Em Alagoas, durante um evento do PMDB (ocorrido na segunda-feira, dia 18), o senador Renan Calheiros (PMDB) evitou entrar em “bola dividida”. Não falou sobre a Operação Lava Jato e preferiu se afastar da polêmica do projeto de “abuso de autoridade”, que o colocou em rota de colisão com a Associação de Juízes Federais do Brasil (Ajufe).
Calheiros defendeu uma agenda positiva para o retorno dos trabalhos do Senado Federal. Vendeu a imagem do Senado como o que vai solucionar a crise diante da votação final do processo de impeachment da presidente Dilma Rouseff (PT): “o Senado é solução”.
Renan Calheiros sabe que não é bem assim. Alguns políticos - em especial os do PMDB - apostaram que a Lava Jato iria arrefecer diante do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Não foi o que ocorreu. A operação da Polícia Federal, que é a mais importante do país, ultrapassou a marca da 30ª fase justamente sem o PT no comando. Então, o alvo não é só o Partido dos Trabalhadores como alguns querem fazer crer. O próprio Renan Calheiros sabe quem também é alvo. É o que se observa nas gravações envolvendo o próprio Calheiros e outros peemedebistas como Romero Jucá.
Diante do cenário, a ideia do projeto de “abuso de autoridade”. Mais uma tentativa que não deve dar em absolutamente nada. O Congresso Nacional está longe da “pacificação” vendida pelo senador Renan Calheiros. Até mesmo a agenda que o presidente do Senado tenta emplacar, como sendo positiva à Casa, na busca por (na visão de Renan) resgatar o papel institucional e reduzir os desgastes oriundos das investigações tem encontrado resistência entre os líderes partidários.
Nos bastidores, líderes acusam de Renan Calheiros de não discutir pontos fundamentais da agenda. Há projetos que não são de comum acordo, nem há apoio de maioria. Um deles é justamente o que estabelece as punições para autoridades que cometerem abusos, que ainda depende de análise de uma comissão especial.
Há quem reclame que Renan Calheiros tenta impor sem sequer existir reunião sobre o assunto. Há quem veja Renan como um presidente tratando de interesses próprios, passando por cima das prerrogativas do cargo, uma vez que é alvo das investigações e o caldo pode engrossar. O segundo semestre, portanto, não terminou tão pacífico quanto Renan Calheiros anunciou em Alagoas. Não é bem assim, senador.
No dia 13 deste mês, um reflexo disto foi a reunião com líderes para tentar fechar acordo em torno de propostas, mas tudo foi deixado para o segundo semestre. Renan Calheiros - na reta final de seu mandato - não terá só o desafio do impeachment, mas também de construir uma pauta consensual. Calheiros tentou demonstrar que ela existe, mas não é verdade.
Além disto, é um ano eleitoral! Isto dificulta ainda mais as coisas. Calheiros minimiza esta situação e não trata de temas espinhosos, ainda mais quando está na “terrinha”. Aproveita que por aqui o tema eleições domina a pauta. O Senado retomará seus trabalhos no dia 2 de agosto.
Em Alagoas, Renan Calheiros elencou como a grande pauta do segundo semestre a necessidade de uma reforma política. É impressionante como, diante de toda e qualquer crise, este tema seja o rumo de discussões, mas nunca avance. O senador peemedebista ainda culpou a Câmara por isto. Disse que os deputados federais “pisaram na bola”. “O Senado votou as matérias fundamentais: clausula de barreiras, proibição da coligação proporcional e uma regra clara para o financiamento de campanha. Teremos mais dificuldades nestas eleições porque não há regra clara”.
Sobre a situação do país, Calheiros diz o óbvio: é um momento único da história. “Nós estamos, no Senado, buscando colaborar com uma saída. Os desdobramentos da crise passam pelo Senado. É o Senado que vai fazer o julgamento da presidente da República. Eu tenho procurado conversar com todo mundo. O Senado está pacificado. O Senado é a solução da crise”.
O presidente do PMDB não antecipou seu voto em relação ao impeachment. Sempre foi um dos aliados mais importantes do PT no processo. Desde o início. Foi aliado mesmo quando bancou de isento.
Este é Renan Calheiros: o discurso cirurgicamente pensando para não se comprometer com absolutamente nada, ou muito pouco, diante da crise política e, desta forma, manter a habilidade de mover as peças no xadrez pensando nas jogadas adiante. Renan Calheiros, o enxadrista.
Estou no twitter: @lulavilar