O escritor Alexandre Costa tem o dom da didática ao apresentar assuntos complexos de forma simples, aguçando, desta maneira, o leitor a buscar os aprofundamentos. Costa escreve com aquela magia das obras introdutórias que descortinam opiniões viciadas e apresentam a possibilidade de pensar diferente.
Em seu recente “Bem-vindo ao Hospício”, o autor evidencia o amontado de loucos que estão por aí falando pelos cotovelos e ditando “correntes de pensamentos” do mundo pós-moderno, subvertendo valores e relativizando tudo ao sabor dos interesses políticos.
De forma simples, apresenta a personagem mais comum dos debates políticos atuais: o ignorante que ignora a própria ignorância e infla o peito de ar para mandar os outros ao estudo quando, na realidade, o mínimo estudo sobre o assunto abordado pelo eventual “especialista” já denunciaria as falácias cantadas em prosa e verso, com pompa e circunstância, pelos que adoram um “argumento de autoridade”.
Nada tem maior autoridade que a verdade. Nenhum título acadêmico é maior, nenhuma especialização, nenhum doutorado, enfim...Alexandre Costa mostra isto com bom humor, irreverência e dose de ironia. Ah, a ironia! Como esta figura de linguagem tem sido contingenciada nos atuais textos em função do politicamente correto e da vitimização constante por parte daqueles que adoram “monopolizar virtudes”. Alexandre Costa não se esconde da tarefa de dar às coisas os nomes que de fato elas possuem.
A leitura de Costa me lembrou o recente debate que assisti entre o advogado Bene Barbosa e o também advogado Martim Almeida Sampaio (no blog de Bene Barbosa, aqui no CadaMinuto tem a íntegra). Em tese, seria um debate sobre o armamento civil versus o desarmamento da população, mas – em algum momento – descambou para uma citação de posições políticas e ideológicas em forma de xingamentos. Eis que aí Sampaio insurgiu com aquela postura de quem detém mais conhecimento que o que de fato possui.
O advogado Martim Almeida Sampaio se tornou um dos personagens do hospício de Alexandre Costa. Conseguiu misturar alhos e bugalhos e jurar coerência. Classificou o discurso de Bene Barbosa como liberal (no sentido clássico do termo, que é aquele que defende a redução do Estado), mas ao mesmo tempo insinuar que ali se encontrava um discurso próximo ao do fascista ou nazista, que são regimes que se fazem pela presença maciça do Estado na vida do indivíduo, algo que o liberal combate com todas as forças.
Sampaio sequer tinha o domínio da ampla divergência entre a visão conservadora e liberal, apesar dos pontos comuns em relação à economia.
Era risível. Ora, ou alguém é liberal ou é fascista. Ou alguém defende menos Estado, ou defende – nos termos fascistas – que o Estado controle tudo e seja “tudo pelo Estado e para o Estado”. Os dois ao mesmo tempo é incompatível não somente por uma questão ideológica, mas por conta da lógica. Não há dúvidas quanto a este fato: em debates assim, a senhora lógica é chutada da mesma forma que, em tempos distantes, aquele pastor chutou a santa. Ela, a lógica, é espancada de uma maneira implacável. Ela sequer possui o direito de recorrer à Lei Maria da Penha, coitada!
Mas, não para por aí. Sampaio citou Karl Marx, mas fez muxoxo ao ser chamado de “marxista”. Por que se esconder? O debate é mais honesto quando as pessoas saem do armário. Bene Barbosa não teve medo de dizer qual sua posição política e cravou que defende menos Estado, logo concorda com o liberalismo econômico.
Não raro, debates como estes tendem a troca de insultos, ainda que de forma discreta. É um “fascista” aqui e outro “nazista” ali. Pouco importa que tais palavras estejam completamente dissociadas daquilo que de fato significam. Elas são usadas apenas como adjetivos para desqualificar o oponente e apresentá-lo à opinião pública como o que deve ser rejeitado.
Em sua obra, Alexandre Costa traz um glossário destes xingamentos. Usando do bom humor, ensina a responder tais insultos sem perder a compostura. Chamou de fascista ou nazista, então eis a resposta de Costa: “Tenho asco de todo regime político que esmaga o direito individual para supostamente valorizar o coletivo, que dá ao Estado mais poder no mesmo instante que tira do indivíduo suas liberdades elementares. Fascismo, nazismo e todas formas de comunismo são regimes coletivistas e estatistas que agem e agiram exatamente assim, portanto, estão sempre em oposição aos interesses que defendo. Entendeu ou será preciso desenhar?”.
Por falar em desenhar, o livro de Costa traz desenhos e tabelinhas. Os desenhos estão em preto e branco, logo, ao aprender o real significado dos adjetivos, personagens como Sampaio já podem aproveitar e brincar de colorir as ilustrações...
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