Autor da série sucesso de vendas “Guia Politicamente Incorreto”, o jornalista Leandro Narloch já passou pela história do Brasil, da América Latina, do Mundo e agora – mais recentemente – sobre os mitos criados pela visão intervencionista sobre a economia, com O Guia Politicamente Incorreto da Economia. Narloch esteve, recentemente, em Maceió, em uma noite de autógrafos. Conversei com o escritor sobre diversos temas de suas obras e da atualidade. Confira o papo na íntegra.
Leandro, um fenômeno estranho, mas com sucesso editorial incrível, toma conta do mercado atualmente: os livros de revisão histórica. Diante disto, não soa estranho que as revisões mais polêmicas, na busca de recolocar os pingos nos is sobre determinados personagens e acontecimentos, estejam surgindo pelas mãos de jornalistas e não de historiadores. Como você enxerga isto?
É uma ótima pergunta esta. Além de mim, você tem aí o jornalista Laurentino Gomes e alguns outros que estão vendendo muitos livros de história. Mas, na verdade, eu creio que este movimento que reconta a História do Brasil foi precedida por um movimento na academia mesmo. Nos anos 60 e 70, a História do Brasil era muito vazia. Era aquela coisa de dizer que os ricos são do mal e os pobres são do bem. A partir da queda do muro de Berlim em 1989, o pensamento político ficou com mais nuanças. Ele ficou mais rico. Antigamente, um historiador tinha uma ideia do mundo e achava que ele era explicado pela luta de classes. Ele tentava aplicar esta forma de ver o mundo na História. Nos anos 90, houve o aumento de cursos de pós-graduação no Brasil, eles foram se debruçar sobre documentos. Teve muita gente – nesta época, no Brasil – estudando papel velho mesmo. Estudando testamentos e registros de cartório, na busca do que tirar dali. E isto nos trouxe uma revisão da História que foi riquíssima. Nós, jornalistas, conseguimos enxergar um mercado nisto. Vimos que as pessoas estavam cansadas da História sendo contada de uma forma simplória e com um único viés marxista.
Neste contexto, Leandro, qual é a importância desta revisão histórica que está acontecendo para o futuro do país?
O que eu espero como fruto desta nova História do Brasil que vem sendo contada é uma conciliação entre grupos diferentes do Brasil, entre classes, entre regiões. Os intelectuais – não só o brasileiro, mas do mundo todo – se esforçam para tornar a realidade mais feia. Em achar – e até insistir – que sempre uma pessoa está sendo humilhada ou oprimida por outra. De achar que o mundo piorou, quando as coisas melhoraram muito nos últimos anos, quanto ao avanço tecnológico que possibilitou uma vida melhor aos mais pobres, a pobreza que reduziu significativamente, enfim. À medida que a gente vai vendo que não é bem assim, que a História do Brasil – por exemplo – não é uma sucessão de humilhações ou opressões, a gente começa a enxergar que está todo mundo no mesmo barco. Para ajudar os pobres, o Estado não tem que tirar dos ricos. Se você tira demais dos ricos, você começa a prejudicar mais ainda os pobres também. A gente tem que buscar um contexto onde todo mundo se dá bem. Estamos no mesmo barco.
Nas obras que formam a série O Guia Politicamente Incorreto, você toca em personagens que são verdadeiros mitos, vistos como heróis por muita gente. Como o caso em que você fala dos crimes de Che Guevara, dos escravos de Zumbi, alguns fatos envolvendo Luis Carlos Preste. Isto acaba sendo provocativo. Muita gente odeia você por isto (risos). Há também neste sentido uma desconstrução de ideias que todo mundo enxergava como as únicas corretas. Como é que você vê isto?
Primeiro: começamos a tratar com mais maturidade estes personagens, né? Sejam heróis ou vilões. No Guia da América Latina, eu falo muito do Che Guevara e todos os crimes e assassinatos cruéis que ele cometeu. Ás vezes até crimes cobra crianças, mostrando uma revolução que matava sem piedade os seus opositores. Mas, até mesmo o Che Guevara a gente pode entender. É um personagem típico do século XX que coloca o seu projeto de poder e sociedade perfeita acima dos valores individuais e da vida. O Hitler foi assim. Tinha uma ideia na qual acreditava tanto, que era da nação perfeita da Alemanha, que qualquer crime acabava sendo justificado em função de uma ideia. O Che Guevara também. Tem muitos outros revolucionários assim no século XX. Por sorte isto passou, né? Hoje a gente valoriza muito mais a vida humana que os projetos utópicos coletivos, de algum grupo ou minoria.
Falando do tempo presente. Durante muito tempo se teve a dicotomia de que na esquerda está o bem e na direita está o mal. Hoje, há uma quebra desta visão e muita gente tem procurado ideias fora do campo de pensamento da esquerda, inclusive atribuindo a muita gente o rótulo de “nova direita”. Como você enxerga isto? É um fenômeno mesmo do nascimento de uma “nova direita” no Brasil? Você enxerga assim?
A vitória da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014, impulsionou muito a oposição. A Dilma está sendo a coveira da esquerda. As pessoas estão fugindo deste governo de esquerda por conta do constrangimento. É um governo constrangedor. Eu tenho amigos petistas que me falam isto. