Universidade da Califórnia: lições de um tiroteio que não foi

03/06/2016 12:04 - Bene Barbosa
Por Bene Barbosa
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Assim que a polícia de Los Angeles acionou seu sistema de mensagem em caso de ataques armados e avisou que tiros haviam sido disparados na Universidade da Califórnia (UCLA), instalou-se um enorme frenesi entre os desarmamentista. Sem esperar qualquer informação sobre o caso, “especialistas” já se apresentavam falando em mais um “mass shoting”. Conforme novas informações iam aparecendo, detalhes iam sendo revelados, tudo apontava para o que realmente havia acontecido: um homicídio como estes que ocorrem 60 mil vezes por ano no Brasil. E quando mais se sabia, menos interesse a imprensa, em especial no Brasil, demostrava pelo caso. Havia pouco sangue inocente. Das primeiras manchetes, restaram a ideia já fixada nos leitores menos atentos que tínhamos mais um caso de um tiroteio em massa nos EUA.

Atribuo a perda de interesse ao fato do assassino não ser americano, não ser cristão e ter alvos certos. Mainak Sarkar era indiano, muçulmano e tinha 38 anos. Premeditou o crime, ou melhor, os crimes. Tinha uma lista de três alvos de sua fúria e frustração. A primeira a ser morta foi Ashley Hasti, com quem Sarkar havia se casado em 2011. Depois disso seguiu para a universidade onde matou o professor William S. Klug – quem ele acusava de ter lhe roubado códigos de programação - e na sequência atirou contra a própria cabeça, deixando um bilhete de despedida onde, entre outras coisas não divulgadas pela polícia, pedia para que cuidassem do seu gato. Ninguém sabe o motivo do assassino ter desistido do seu terceiro alvo, outro professor da mesma universidade.

Leis restritivas e sua inutilidade

A Califórnia, dentre todos os estados americanos, é um dos que mais possuem restrições à posse e ao porte de armas. Mainak, óbvio, ignorou a lei ao portar duas pistolas até a universidade distante 3.200 km de onde matou sua ex-esposa. Também desobedeceu a lei ao entrar armado na universidade, que como tantas outras, é uma “gun-free zone”, ou seja, um local onde ninguém pode entrar ou permanecer armado, nem mesmo os agentes de segurança da própria instituição. E ai está a inutilidade desse tipo de lei! Tomas Sowell faz a pergunta que deve ser feita: “Será que existe alguém que realmente acredita que indivíduos que estão preparados para desobedecer às leis contra o homicídio irão obedecer às leis de desarmamento?". O que teria acontecido se o estudante tivesse resolvido abrir fogo indiscriminadamente contra outros alunos e professores? Um massacre!

Protejam-se! Mas como?

Assim que os disparos ocorreram no prédio IV da faculdade de engenharia, um alerta foi disparado pelo Twitter para que os alunos se protegessem e não saíssem de onde estavam. O prédio estava oficialmente em “lockdown”, ou seja, ninguém entra e ninguém sai sem autorização expressa das forças policiais. Depois de alguns minutos começaram a aparecer nas redes sociais fotos e vídeos de alunos e professores desesperados tentando de todas as formas bloquear portas de salas de aulas e laboratórios. A imagem que ilustra esse artigo é uma dessas desesperados e inúteis tentativas. Usaram fios de computadores, empilharam cadeiras e mesas. Tudo seria absolutamente inútil se o assassino resolvesse ataca-los. Acredite você ou não, nenhuma das portas em toda a universidade possuem trancas e a justificativa para isso é: segurança!

A polícia levou quase duas horas para checar todo o prédio e, assim, garantir que os alunos estavam em segurança. Duas horas! Com esse incidente ganha força o movimento de liberação do porte de armas em universidades e colégios. Possibilidade essa que já é realidade nos estados do Arkansas, Colorado, Idaho, Kansas, Mississippi, Oregon, Utah, Texas e Wisconsin, sem maiores incidentes apesar dos profetas do caos terem imaginado que tiroteios seriam mais frequentes. Erraram mais uma vez.

Do que precisa um assassino?

Vontade! Sim, o que move um assassino é sua vontade de matar e isso parece ser o que mais assusta e bloqueia alguns “especialistas” que com frequência culpam tudo e todos, menos os próprios assassinos. Se alguém estiver disposto a matar nenhuma lei restritiva terá capacidade para impedi-lo de concretizar o seu ato. Sarkar é prova disso. Não possuía qualquer histórico criminal, nunca teve armas, não se tratava portanto de alguém que participasse da tal “cultura das armas” como tanto gostam de apontar certos formadores de opinião como sendo a culpada pelas mortes. Resolveu fazer, planejou e executou. Terrivelmente simples isso.

Mas e se não houvessem armas de fogo disponíveis?

Armas, não só as de fogo, sempre estarão disponíveis. A verdade é essa, qualquer coisa diferente disso é utopia! Vou relatar aqui um caso ocorrido comigo em 2005, caso esse que me marcou profundamente e eu, até hoje, me abstive de comentar.

Em outubro daquele ano, poucos dias antes do referendo sobre o comércio de armas, fui procurado pela rádio da Universidade de São Paulo (USP) para gravar uma entrevista. O estudante, estagiário da rádio, me fez diversas perguntas que me pareceram dúvidas realmente honestas sobre o assunto. Dentre estas, uma foi algo como: mas se as pessoas tiverem armas, se alguém quiser me matar, não será mais fácil? Minha resposta foi de que se alguém quisesse realmente mata-lo, se estivesse realmente disposto a fazer isso, não precisaria de um revolver ou de uma pistola. Pegaria uma faca e lhe cravaria no peito. A entrevista foi encerrada e não sei se chegou ir ao ar.

Dias depois, como sempre fazia de manhã, fui verificar as notícias. Dei de cara com uma manchete arrasadora: Estagiário da Rádio USP é assassinado por colega dentro do Campus. Rafael Azevedo Fortes Alves foi esfaqueado por Fábio Le Senechal Nanni que anos depois acabaria se matando ao pular da janela do apartamento que morava com os pais. Sim, era o rapaz que dia antes havia me entrevistado. Fiquei realmente chocado, abalado mesmo. Como um dos coordenadores da campanha do “não” me opus veementemente ao uso daquela tragédia para fins de campanha. Sei muito bem que, se a arma usada fosse de fogo, eles não titubeariam em esfregar isso na nossa cara. Não importava, não exporia aquela família em luto por isso.

A verdade, que muitos fazem questão de negar, de enfiar a cabeça em um buraco ideológico para não ver, é que praticamente qualquer objeto pode ser usado para assassinar uma pessoa, porém, o único objeto mais eficaz para a defesa é a arma de fogo. Enquanto não se aceitar isso, toda sorte de malucos, psicopatas e criminosos estarão sempre em vantagem perante suas potenciais, e desarmadas, vítimas.

 

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