Pelo que devemos lutar?

10/06/2016 11:00 - Bene Barbosa
Por Bene Barbosa
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No dia 6 de junho postei no meu perfil do Facebook, uma imagem da invasão da Normandia, uma das maiores batalha já ocorrida, que marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do nazismo. Também conhecido como o Dia-D ou ainda como Operação Overlord, 155 mil homens dos exércitos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá, lançaram-se à batalha apoiados por 6.900 embarcações e 5.500 aviões. Mais de 5.000 mil soldados aliados não voltaram de lá. Se as tropas que defendiam o mundo livre não tivessem vencido nós teríamos hoje, possivelmente, uma situação geopolítica muito diferente e bem pior. Mas afinal pelo que lutavam esses soldados, tanto os alemães quanto os aliados?

Muitos anos atrás assisti um documentário alemão – infelizmente não consegui lembrar o nome do dito-cujo -  sobre o tema que entrevistou combatentes de ambos os lados. A diferença dos discursos era gritante e, enquanto do lado alemão as justificativas variavam entre o infame “estava apenas seguindo ordens” até o pragmático “lutava pela minha vida”, do lado aliado; americanos, britânicos e canadenses citavam como objetivos impedir o avanço nazista sobre o mundo e, assim, defender o que eles mais prezavam. Eles não estavam ali lutando por odiar os alemães, mas sim por amar o que haviam deixado para trás. Como escreveu G.K. Chesterton em um dos artigos constantes no livro “Considerando todas as coisas”: "O verdadeiro soldado luta não porque ele odeia o que está a sua frente, mas porque ele ama o que está atrás".

Dos objetivos militares da Operação Overlord, nenhum foi mais sanguento que a tomada da Praia de Omaha.  Hoje sabe-se que apenas um soldado alemão foi praticamente sozinho o responsável por isso. Seu nome era Heinrich Severloh, apelidado de a "Besta de Omaha". Severloh que, até esse episódio, nunca havia se destacado como combatente, foi responsável por 3 mil baixas naquela praia. Disparou sua Maschinengewehr 42 por nove horas seguidas, consumindo mais de 12 mil cartuchos. Quando sua metralhadora sobreaquecia ele empunhava seu fuzil e continuava fazendo fogo sobre os inimigos.

Em todas as entrevistas que deu, o ex-soldado, sempre se mostrou atormentado com o morticínio que promoveu naquele dia. Em suas falas havia sempre presente a afirmativa que ele só fez o que precisava fazer. Sua catarse, ou pelo menos a tentativa dela, veio na década de 60 quando ele procurou o soldado americano David Silva. Silva era capelão e no fatídico dia desembarcou em Omaha sob a chuva de projéteis disparados por Severloh. Foi atingido no peito três vezes. Milagrosamente sobreviveu. Quando se encontraram  abraçaram-se por 5 minutos ininterruptos, não havia ali ódio ao inimigo, nem inimigo mais havia. A amizade, retratada em um documentário alemão chamado "Mortal enemies of Omaha Beach – the story of an unusual friendship," durou até a morte de Severloch em 2006 e uma das imagens ilustra esse artigo.

Tudo isso para responder uma pergunta que me é feita com cada vez mais frequência: afinal, por qual motivo eu luto pelo direito, ou melhor, pela liberdade do cidadão poder ter e usar armas de fogo?

Ouso aqui citar outro ex-combatente, desta vez da Primeira Guerra Mundial: "A guerra deve acontecer, enquanto estivermos defendendo nossas vidas contra um destruidor que poderia devorar tudo; mas não amo a espada brilhante por sua agudeza, nem a flecha por sua rapidez, nem o guerreiro por sua glória. Só amo aquilo que eles defendem". Assim definiu J.R.R. Tolkien, em seu colossal O Senhor dos Anéis, a necessidade da luta e das armas. Não há ódio ou adoração. Há amor na defesa daquilo que nos é mais precioso. Esse é o meu motivo e deveria ser o de todos.

 

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