Se o critério para os pedidos de prisão do senador Renan Calheiros (PMDB), Romero Jucá (PMDB), José Sarney (PMDB) e do presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB) é o fato destes terem tentado obstruir os andamentos da Justiça e da Operação Lava Jato – o mesmo que serviu para prender Delcídio do Amaral (PT) – o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deveria ter lembrado também de outros personagens que, em passado recente, adotaram tais práticas.

Afinal, fica claro que a tentativa, por exemplo, de fazer – antes da presidente Dilma Rousseff (PT) ser afastada – o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula (PT), ministro tinha este intento. Era clara, como se vê nos áudios envolvendo o ex-presidente e nas conversas subsequentes, a preocupação de que Lula fosse preso em uma das fases da Operação. Preservar Lula do andamento da Lava Jato era uma ordem. Tanto que foi nisto que se apoiou as ações que impediram que o ex-presidente se tornasse ministro.

Nesta trama, estavam Lula, a presidente afastada Dilma Rousseff e outros membros da cúpula petista, como o presidente da legenda Rui Falcão. É só acompanhar as notícias da época. A saída do ex-ministro José Eduardo Cardoso do Ministério da Justiça indo para a Advocacia Geral da União também faziam parte do enredo motivado pelas preocupações petistas com o andamento das investigações. Uma tentativa de influir nas investigações. Por qual razão o critério lá não foi usado?

Rodrigo Janot está correto na tese que constrói em relação a Calheiros, Jucá, Cunha e Sarney. As evidências de que eles tentaram barras as investigações são grandes, como mostram os áudios das gravações de Sérgio Machado. O que se questiona aqui é o famoso ditado do “pau que dá em Chico, tem que dá em Francisco também”. Se as prisões encontram respaldo legal, aí é outra análise. Não tenho competência jurídica para fazê-la. Preciso estudar um pouco mais do Direito. Falo aqui do estritamente jurídico, já que envolve a imunidade de alguns e ao que parece não é flagrante ou crime continuado.

Porém, os atos cometidos por estes peemedebistas são bem comparáveis aos que já existiram antes por outros personagens, ao tentarem barrar as investigações quando estas ameaçavam Lula, que é a principal figura política do Partido dos Trabalhadores e o já declarado nome para disputar a presidência pela legenda em 2018. Preservar não só Lula, mas o futuro do PT, era uma ordem. Por isto o ex-presidente precisava ser “blindado”.

Cito, por exemplo, a matéria de O Globo em 18 de março de 2016, que mostrou que a conversa envolvendo Rui Falcão reforçava a tese de tentar livrar Lula de Moro. Logo, influir no andamento da Lava Jato. Do outro lado da linha estava o ex-ministro Jaques Wagner. Falcão aconselha o governo: “Alguma iniciativa vocês precisam tomar”.

E por qual razão não citar o próprio Rodrigo Janot. Em entrevista – como mostra o jornalista Fausto Macedo de O Estadão, no dia 18 de maio deste ano. Ao apresentar denúncia contra  ex-presidente Lula, Janot afirma que o petista teve “papel central” na trama para tentar barra a Lava jato e a delação premiada de Nestor Cerveró. Leram? Janot fala em “PAPEL CENTRAL”.

Janot relata os contatos de Lula com o ex-senador e delator Delcídio do Amaral e com o pecuarista José Carlos Bumlai. O ex-presidente negou em nota. Vamos aguardar os desdobramentos...

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