O senador Fernando Collor de Mello (PTC) vai vivenciar dois impeachments. Agora, do outro lado da moeda. Em 1992, Collor sofreu a angustia de ser afastado da presidência diante do escândalo de corrupção que foi apontado em seu governo.

Agora, em 2016, Collor votará o impeachment de uma presidente acusada de crimes de responsabilidade. O contexto também é de um governo mergulhado em escândalos de corrupção. Com uma diferença, entretanto. As cifras desviadas na atualidade são bem maiores que as da época de Fernando Collor de Mello.

O esquema de corrupção do governo petista superou – em muito! – o ocorrido no passado. Há uma cleptocracia que tomou conta da República, diante da roubalheira institucionalizada. Quanto ao impeachment, ele se resume a análise das operações de créditos e pedaladas fiscais cometidas pela presidente Dilma Rousseff.

Outra semelhança: nos dois processos impeachments, Collor foi personagem dos escândalos. Do primeiro, protagonista. Atualmente, um dos personagens coadjuvantes com destaque diante das suspeitas de também ter se beneficiado com os esquemas de corrupção descobertos pela Lava Jato. O senador do PTC nega ter cometido irregularidades. Ele se diz inocente.

Nos “mapas de impeachment” que estão sendo elaborados pelos movimentos de ruas e jornais, o voto de Collor é tido como “indeciso”. No entanto, o senador sempre foi da base aliada do governo. Inclusive, um dos motivos de ter saído do PTB é o fato do partido ter deixado de integrar a base aliada.

Recentemente, Collor disse que “não há outra alternativa que não ser votar o impeachment da presidente Dilma Rousseff”. Disse isto sem adiantar como votará.

Mas um trecho de seu discurso – no Senado Federal – chama a atenção. Collor se disse “desconfortável” por vivenciar o outro lado da moeda. Lembrou não estar a vontade de votar um impeachment de uma presidente que pertence ao partido que liderou o seu processo de cassação. No entanto, disse não guardar espírito de “vindita”.

Eis a declaração de Collor: “Não me sinto à vontade neste papel, até porque não carrego mágoas e, menos ainda, sentimentos de vindita. Entretanto, diante da autorização da Câmara para a instauração do processo aqui no Senado Federal, não terei alternativa”.

Collor ainda lembrou do quanto aconselhou o governo de Dilma em passado recente. “O tempo e o presente quadro de degradação do País me deram razão. Porém, o que perdurou foi a postura de sempre: me ouviram, mas não me escutaram. O governo continuou a agir exatamente de forma isolada e inversa aos inúmeros conselhos e alertas advindos deste Congresso Nacional. Aliou-se a insensibilidade política à fragilidade de uma matriz econômica descabida e insustentável”

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