Em entrevista à imprensa, no dia de ontem, 19, o governador de Sergipe, Jackson Barreto (PMDB) ironizou o fato do presidente interino Michel Temer (PMDB) ter nomeado ministros investigados pela Lava Jato: “mas, não era um combate a corrupção”? Michel Temer é de seu partido, mas não foi poupado da ironia.
Agora, não lembro de Barreto ter feito ironias com o fato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) ter ministros investigados na Lava Jato. Vocês lembram?
Bem, sobre as biografias dos ministros de Temer, eu já falei aqui: são questionáveis e podem sim ser criticadas. Eu mesmo critiquei recentemente a indicação de Raul Jungmann para o ministério da Defesa, por exemplo. Mas, Barreto – que sempre foi silencioso em relação aos atos e ações dos ministros de Dilma – faz uma critica seletiva porque ainda torce pelo retorno da presidente Dilma Rousseff. Ele deixou isto claro de passagem por Alagoas.
“Eu espero que a Democracia volte. Se Dilma volta...”, diz o chefe do Executivo estadual sergipano.
Aliás, não apenas ele está na torcida. Outros governadores do Nordeste também.
Mas a fala de Jackson Barreto me chamou a atenção. Primeiro: pela ironia com a composição de equipe do ministro interino. Barreto repete os “memes” de internet que apontam o cisco no olho do outro, sem enxergar a própria trave em sua órbita ocular. É até bíblico.
Barreto criticou ainda o líder do governo ser o deputado federal André Moura de Sergipe. “Ele é da minha terra. Sabe o que aconteceu com este rapaz? No dia 2 de maio foi julgado pelo Tribunal de Justiça do meu Estado, além dos processos no Supremo Tribunal Federal. A esposa é condenada, o cunhado é condenada, a mãe e irmã também. Todos por improbidade e corrupção. É demais para mim”.
É, Barreto! Eu concordo com o senhor. Não podemos admitir fichas sujas na política. O que Jackson Barreto – nesta mesma linha de raciocínio – acha de um presidente de uma casa legislativa que acumula inquéritos no Supremo Tribunal Federal? Trata-se de Renan Calheiros (PMDB). Do seu partido. Mas, Barreto não se revoltou quanto a isto em solo alagoano. Muito menos se revoltou com as investigações contra Luis Inácio Lula da Silva (PT), cujo amigos foram alvos de mais uma ação da Polícia Federal no dia de hoje.
A indignação de Jackson Barreto parece mesmo ser seletiva.
O governador de Sergipe também fez críticas ao PMDB. Disse que o “partido anda meio perdido”. Claro, a parte perdida, segundo o governador Jackson Barreto, é a que faz parte do governo Michel Temer ou então o apoia.
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Mais ainda. Ele opinou sobre o governo Michel Temer ter capacidade de ajudar o país a sair da crise: “Olha, é muito cedo para fazer uma avaliação do governo Michel Temer. É um governo interino e acho muito difícil ter condições em tão pouco tempo”. Então por qual razão assinou a Carta dos governadores para fazer pedidos se não acredita que eles sejam atendidos em tão pouco tempo?
Jackson Barreto disse “temer cortes em programas sociais”. Onde estava então Barreto quando o SUS foi desfinanciado pelo próprio governo federal? Onde estava Barreto quando se cobrava a nova fase do Minha Casa, Minha Vida? Por acaso não são programas sociais? Tudo que se deu em relação aos programas sociais, desde que Michel Temer assumiu, foram consequências de decisões da governante Dilma Rousseff, como mostram as próprias datas das decisões.
Eu publiquei sobre estas mentiras governistas aqui. É só pesquisar no histórico do blog.
Porém, o Barreto que teme que Temer corte os programas sociais é o mesmo que elogia Michel Temer como um “grande homem, com o qual sempre convive bem, um professor de Direito Constitucional. Um homem íntegro”. Então de onde vem o medo? “Desse somatório de forças”, coloca Barreto ressuscitando Jânio Quadros e suas “forças ocultas”.
Ao falar de crise, aí Barreto não se aguenta. Confessa que a situação de Sergipe é dificílima e que o governo já atrasa salários, que tem dificuldades de fechar as contas. “Todos os governadores do país possuem dificuldades”. O governador de Sergipe é então indagado: “se a economia do país continuar assim, qual a perspectiva do senhor?”. Ele responde: “Fechar tudo!”.
Aí, eu pergunto para Barreto: será que não foram as irresponsabilidades do governo federal que causaram este desarranjo na economia nacional ao ponto de colocar medo em Barreto de ter fechar tudo em Sergipe?
Mas, o governador de Sergipe que teve todo o espaço do mundo para tecer críticas fortes e irônicas aos ministros de Temer, que teve espaço para atacar o líder do governo, que pode reclamar do governo Temer e dizer que teme, que pode assinar uma Carta direcionada ao presidente interino, cobrando tudo aquilo que Dilma deveria ter feito há anos até, que pode falar pelos cotovelos...e que espera do governo federal um tratamento republicano, ao ponto de fazer pedidos em uma Carta, quer a volta da democracia. Por que ele acha que sem Dilma não é democracia. É, ele só não diz com todas as letras, mas foi isto que afirmou ao cravar: “Eu espero que a democracia volte”.