Violência, armas e os vira-latas de Pavlov

16/05/2016 15:22 - Bene Barbosa
Por Bene Barbosa
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O Brasil tem um grave problema de violência! O brasileiro não tem cultura para possuir armas! Armas Matam! Quem nunca leu, ouviu e até mesmo repetiu essas afirmações? Duvido que haja alguém que tenha escapado disso, exceção feita se essa pessoa tenha morado em uma caverna nos últimos 20 anos.

Cabe inicialmente a conceituação, mui superficial, da violência que é, de acordo com o dicionário Michaelis, qualquer força empregada contra a vontade, liberdade ou resistência de pessoa ou coisa. Em assim sendo, age com violência um bombeiro que arromba uma porta para salvar pessoas em um incêndio. Age de forma violenta o policial que algema um procurado. Age com violência um juiz que joga em uma cadeia superlotada um réu condenado. Age com violência o carcereiro que impede uma fuga de presos. Age com violência um cidadão que atira em quem lhe invade a casa com intenção criminal. Entenderam a coisa toda? Ao afirmar que violência é o problema estamos equiparando aquele que reage para salvar sua vida ao que tentou mata-lo para roubar seu celular, com isso, vítima e agressor, ambos são culpados, são parte do problema e não da solução. Oras, a verdade é que tentar, seja lá com que instrumentos, extirpar a capacidade para violência dos seres humanos não é obra de benevolência, não é uma linda utopia, é engenharia social! É caminho para a servidão. É arrancar traço humano responsável pela sobrevivência da nossa – e de tantas outras! – espécie!

Nelson Rodrigues, dramaturgo e escritor brasileiro, definiu como complexo de vira-latas “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem”. Daí nasce, e nisso se apoia, a ideia que o brasileiro não tem “cultura” para possuir armas. Uma ideia estapafúrdia, preconceituosa e destituída de qualquer embasamento fatídico que indique sua veracidade. Quem afirma tal inverdade desconhecem um Brasil de apenas duas décadas atrás, onde comprar e portar armas era algo absolutamente banal e nem por isso víamos tiroteios pelas ruas ou maiores índices de criminalidade, muito pelo contrário. Teria a sociedade brasileira regredido? Claro que não! Vejamos exemplos de países vizinhos como a Argentina, Uruguai e, em especial, o Paraguai que possuem legislações muito mais liberais no diz respeito à posse e ao porte de armas e taxas exponencialmente mais baixas de criminalidade violenta. O Uruguai, país mais armado da América Latina, tem a taxa de 7,81 homicídios por 100 mil habitantes, enquanto o desarmado Brasil já passou 30 homicídios por 100 mil habitantes.

E onde entra Pavlov nisso? Bom, para quem não sabe, o russo Ivan Pavlov foi um fisiólogo russo que usando cães estudou o chamado reflexo condicionado. O experimento consistia em tocar uma campainha sempre que o alimento era servido a um cão. Em determinado momento, o simples som da campainha fazia com que o cão salivasse, mesmo não existindo comida disponível. E como isso vem sendo usado até hoje? Já repararam nas manchetes “armas matam x pessoas todos os anos”? Repararam que nas novelas apenas os bandidos usam arma? Já viu as insistentes matérias envolvendo acidentes entre armas e criança? Repararam que todas matérias jornalísticas veiculadas nos telejornais cujo tema seja criminalidade tem como imagem de fundo uma arma de fogo?  Pois bem, ai está você sendo tratado como um cão do Pavlov! O objetivo é condicionar a imagem da arma de fogo sempre a algo ruim, catastrófico, dolorido e triste. “Au! Au! Armas matam”, repetiu o feliz o inocente útil do desarmamento.

O tema é extenso, complexo e merecerá complementos futuros, mas vou terminando por aqui. Para resumir: juntem a ideia de que violência é o problema em si, incentive o complexo de vira-latas e demonizem as armas como objetos que só trazem desgraça e dor. O resultado não poderia ser outro: um bando de vira-latas de Pavlov salivando e abanando alegremente o rabo para aqueles que lhe metem em uma coleira para dar uma volta no quarteirão ou para leva-los ao sacrifício enquanto repetem o mantra “arma é ruim, arma é ruim, o estado é bom, o estado sabe o que é melhor para mim”.

P.S.: ao terminar este texto, dou de cara com uma reportagem “Pavloviana” no perfil do Facebook da BBC Brasil (matéria traduzida da BBC inglesa). Ótimo exemplo dessa estratégia ao vincular crianças e armas de forma trágica, desconsiderando que muito mais crianças morrem em acidentes automobilísticos, afogadas em piscinas, baldes e privadas, envenenadas com produtos de limpeza, intoxicadas com remédios, vítimas de traumas provocados por quedas, eletrocutadas e vítimas de incêndios. Desconsideram, propositadamente, quantas crianças foram salvas exatamente por seus pais tinham armas. Aqui não BBC!

 

 

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