O áudio do senador Renan Calheiros (PMDB) vai na mesma linha do senador Romero Jucá (PMDB): o acordo que a “turma topa” para preservar cabeças no andamento da Operação Lava Jato.
Bem, não resta dúvidas que – até aqui – estão sendo infrutíferas as tentativas. A ação da Polícia Federal segue firme e quem tiver seus podres que pague.
Nos últimos dias foram duas fases da Lava Jato. Que venha a 31ª.
Mas, uma ressalva: as falas do senador Renan Calheiros mostram que qualquer tentativa de impor novas eleições ou de “parlamentarismo ou semi-parlamentarismo” no país pode ser um golpe de morte na Lava Jato, neste momento, como era naquele.
Então, olhar atento as propostas “salvadoras” que vão sendo jogadas por aí. Não é o mero impeachment que vai salvar o país das mãos dessa gente.
A situação é difícil e ainda há muita água para passar por baixo desta ponte, mas a República precisa renascer – e não é exagero dizer isto! – pelos dispositivos constitucionais vigentes.
Depois, em calmaria, mudar de presidencialismo para parlamentarismo, é outra história. Mas, depois, com tudo mundo que deve tendo pago na forma da lei. Sem que os tentáculos influentes de alguns poderosos estejam conduzido a salvação.
Mudar as “regras do jogo” agora, com as figuras políticas que estão no poder sob suspeitas, é conceder a estas figuras as ferramentas necessárias para se lavarem na lama; livrando-se das acusações e até salvando quem muito tem a explicar ao país, como o senhor ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A tentativa de salvar cabeças já presente no diálogo de Romero Jucá aparece com mais força na conversa entre Sérgio Machado e Renan Calheiros. Aposto que será a mesma linha que surgirá nos diálogos com José Sarney (PMDB). Eles estão por vir.
Machado é enfático: “Agora, Renan, a situação tá grave”. Calheiros reconhece que além de “grave” vai complicar. O trecho inicial que foi revelado dá o tom da conversa e mostra o medo dos políticos com as delações. Não há eufemismo, a palavra é esta mesmo: medo.
Machado fala do “acordão”. “Ela (Dilma) não se sustenta mais. Ela tem três saídas. A mais simples seria ela pedir licença...”. O que não ocorreu. A aposta era Dilma se licenciar, o até então vice Michel Temer assumir acalmando os ânimos e a “turma” tocar o acordo, inclusive com a ciência do ex-presidente Lula, para que este também fosse salvo.
Bem, o diálogo ocorreu antes de Dilma Rousseff sofrer o afastamento do cargo por decisão do Senado Federal. Isto precisa ser ressaltado, o que não quer dizer que apaga possibilidades de interferências na Lava Jato na busca por salva A ou B por parte de um atual governo. Claro que não. A Lava Jato precisa dar a resposta. A população precisa ficar vigilante.
Errará quem pensar que destruir este imenso esquema cleptocrático protegido por uma hegemonia cultura vermelha depende apenas de um impeachment.
Há um trecho de Machado que precisa ser rechaçado por Temer; e não apenas em discursos, mas na prática. Sérgio Machado diz que Temer assumindo, caso houvesse a licença, garantiria a Dilma e Lula o acordo. Machado fala com o consentimento de Michel Temer?
Não esqueça que Michel Temer sempre foi parte do problema.
O interlocutor de Renan Calheiros avalia como “rápido processo” e alternativa mais segura o acordo com a turma. E aí, Michel?
Renan Calheiros – que nunca teve boas relações com Temer – concorda. “A melhor solução para ela é um acordo que a turma topa. Não com ela. A negociação é botar, é fazer o parlamentarismo e fazer o plebiscito, se o Supremo permitir, daqui a três anos. Aí prepara a eleição, mantém a eleição, presidente com nova...”
Calheiros fala sobre Temer: “Michel, eu disse pra ele, tem que sumir, rapaz. Nós estamos apoiando ele, porque não é interessante brigar. Mas ele errou muito, negócio de Eduardo Cunha... O Jader me reclamou aqui, ele foi lá na casa dele e ele estava lá o Eduardo Cunha. Aí o Jader disse, 'porra, também é demais, né'”
Os trechos de Renan Calheiros e de Romero Jucá mostram bem o quanto alguns pensam em salvar a própria pele diante dos recentes acontecimentos. A máquina está totalmente corrompida e o impeachment é o ponto de partida para um novo país, jamais o de chegada. Há muito a ser feito.
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