Com a decisão de ontem, 17, na Câmara de Deputados, que deu sequência a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT), a “batata quente” está agora nas mãos do presidente do Congresso Nacional, o senador Renan Calheiros (PMDB).
Calheiros – enxadrista que é – sabe que ficará nos holofotes assim que as discussões se iniciarem na Casa. Será formada uma comissão com 21 senadores titulares e 21 suplentes.
De que forma Renan Calheiros – nos bastidores – atuará? Nos holofotes, já sabemos: dará a sensação de isenção. Foi o discurso adotado quando não foi ao encontro em que o PMDB rompeu com o governo.
Bem, quando ao processo de impeachment, após o Senado definir o trâmite são 10 dias úteis para o relatório e, 48 horas depois, a votação do parecer.
Se aprovado – por metade mais um – o processo será instaurado afastando a presidente do cargo. Depois disto é a luta para se ter 2/3 da Casa para se concretizar o impeachment.
Levando em consideração os números de hoje, há senadores suficientes para dar sequência, mas não para impedir a presidente futuramente, já que Dilma só perde o cargo se, na reta final, 54 senadores votarem por isto. As ruas vão seguir pressionando.
Mas por qual razão chamo atenção para qual comportamento Renan Calheiros terá? Até aqui, apesar de dar suas alfinetadas no governo, de forma cirúrgica e estratégica (basta olhar as datas das matérias e seus contextos), o senador peemedebista foi um aliado. Lutou para manter o PMDB dentro do governo, por exemplo.
Todos sabem da militância organizada que o PT comanda, bem como suas linhas auxiliares. Esta militância poupou Renan Calheiros do desgaste público.
Cunha – que era o presidente da Câmara – foi focado, por conta do processo que responde. Uma forma de descredibilizá-lo e impedir o processo no Congresso. Não conseguiram. O PT atacou Cunha por isto. Eu “ataco” Cunha porque quero que ele seja julgado.
Renan Calheiros, que responde a nove inquéritos, não foi lembrado no “combate aos corruptos” promovido por PT e aliados, por exemplo. O motivo? Calheiros é aliado.
Renan Calheiros, por outro lado, foi alvo dos movimentos de rua favoráveis ao impeachment. Em Alagoas, foi estendida uma faixa de “Fora Dilma” no prédio que o presidente do Senado Federal reside. Os protestos ocorreram na porta de Renan Calheiros. O peemedebista sofreu com a opinião pública. Porém, pender para o lado do governo tem as suas benesses.
Um questionamento que sempre pode ser feito é o seguinte: por qual razão, respondendo a nove inquéritos, estes não ganharam a velocidade devida no Supremo Tribunal Federal? Cunha, em bem menos tempo, se tornou réu. Ora, se Renan Calheiros e Eduardo Cunha devem, que paguem. Eles alegam inocência.
Renan Calheiros passou a manhã em reuniões com técnicos do Senado Federal para definir critérios para o trâmite do processo e formação da comissão. Vai agir com bastante cautela e com os passos de enxadrista que já são próprios dele.
Será que agora, a militância de esquerda, vai lembrar de Renan Calheiros? Vai lembrar que ele é também um dos personagens da Operação Lava Jato? É o que teremos que aguardar para saber. Vai depender muito mais de Calheiros, posso apostar, do que da militância.
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