Na democracia temos que lidar com "vozes" e não com VOZ. Isto faz com que se tenha destaque discursos e ações que nem sempre possuem consistência ou algo que de fato mereça atenção, mas encontram, em virtude do inusitado, destaque e relevância. Porém, é preciso ser dito: ainda assim é melhor a democracia e sempre vou defender estas vozes. Que elas existiam e que sejam responsabilizadas, quando for o caso, pelo que falam. Afinal, como diz o Homem Aranha, “com grandes poderes, grandes responsabilidades”.

Por que digo isto? Bem, recentemente, nas redes sociais, surgiu mais uma polêmica envolvendo as eleições em Maceió: um palhaço com o nome artístico de Xilique de Cáprio montou um canal no Youtube para acompanhar as ações do prefeito Rui Palmeira (PSDB). Caracterizado de palhaço, ele vai às ruas com microfone e câmara para entrevistar o chefe do Executivo municipal. A clara tentativa de constranger o prefeito é visível.  

Inicialmente, é bom que se diga: o palhaço tem o direito de interpelar a figura do prefeito nestes eventos. A democracia permite. Não há anonimato, ele está identificado e responde pelo que faz. Logo, ele pode fazer o “humor” dele. Coloco o “humor” entre aspas, pois não vejo graça alguma. Eu acho tendencioso e tosco. Enfim, sem a mínima graça. Eu, prefeito fosse, tiraria por menos e também indagaria qual a real intenção do palhaço. Pronto, ponto final! 

Assisti os vídeos por curiosidade, diante da polêmica. No mais, alguma coisa me diz que tem intenções escondidas na ação do palhaço. Será ele candidato? Estará a serviço de um pré-candidato à prefeitura? Bem, ele nega. 

Se alguém tem provas da segunda hipótese, que apresente. Aí sim, o palhaço teria que responder por isto. Porém, reitero, ele pode - por estarmos em uma democracia - montar o canal dele e dizer o que bem entender. Se mentir, difamar, injuriar, caluniar terá que responder com base nos códigos de leis do país, como é para qualquer um. Se ferir os códigos eleitorais, também. Aí, é com os advogados.

Agora, na democracia, o gestor público tem que aprender a lidar com estas coisas. A pós-modernidade trouxe isto: a possibilidade de pessoas viverem o tempo todo, de uma forma ou de outra, em voz alta. Esta "voz alta" é dada a quem tem algo a dizer e aos imbecis. Se o palhaço incomodou o prefeito com perguntas, paciência! Quem vai ás ruas e é figura pública pode ser abordado a qualquer instante, com qualquer questionamento e isto viralizar, diante das atuais ferramentas tecnológicas. É a vida em “voz alta”.

Pelo que se percebe nos vídeos, o prefeito está em um espaço público. Em um evento público. Qualquer cidadão ali presente pode fazer perguntas ao prefeito, gravar até mesmo em um celular Repito: é um evento no meio da rua e não uma coletiva exclusiva para jornalistas, com credenciamento.

Agora, nota-se que o palhaço quer causar tumulto. A melhor resposta para isto é: ignorar este tipo de humor que vejo como chulo, apesar de defender o direito de Xilique fazê-lo. Se há, entretanto, denúncias de algum pré-candidato financiando o palhaço, que isto seja feito com todas as letras e que seja enviado à Justiça Eleitoral.

Mas, o que quero dizer é: eu jamais me posicionarei contra um cidadão (palhaço ou não; idiota ou não) usar de sua liberdade de expressão seja de que forma for. Ele usa e tem que estar ciente de que esta liberdade traz responsabilidades. Se houver crimes cometidos no uso desta, terá que pagar por isto.

No mais, o caso é inusitado e vale sim a cobertura da imprensa. Parabéns ao jornalista Davi Soares que sacou isto primeiro e fez uma matéria muito boa sobre o assunto, com indagações pertinentes justamente sobre o serviço do palhaço e o contexto das eleições de 2016. Esta é a pergunta mais válida.

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