Um dos maiores liberais brasileiros, na minha humilde opinião, é Donald Stewart Júnior (1931-1999). Há uma diferença grande entre liberais e conservadores, apesar de todos serem colocados em um mesmo bolo no Brasil. Eu tenho tendências liberais, mas sou adepto do conservadorismo filosófico. Inclusive, já publiquei artigos sobre este conservadorismo aqui.
Todavia, sou admirador de muitos liberais. Dentre eles, Donald Stewart Júnior. Quando li Ação Humana (o primeiro livro de Mises que li) vi que era traduzido por ele. Foi assim que o conheci e busquei saber quem era. Deparei-me com um engenheiro altamente intelectualizado e um ativista fantástico do liberalismo. Pena que hoje não seja tão conhecido dos meios intelectuais por puro preconceito de quem rejeita o contraditório sem ao menos lhe dar uma chance.
Stewart tem reflexões fantásticas, independente de sua posição política. São reflexões filosóficas como esta: "pode-se dizer que o processo civilizatório é um processo de contenção de instintos". Esta sentença dele já nos remete a discussão essencial sobre a liberdade como princípio a ser aplicado indistintamente, bem como sobre a importância dos direitos naturais do homem e o que precisa ser submetido a discussões justamente sobre a relação direitos e deveres.
Stewart manda, inclusive, um recado para as pessoas que insistem em confundir - por ignorância ou desonestidade mesmo - a redução de Estado como a ausência completa deste. O brasileiro Donaldo Stewart reflete o Estado como um "mal necessário" em função justamente do conceito das leis, com base, obviamente, nas reflexões de Bastiat, quando coloca que, em princípio, a legislação protege o indivíduo do Estado ao passo que assegura a liberdade ao ponto da minha liberdade não poder interferir na do outro.
Mostra ainda - em suas teorias - como a briga do mercado favorece o consumidor como um “tirano” (aspas gigantescas, pois se trata de uma figura de linguagem) da busca pelo lucro entre as empresas, promovendo avanços tecnológicos que fazem os produtos baratearem com o tempo facilitando o acesso aos bens de consumo. A prática mostra bem isto: a tecnologia se tornou mais acessível e barata com o andar da carruagem, apesar das desigualdades prevalecentes.
Disse ele ainda que o conhecimento detido na cabeça de um homem jamais pode ser perfeito. É justamente a imperfeição que leva à cooperação com conhecimentos que se completam e gera a descoberta, pois por mais gênio que um homem seja ele não pode prevê todas as nuanças da aplicabilidade de sua ideia ao ponto de se tornar um planejador central que defina como será o futuro enquadrado dentro de uma utopia.
Quando leio Stewart, portanto, reforço ainda mais minha desconfiança em relação à razão articulada. Ao limitarmos a concorrência das ideias - por meio de qualquer planejamento central - estamos nos limitando a ignorância ao invés de promover a descoberta que pode trazer benefícios comuns a todos, por exemplo. Sem falar que quanto mais concorrência, menor o preço e menor o lucro. O que o fez combater as cartelizações. Um exemplo dos males do planejamento central.
Sem isto, só se produz para as elites, como fica claro nos regimes de grande intervencionismo onde só os muito ricos desfrutam do melhor. Mesmo convicto de suas ideias, Stewart pregava algo que gosto muito de ouvir e levo como um mantra para a minha vida: "não se pode impor uma ideia. É ela que se impõe pela persuasão ao se demonstrar suas vantagens para o indivíduo e para a sociedade como um todo" porque "o indivíduo é a menor das minorias".
Fazia as análises ainda com o foco no Brasil ao afirmar que "nossas empresas" se acostumaram a um "intervencionismo tal" que se associam aos governos por meio de favores e cartéis que as transformam em "cartórios ou agências" do governo. Em tempos de Lava Jato, é só olhar para a situação das maiores construtoras do país.
É um pequeno artigo sobre as ideias deste monstro do pensamento liberal brasileiro. Stewart, Tavares Bastos, Mauá, dentre outros são exemplos a serem resgatados na discussão séria sobre o pensamento liberal que não se afasta de uma outra necessidade de uma sociedade sadia: a reflexão também sobre valores, preservando culturas e tradições que deram certo.
Ninguém precisa aceitar uma ideia à força, mas é desonestidade demonizá-la de imediato. Estou aqui expondo um dos exemplos brasileiros que poderiam ser melhor estudado, nem que fosse para ser criticado por aquilo que ele realmente disse. É uma pena que hoje no Brasil, alguns homens são varridos para baixo do tapete. E quem disser que não é, aponte-me um meio intelectual no qual Donald Stewart tem sido objeto de reflexão.
Quem tiver interesse pode encontrar mais sobre ele aqui: http://www.institutoliberal.org.br/biblioteca/galeria-de-autores/donald-stewart-jr/
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