moral é a certeza de alguns valores como fundamentais para a construção do BEM. Todavia, cientes das falhas humanas sabemos que os que defendem tal norte também vão cair em contradição e por vezes praticar ações que ferem esta base. Mas, se tais valores forem fortes o suficiente, este mesmo homem terá sempre a noção de redenção, recuperação, perdão e reinício, ao invés de se vangloriar dos malfeitos como um prometeu liberto que justifica tudo que faz em nome de sua "liberdade plena".

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