Tanto o deputado federal presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP), quanto o senador Renan Calheiros (PMDB), se mostraram aliados do governo de Dilma Rousseff (PT) nos últimos tempos. Mas há uma gritante diferença entre ambos. Renan Calheiros é um hábil enxadrista. Waldir Maranhão é uma “bucha de canhão” que foi utilizada pelo “poder central” na tentativa de melar o processo de impeachment. Renan Calheiros, como ficou claro, não chega a tanto.

A sensação que fica é que Waldir Maranhão, ao atender o canto da sereia dos governistas, comprou a versão de um Renan Calheiros que não existe. Alguém deve ter dito ao Maranhão o seguinte: “faça que com o Renan a gente se entende”. Só que quem entende o jogo é Renan Calheiros.

Uma trapalhada, como foi a decisão de Maranhão de anular a votação do impeachment na Câmara de Deputados, não nasce do nada. Ainda mais diante da preclusão clara. Tanto que, ao não encontrar apoio, o presidente da Câmara fez o óbvio: revogou a si mesmo.

Waldir Maranhão se anulou como um capacho do governo federal. Algo que Renan Calheiros – por mais aliado que seja – jamais faria. É isto que fez com que Renan Calheiros tenha optado por agir da forma correta, respeitando o jogo democrático. O acerto do presidente do Senado Federal deve ser reconhecido. Já critiquei Calheiros aqui várias vezes. Inclusive pelo comportamento governista longe dos holofotes, mas bancando o “isento” quando se acende a luz.

Critiquei também a lentidão do Supremo Tribunal Federal em relação aos inquéritos que Renan Calheiros responde. São vários. Se ele é inocente ou culpado, não cabe a mim o pré-julgamento. Mas, a velocidade com que Eduardo Cunha (PMDB) – o presidente afastado da Câmara – foi tratado, deveria ser a mesma em relação a Renan Calheiros. A máxima popular: o pau que dá em Chico há de servir para Francisco.

Os governistas, entretanto, aprenderam uma lição (se é que aprendem algo quando se trata arrumar subterfúgios para golpear o processo de impeachment em andamento): o Maranhão que dá na Câmara, não dá no Senado. Por sinal, revogar sua decisão – ainda que por pressão – foi uma ação inteligente Waldir Maranhão. Talvez a inteligência que ainda lhe sobra. Seguir com o ato circense seria cavar a própria cova. Correr o risco de ter o mandato cassado por quebra de decoro.

Maranhão se mostrou um analfabeto político no terreno onde Renan Calheiros tem doutorado.  Agora, o processo segue. Pode ter um preço para Renan Calheiros: ele ser lembrado pelos vermelhinhos que sempre fizeram questão de o esquecer. Talvez agora lembrem que o presidente do Senado também é citado na Lava Jato.

Em todo caso, Calheiros mostrou apreço pela democracia em terra de anões morais. E em terra de anões morais, qualquer centímetro a mais é destaque. Logo, é de se reconhecer a ação de Renan Calheiros, mas sem livrá-lo de seu passado carente de explicações à sociedade. Que o peemedebista mais poderoso da República até então se explique na Justiça. Que esta decida em relação ao que precisa ser decidido.

Agora, o processo segue. O fato é que Renan Calheiros confirmou, na noite de ontem, que a expectativa da análise de admissibilidade do processo de impeachment movido contra a presidente da República, Dilma Rousseff, se decida na próxima quarta-feira, 11.

Segundo o presidente do Senado, o encontro com líderes partidários deve definir o tempo de duração das intervenções. Eis a fala: “Nós decidimos que cada senador vai ter 10 minutos para discutir e mais cinco minutos para encaminhar. O ideal é que cheguemos a um meio termo, tudo acertado com os líderes dos dois lados. A expectativa é que pelo menos 60 senadores falem. Se isso acontecer, nós teremos 10 horas de sessão”.

Renan Calheiros complementa: “Nós vamos, a partir das 15h de amanhã (10), abrir as inscrições em dois livros diferentes. Um para quem está a favor da admissibilidade e outro para quem está contra. Vamos convocar a sessão para as 9h da quarta-feira; faremos uma interrupção ao meio dia; vamos retomar às 13h e seguiremos até as 18h; em seguida faremos uma nova interrupção e voltamos às 19h”

“O processo de impeachment é duro. A construção da democracia possibilita avanços e recuos. Eu vejo esse dia como um dia muito importante para que nós possamos avançar no aprimoramento das instituições”, finalizou Renan Calheiros.

É Maranhão, não vai ter golpe, vai ter impeachment. Outro capítulo que merece destaque é o apoio circense dos senadores petistas à decisão auto-revogada de Maranhão. Risível. Viraram piada na internet. A velha história dos homens que cantam de galo sobre as vantagens de seu Maranhão e na hora H só conseguem mostrar a ineficiência de uma minhoquinha...

No mais, Dilma Rousseff tem seus últimos dias de encastelamento. Levou para dentro do Palácio do Planalto as entidades chapa-brancas de sempre, que expuseram seus cartazes nos vidros do prédio deixando ainda mais claro o quanto o PT trata o público como sendo algo que lhe pertence. Nunca pertencerá. 

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