Armas e a desonestidade como método

28/06/2016 12:58 - Bene Barbosa
Por Bene Barbosa
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Nos últimos dias os jornais e portais foram inundados com reportagens sobre as armas e o desarmamento e, claro, na maioria das vezes em defesa do segundo. Dentre tudo que li e vi, mais do mesmo. Teses que já foram defenestradas em 2005 quando aqueles que defendiam o comércio legal de armas e munições e, portanto, eram contra o desarmamento, venceram de forma acachapante e inequívoca. Vitória essa jamais respeitada. Das diversas reportagens, destaco a da revista Veja.

A matéria intitulada “O Mapa da Violência Armada nos EUA”, da revista citada, traz como subtítulo: “Com mais de 30.000 mortes por ano causadas por armas de fogo; os EUA lideram o ranking de violência entre as nações desenvolvidas. Pesquisadores de Harvard comprovaram que “há uma correlação altamente significativa entre as taxas de homicídios e a disponibilidade de armas”. E é ai que a desonestidade começa...

Quantas vítimas as armas fazem nos EUA? 30 mil?

Nenhuma! As armas não fazem vítima nenhuma! Acredite, senhor jornalista, as armas são objetos inanimados, desprovidos de vontade e só causam qualquer coisa quando operados por mãos humanas. É chato explicar o óbvio, muito chato mesmo, mas necessário.

Mas de onde saiu esse número de 30 mil? Explico! Até alguns anos atrás os desarmamentistas americanos se apoiavam na premissa que a taxa de homicídios com o uso de armas nos EUA era altíssima para padrões civilizados. O problema, para eles, é que as taxas desabaram nos últimos 30 anos e o número total de mortos acabou por alcançar patamares que não sustentavam a possibilidade de maiores – e portanto desnecessárias – restrições. Qual foi a saída? Inflacionar o número de “vítimas de armas de fogo” incluindo suicídios, homicídios justificáveis (legítima defesa), acidentes e intervenções policiais e terrorismo. Chegaram com isso às faladas 30 mil mortes anuais. O número que importa, para a discussão em questão, é apontado pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) em seu estudo anual chamado National Vital Statistics Reports de 2013 que aponta 11.208 homicídios cometidos com armas de fogo, portanto, 20.000 a menos que o indicado na reportagem.

Armas causam suicídios?

Tanto quanto garfos causam obesidade! Ao incluir os suicídios nas mortes causados “por” armas de fogo, a desonestidade cresce, pois não há um só estudo sério e conclusivo que comprove que a existência da arma como um fator predominante para esse tipo de ocorrência. Se a disponibilidade de armas fosse a variável determinante não teríamos o Brasil com o oitavo maior número de suicídios no mundo, tampouco o desarmado Japão. O índice japonês de 18,5 suicídios para cada 100 mil habitantes é, por exemplo, três vezes o registrado no Reino Unido (6,2) e 50% acima da taxa dos Estados Unidos (12,1), da Áustria (11,5) e da França (12,3). O campeão em suicídios é a Coreia do Sul, também com enormes restrições às armas, com o assustador número de 28,9 suicídios por 100 mil habitantes.

E a fonte?

O imbróglio não se encerra nisso e o mais grave de tudo foi a utilização de uma obscura entidade civil de Washington chamada Gun Violence Archive que, em tese, rastreia e contabiliza os chamados Mass Shooting. Para essa entidade houve 136 incidentes nos primeiros 164 dias do ano. No mesmo parágrafo o jornalista indica que “Para o FBI (a polícia federal americana), a definição de “mass shooting” é um tiroteio que resultou em quatro ou mais mortes. Usando essa contagem, o número de incidentes cai para apenas três, com 73 mortes.” Oras bolas! Porque então usar os números da tal entidade e não do FBI? Simples, né? O número não era sensacionalista o suficiente.

Um tiro na credibilidade!

A credibilidade da Gun Violence Archive fica próximo do zero absoluto uma vez que utiliza notícias como fonte primárias de seus dados! Sim, isso mesmo que você entendeu, o levantamento é feito com base em matérias jornalísticas e há erros enormes nessa contabilização como, por exemplo, um caso em 2015 contabilizado três vezes, contabilização de casos que envolveram armas de pressão, inclusão de casos claros de guerra de gangs e acerto de contas entre criminosos como sendo casos de ataque armado! Já imaginaram se o Brasil adotasse esse critério para definir os chamados “mas shooting” em território nacional? Seríamos os campeões do mundo! Se houve algum massacre aqui, o pior de todos foi na credibilidade da revista que apela ao sensacionalismo para justificar o injustificável.

Pesquisadores de Harvard comprovaram?

HUmmm...Não, não comprovam. Os ditos pesquisadores, cujo estudos analisei anos atrás e que já foram destruídos pelo professor John Lott não são conclusivos e não comprovam a relação de causa e efeito para o binômio “mais armas, mais crimes”. O que eles fazem é estabelecer uma correlação que, em tese, apontam para uma direção. O que temos em tais “estudos” é conhecido pela expressão “post hoc ergo propter hoc, cuja tradução seria "depois disso, logo causado por isso". Um erro, um vício, um defeito muito comum em estudos deste tipo. Trata-se de uma falácia lógica, ou correlação coincidente, que consiste na ideia de que dois eventos que ocorram em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito. Temos como exemplo disso a ideia que o desarmamento no Brasil poupou x número de vidas. Uma falácia lógica que tratarei no próximo artigo. A verdade é que quando o assunto é desarmamento e armas a desonestidade é método.

 

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