Falei sobre o episódio envolvendo o humorista Roland Rios e o professor e advogado Bene Barbosa aqui neste espaço. Não iria mais voltar ao tema. O que tinha de ser dito, já foi dito.

Porém, eis que recebo um vídeo de Roland Rios (de 2010) que merece destaque em épocas de discussão sobre “cultura de estupro”. Em épocas em que alguns humoristas são levados a sério e acabam ditando discussões nacionais, como vira e volta acontece com Danilo Gentilli, eis que eu fiquei imaginando quantas discussões o vídeo de Rios geraria.

Se fosse um humorista não identificado com as bandeiras da esquerda posso apostar que não passaria batido tal “piada”, mas como não é...fica como ficou em relação às declarações absurdas do “filósofo” Paulo Ghiraldelli, quando resolveu desejar um estupro à Raquel Sheherazade. Lembram?

É que há uma indignação seletiva em nosso país que faz com que só existam declarações absurdas de um lado. Do outro, qualquer absurdo está automaticamente absolvido pela causa ideológica que detém o monopólio das virtudes.

Então, este texto não é necessariamente sobre Ronald Rios, mas sobre os pesos e medidas que são usados com o objetivo de patrulha ou de destruição de reputações.

A piada – se é que pode ser chamada de piada – de Ronald Rios para mim é humor sem graça, absurdo, escatológico. Em geral, eu simplesmente ignoro. Todavia, não poderia ignorar neste momento, mesmo sendo antigo o vídeo, porque ele expõe a hipocrisia de alguns que só são capazes de se indignar com determinadas coisas quando depende de quem diz estas coisas.

Veja que Ghiraldelli sequer é lembrado.

Isto não está só em uma discussão não. Está em todos os temas. Lembrem o que fez ontem o senador Lindbergh Farias (PT). Na ânsia por criticar o governo interino de Michel Temer (PMDB) de qualquer jeito fez uma postagem em suas redes sociais na qual culpava Temer pelos mais 11 milhões de brasileiros desempregados. Escarneceu com o número. Sequer discutiu de forma séria o que este problema representa, que é o que se espera de um senador.

O objetivo de Lindbergh Farias foi explícito: atacar para gerar uma narrativa desfavorável a presidente. Porém, foi pego mentindo no flagra. Os dados são referências ao governo de Dilma Rousseff (PT). O que fez Farias? Pediu desculpas? Não! Ele apagou o post. Era como se nunca tivesse mentido de forma tão escandalosa.

Aqueles “seletivos” que se indignam com as mentiras da política ignoraram o ato de Lindbergh Farias. Afinal, devem ter pensado, neste caso não se trata de um mentiroso, mas do “nosso mentiroso”. E assim surgem os grupos dos “nossos políticos”, dos “nossos humoristas”, dos “nossos pensadores”. Estes podem ter a liberdade para falarem qualquer bobagem, qualquer absurdo, mesmo que estes absurdos sejam repudiados caso ditos por outras pessoas que estejam em um campo político oposto.

É assim que se transforma a política em fim em si mesma. É assim que se constrói um projeto hegemônico de monopólio de virtudes. É assim que se criam os intelectuais, humoristas, pensadores, filósofos orgânicos, que aderem ao clubinho de uma corrente de pensamento porque sempre serão absolvidos por ela e terão destaque ao invés da discussão sincera sobre o que realmente pensam.

É assim que se estupra uma cultura: relativizando tudo e escolhendo bodes expiatórios conforme as circunstâncias políticas. Afinal, o norte moral já era...tudo é o lado no qual você se encontra. “Tchê, de que lado tu estás?”, como indagava Humberto Gessinger em 1996, na canção Vícios de Linguagem (também falei sobre esta canção aqui).

Ronald Rios classifica a mim e outras pessoas como “direita armada orgulhosa”. Sei lá o que isso significa, mas ainda prefiro estar aí do que no grupo da “esquerda pacífica e humildezinha”, que de humilde não tem nada! De pacífica, bem Stalin fala por mim....

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