O presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB), é um enxadrista. Equilibra-se – na tempestade perfeita de Brasília – com um pé em cada canoa. O objetivo: manter os espaços políticos e não ser surpreendido pelas ações que estão em curso e que apontam para o seu envolvimento nos escândalos da Operação Lava Jato.
Fiel escudeiro da presidente Dilma Rousseff (PT), Calheiros trabalha com a inevitável queda da presidente. Não quer, conforme informações dos bastidores, perder espaços no PMDB, nem a influência que possui em Brasília. A saída de Dilma Rousseff também representa perdas para Renan Calheiros. Afinal, não é um dos amigos do vice-presidente Michel Temer (PMDB). Há até quem diga que são “desafetos” na legenda.
Calheiros, segundo os mais próximos, até o dia 1º de maio, não admitia a ascensão do vice-presidente ao Palácio do Planalto. Porém, de lá pra cá, não pode deixar de encarar a realidade. O afastamento de Dilma Rousseff já é tido como certo. Calheiros, portanto, busca os entendimentos com Temer. O presidente do Senado Federal se oferece ao vice para a construção de uma “agenda legislativa” para superar a crise.
Renan Calheiros precisa mostrar sua habilidade. Para seguir com a influência que possui hoje, terá que referendar o atual governo Temer ainda que mantenha o discurso da “relação institucional” ou pregar posições isentas, como faz quando os holofotes da mídia estão ligados.
Calheiros é um camaleão. Como pró-Dilma, ajudou na aprovação do antigo ajuste fiscal do governo; criou a Agenda Brasil, que não deu em nada porque era mera propaganda para tentar arrefecer a crise; trabalhou para derrotar Temer no PMDB; e bancou o “isentão” no processo de impeachment no Senado Federal.
Todavia, os fatos atropelaram Renan Calheiros. Não é mais o “homem da República” como era antigamente. Com nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal, só não foi à berlinda da militância petista por ser um aliado. Daí ninguém questionar a sua posição de comando no Legislativo, como se questiona a de Eduardo Cunha (PMDB), na presidência da Câmara.
A sobrevivência de Renan Calheiros está cada vez mais ligada à relação que ele terá com um futuro governo. O enxadrista terá que sinalizar isto. Nos bastidores, há quem diga que já tem feito.
Renan Calheiros aceitou tocar a agenda de Temer no Congresso Nacional. Comprometeu-se também a revisar uma menta fiscal no futuro governo. Deve apoiar a autonomia formal para escolha da diretoria do Banco Central. Em troca, Renan conserva espaço na legenda e tenta escapar ileso, coisa que Eduardo Cunha dificilmente conseguirá.
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