O primeiro discurso do presidente interino Michel Temer (PMDB) tem vários acertos (e não falo apenas da Língua Portuguesa), como a busca redução do estado, por meio de concessões, para dar melhor qualidade aos serviços que serão ofertados à população. Este é um ponto. É esperar a concretização disto tudo que o presidente interino fala.

Agora, em meio às declarações, há um conselho de Temer que causou burburinho na imprensa. Michel Temer diz que leu em algum lugar do país a frase: “não fale em crise, trabalhe”. O peemedebista ressaltou que iria espalhar a frase por outdoors pelo Brasil como se fosse um conselho. O burburinho tem certa razão.  Primeiro porque é jogar dinheiro no lixo com propaganda falaciosa. Estamos de saco cheio disto. Explicarei porque ao longo do texto.

O conselho de Michel Temer é sem sentido para os brasileiros. Não faz sentido cobrar trabalho de quem já vem trabalhando muito e pagando as contas, cada vez com mais arrocho, dos erros do governo federal. O brasileiro trabalha muito. Em média são quatro meses de trabalho “de graça” para pagar impostos. Recursos estes que vão para o governo e, como é notório, não se transformam em serviços de excelência à população.

Como se não bastasse isto, é válido frisar: o brasileiro hoje que não está trabalhando feito um condenado para manter seu padrão de vida – e ainda assim realizando cortes em seu orçamento por ver o valor do dinheiro diminuir – está procurando emprego. Encontra-se entre os 11 milhões de desempregados, o que é uma das heranças malditas desta crise.

A frase de Michel Temer soa como uma piada de mau gosto. Além desta questão, fundamental para um bom trabalho que gere bons resultados é ter um ambiente propício para empreender, ao invés de um cenário hostil. Este ambiente propício significa incentivos ao setor produtivo para geração de emprego e renda, sem tantas interferências estatais na busca por surrupiar o lucro de quem produz. No setor privado, por exemplo, são as micro e pequenas empresas que mais empregam, quando somados os postos de trabalho. As estatísticas mostram isto.

E como é que hoje no Brasil empresários e empregados trabalham? Primeiro sobre uma cultura que os colocam como opressos e oprimidos. Segundo, toda iniciativa empreendedora é logo alvo de uma exagerada regulação e de impostos altíssimos. Em geral, os mais beneficiados com as isenções são os “amigos do rei”. Cenário mais hostil ao trabalhador e a quem quer empreender só em regimes totalitários .

Antes do Estado sair por aí distribuindo conselhos, é ele que precisa aprender qual é o seu trabalho em um momento de crise, para que não seja o Estado a ficar de “mimimi” culpando os outros pela crise. E culpa. Culpa o cenário externo, culpa a oposição, e quando dá um conselho deste acaba, ainda que indiretamente, culpando o próprio povo que cobrou mudanças e por meio desta cobrança alçou, ainda que interinamente, Michel Temer ao poder.

Presidente, quem tem que trabalhar é o senhor. O senhor é que tem que ter o foco em um trabalho produtivo que não só remeta o Brasil a saída de uma crise temporária, mas que o jogue para os trilhos sólidos de um desenvolvimento pleno, que abra as portas para o futuro, atraindo investimentos e dando condições de infraestrutura para este.

Em pleno século XXI, só para dar um exemplo, estamos discutindo se a internet deve ser limitada ou não. É ridículo. Dentro desta discussão, o Estado tomando posições antagônicas ao ambiente propício para a evolução, pois passa a defender o interesse das operadores e não de quem depende da internet para trabalhar. Este é só um ponto para exemplificar o que aqui digo.

No Sertão, ainda discutimos a qualidade da água (quando esta existe) que o povo consome.

Presidente, quem tem que trabalhar – repito, portanto – é o senhor. Trabalhar no sentido de rever o pacto federativo, como falou em discurso, para que os municípios e Estados sejam menos dependente. Trabalhar no sentido de rediscutir a dívida pública que atrapalha os projetos de alguns Estados, como é o caso de Alagoas. Trabalhar para sair da crise política no Congresso Nacional, garantindo ambiente para a aprovação de projetos essenciais neste momento.

