Sem dinheiro para a conta de energia, supercomputador é desligado”. A manchete noticiada por todo o dia, no Brasil, deveria chocar, mas a repercussão foi muito menor do que poderia ter sido. O supercomputador custou R$ 60 milhões e tem apenas seis meses de uso. Ele não está quebrado, o problema é que ele gasta “horrores” de energia.

Por causa dele, a conta de energia do Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis (RJ) era de até R$ 500 mil por mês. Uma fortuna para qualquer mortal, classe média (ou rica) deste país. A energia consumida, estima-se, poderia suprir um bairro com três mil família.

Ironicamente, o supercomputador se chama “Santos Dumont”, o brasileiro pai da aviação, mas seu destino, por ora, pode ser a sucata. Se uma solução urgente não for adotada, o equipamento pode virar lixo, pois, eletrônico de altíssimo desempenho, como este, se não for desligado por muito tempo sofre deterioração irreversível.

O mais desatento pode achar um supercomputador, que ocupa 380 metros e consome toda essa energia um monte de trambolho a ser descartado mesmo. O poder público tem que ter prioridade e se não tem dinheiro nem para saúde, educação e segurança, não precisa de ciência.

No entanto, se você pensa assim, precisa compreender melhor a importância da tecnologia justamente para a eficiência das políticas públicas. Este computador, com um desempenho um milhão de vezes mais rápido que um notebook comum, estava e deve ser usado em pesquisas como: mal de Alzheimer, zika e a dengue, modelagem do sistema vascular (coração) e projetos na área de energia, petróleo e gás.

Diante do impasse: aumentar o orçamento do laboratório ou perder todas essas pesquisas, o governo federal deixou que o equipamento que alça o Brasil ao seleto grupo das 200 potencias mundiais que possuem um computador desta capacidade, volte – mais ainda – alguns anos na escala evolutiva da ciência.

 

A situação seria cômica se não fosse trágica

No mesmo dia, a Justiça suspende show de Wesley Safadão no São João de Caruaru. Só o valor do cachê de Safadão (R$ 575 mil) já seria motivo suficiente para esta Prefeitura reavaliar suas prioridades. Afinal é mais do que o custo da energia do supercomputador. Mas Caruaru tem motivos internos suficientes para não pagar isso a um artista.

A prefeitura decretou estado de emergência por causa da seca. Depois de meses de arrecadação e repasses constitucionais diminuindo, seu gasto com pessoal está acima do limite legal, mesmo assim, a Prefeitura decidiu investir R$ 13 milhões no “Maior São João do Mundo” (depois de Campina Grande, dizem).

Mesmo assim, a prefeitura disse que vai recorrer da decisão e pretende por Safadão para tocar no próximo sábado, dia 25.

 

Se parlamentares não custassem tanto...

...dava para ter supercomputador e arraial com Safadão em todo nordeste.

Em reportagem publicada no CadaMinuto Press (número 132, de 10 de junho de 2016), verificamos que só os deputados alagoanos – nove – custam ao cidadão a bagatela de R$ 18 milhões, por ano.

Os principais benefícios de um parlamentar alagoano na Câmara dos Deputados podem chegar a R$ 170 mil por mês. Juntos, os nove custam, em média, R$ 1,5 milhão todo mês, ou mais de R$ 18 milhões por ano ao contribuinte.

Como se não bastasse um salário de R$ 33.763,00 (todo mês, 513 deputados recebem isso de salário), ainda possuem um auxílio-moradia de R$ 4.253,00 (ou apartamento de graça para morar) e uma cota de R$ 40.572,24 por mês – no caso da bancada alagoana, mas este valor é maior para muitos outros estados – para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas, além de dois salários no primeiro e no último mês da legislatura como ajuda de custo, ressarcimento de gastos com médicos.

Já pensou se todo trabalhador brasileiro tivesse salário, auxílio-moradia e mais uma cota para alugar carro, abastecer, alugar um escritório, saúde, aparecer em jornais e revistas, contratar segurança pessoal e mais uma penca de outros benefícios, não haveria pobre no Brasil, mas também não haveria Estado.

Na verdade, surpreende como ainda há Estado brasileiro. Não bastasse essa despesa mensal com 513 deputados e mais outro tanto com 81 senadores, imaginem quanto custa cada ministério. Todo trabalhador paga para trabalhar, deduz do próprio salário para comprar roupa, para pagar o plano de saúde, os estudos complementares e contratar seus empregados.

Além de todas estas mordomias, nossos deputados contam também com uma verba de R$ 92 mil à disposição para contratar até 25 funcionários por gabinete. Que tal?

Ao final de quatro anos de mandato, a bancada de deputados federais alagoanos, só os nove, terá custado aos cofres públicos mais de R$ 73 milhões. Com este valor seria possível construir, equipar, contratar pessoal e colocar para funcionar, um hospital para 40 mil pessoas por ano.

Caruaru precisa mesmo rever suas prioridades, assim como o Ministério da Ciência e Tecnologia – leia-se o governo federal –, mas o Congresso Nacional poderia começar cortando MUITO na própria carne.

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