O governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), frisou– em entrevista à imprensa, publicada pelo CadaMinuto – que os governadores do Nordeste não vão apoiar cortes em programas sociais. Entendo a preocupação de Renan Filho diante do que estes programas representam para a economia nordestina. Mas, em que se apoia as declarações de Renan Filho? Em uma realidade paralela a tudo aquilo que o governo federal do presidente interino Michel Temer vem declarando?

Renan Filho sabe que há tempos que os programas estão sofrendo cortes e obras estão com dificuldades. O Canal do Sertão é um exemplo. O chefe do Executivo estadual sabe da crise que envolveu  Fies no governo de Dilma Rousseff (PT), sabe das reclamações que já existiam em relação à continuidade do Minha Casa, Minha Vida, pois estas foram frisadas pelo seu próprio ex-secretário de Trabalho, Rafael Brito, em 2015. Sabe ainda da realidade do desfinanciamento da Saúde, que tem prejudicado a manutenção do SUS e dos efeitos da crise econômica que reduziu significativamente os recursos do Fundo de Participação dos Estados.

O governador do PMDB sabe ainda mais: da luta que tem sido, desde sempre, para a repactuação da dívida pública dos Estados. Porém, nunca foi tão incisivo em suas palavras com o governo da presidente Dilma Rousseff. Fazia críticas, é verdade! Elogiei Renan Filho quando as fez de forma certeira. Porém, nunca foi tão incisivo como agora: montar e liderar uma frente de governadores para acompanhar de perto Michel Temer e ser duro com as declarações, mesmo quando o governo aponta para o sentido inverso do que Renan Filho diz.

Enfim, sabe do rombo causado no orçamento em função dos caminhos adotados por Dilma Rousseff, do qual o PMDB de Michel Temer é coparticipe. Nunca esqueçam disto. Temer não é solução, nem salvação da lavoura. Tem problemas sim: ministros que tentavam sabotar a Lava Jato, pessoas do governo ligadas ao esquema de corrupção e comprometidas ideologicamente com um projeto de poder que se iniciou em Lula (PT).

Renan Filho falou de ameaça do cancelamento do Minha Casa, Minha Vida. Tomou a posição de um dos representantes dos “governadores do Nordeste”. Mas, vejam: o novo presidente da Caixa Econômica Federal tomou posse na quarta-feira, dia 1º, no Palácio do Planato. Creio que as falas de Gilberto Occhi tenham sido combinadas previamente com Temer.

Occhi anunciou que o banco irá retomar imediatamente (isto mesmo!) as obras do Minha Casa, Minha Vida que se encontram paralisadas. Quem paralisou? O governo anterior. Vocês viram a mobilização dos governadores do Nordeste? Pois é, nem eu!  Eu estou falando das paralisadas, não daquelas que foram revogadas pelo ministro Bruno Araújo. Separem as coisas. Aquela, o ministro cometeu um erro político.

Occhi disse mais: que na próxima semana se reúne com os ministros do Planejamento e da Cidades para tratar sobre o tema. “Não é só o Minha Casa, Minha Vida, mas também as outras obras que estão em andamento ou que por falta de recursos foram paralisadas. Nós vamos fazer um trabalho em conjunto para encontrar uma solução para retomada destas obras”.  Occhi frisou que esta era orientação do Temer.

Voltando a Araújo, quando ministro Bruno Araújo suspendeu contratações foi porque estas faziam parte de uma estratégia populista de Dilma para colocar o governo interno em maus lençóis. Uma pegadinha na qual o ministro caiu. A presidente afasta sabia da impossibilidade de cumprir, como não cumpriu muitas de suas promessas populistas, como a construção de creches. Lembram?

Bruno Araújo cometeu um erro político. Pois poderia reavaliar tudo com a Caixa e destravar as amarras ideológicas e burocráticas sem gerar celeumas, que é o que o governo interino tenta fazer agora, mas só após ser pressionado.  Michel Temer mostra mais uma vez a frouxidão.

“Agora nós vamos colocar o pé no acelerador, voltar a fazer os investimentos e acelerar aquilo que é possível fazer”, finalizou Occhi. Renan Filho não acredita em Occhi? As falas do novo presidente da Caixa são bem recentes.

O detalhe é que o posicionamento de Renan Filho se dá ao mesmo tempo em que ele mesmo demonstra um perfil conciliador do presidente Michel Temer. Leiam o que declara o governador: “Fui à Brasília essa semana e tive uma reunião com o Presidente, onde pudemos discutir as dívidas do Estado, pedimos uma carência, que seria o não pagamento da dívida por um determinado tempo, e o presidente aceitou”.  Lembram das idas e vindas de antes em relação a esta negociação da dívida? Eu lembro!

Ora, se volta da reunião com notícias positivas, porque o discurso mais duro como mostra a reportagem do CadaMinuto?

O governador ajuda na narrativa para o retorno da presidente Dilma Rousseff. Uma narrativa que se espalha ideologicamente. Como foi a questão dos cortes da Farmácia Popular e Samu, quando o novo ministro da Saúde, Agenor Álvares da Silva, mostrou a consequência de um corte de R$ 5,5 bilhões na área da Saúde. Foi assim que também deturparam as falas do ministro em relação ao SUS a partir de uma entrevista concedida à Folha de São Paulo.

Sobre o Bolsa Família e a tesourada. Os cortes são anunciados pela Fundação Perseu Abramo, que é ligada ao PT. É um estudo que aponta que o presidente Michel Temer vai cortar mais de 10 milhões de famílias. Se é verdade? Não sei. Mas vejam quem está por trás da pesquisa. A Fundação não fala das fraudes no programa que precisam ser corrigidas urgentemente, como o rombo de R$ 2,5 bilhões que deveriam ser destinados aos pobres e não às práticas ilícitas.

Eu prefiro aguardar fontes mais confiáveis antes de entrar em qualquer carnaval.

Oficialmente, a informação sobre o Programa é esta: o governo de Michel Temer se prepara para anunciar o reajuste dos valores pagos pelo programa Bolsa Família até o fim de julho. O aumento recebeu o aval de Henrique Meirelles e do próprio presidente Temer.

É uma triste época de narrativas, onde a verdade parece ser o que menos importa...

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