Deve ainda, presidente, discutir – como já propôs – a reforma da Previdência junto com todos os atores que fazem parte desta discussão. Um governo não pode trabalhar contra o país, pois já vimos que isto é, ao contrário de empurrar com a barriga como alguns pensam, empurrar ladeira abaixo. Não espalhe estas frases por outdoors pelo país. É dinheiro público no lixo. Coloque esta frase como mantra do governo, dando ao verbo trabalhar o sentido de “trabalhar pelo país” e não pelas castas e pelos “mamadores” de verbas oficiais. As tetas já andam tão magras, senhor presidente.

Os políticos brasileiros se comportam como patrões quando, na realidade, são empregados. A sociedade tem que aprender isto para não cair em contas de sereia e eleger fã-clubes de corruptos – azul e vermelho – e acabemos lutando uns contra os outros e não pelo país.  

É por isto, presidente, que políticos terceirizam responsabilidades e mandam o povo trabalhar, quando este já trabalha e muito para sustentar regalias que não possuem direito. É por isto, presidente, que políticos criam dificuldades para venderem facilidades. Afinal, nenhum brasileiro tem auxílio-moradia, verbas indenizatórias, cartão corporativo etc. Todos os brasileiros da iniciativa privada deste país são obrigados a encaixarem suas contas dentro de seus vencimentos, sem recorrer ao Estado.

Quando recorre ao Estado é em busca de Educação, Segurança e Saúde Pública. E advinha, presidente? Eles não conseguem acesso a isto. Quando conseguem, é deficitário. Portanto, presidente, trabalhar a gente trabalha. Quando falamos em crise é cobrando que vocês façam o mesmo: trabalhem ao invés de reclamar tanto e dividirem o país e colocarem uns contra os outros. Sim, o senhor fez parte do governo que fez isto. Não negue.

Logo, Michel Temer sempre foi parte do problema. Por força das leis deste país foi alçado à condição de quem pode, agora, ajudar a construir a solução. Espero que, para o bem do país, consiga dar encaminhamento a isto. Sou cético, não acredito em milagres, nem em passe mágico. A solução não virá em pouco tempo. Mas, presidente, trabalhe. Trabalhe, inclusive, sem demonizar a oposição. Pois, só há governo que acerta se tiver oposição no seu calcanhar.  É a máxima de Santo Agostinho: “prefiro os que me criticam porque me corrigem, aos que me adulam porque me corrompem”.

E eu – como vários brasileiros – posso reclamar do seu lema direcionado à população. Posso dizer que ele é um tanto quanto falacioso. Serve de frase de efeito, mas não descreve a realidade de um povo que trabalha, trabalhou e trabalhará muito ainda para sustentar um elefante pesadíssimo em suas costas. Mas, como disse no início do parágrafo: eu e vários brasileiros podemos dizer isto. A parcela petista que reclama do “mantra temerista” é que não.

Por que não pode? Ora, quando o governo resolveu reconhecer a crise em suas peças publicitárias, deu o mesmo conselho de Michel Temer só que com outras palavras: “"o povo sabe o caminho, crise se vence com trabalho". O povo sempre soube. Quem nunca soube foram os governos de mentalidade intervencionista deste país. Então, petistas não reclamem do discurso que vocês já adotaram só porque agora o discurso é adotado pelo campo político oposto. Oposto por circunstâncias, já que até ontem eram irmãos siameses e parte do mesmo problema.

Sendo assim, Michel Temer, parodiando o senador Fernando Collor de Mello (PTC) em um de seus discursos antológicos, eu digo: “pegue seu conselho e engula”, mas não digira como quiser. Digira pensando em quem é que tem que aprender o significado de trabalho e produção neste momento. Não é a população deste país, com certeza! Afinal, tem 11 milhões de pessoas que, neste momento, estão justamente procurando emprego para sair da crise. Então, como essa gente não vai falar dela e cobrar do governo? Responda-me, presidente, se for capaz.

Por fim, Temer, eu dou um conselho que foi dado de graça pelo Milton Friedman. De graça, mesmo ele sendo um defensor do capitalismo: “se colocar o governo para tomar conta do deserto, em pouco tempo pode faltar areia”. 

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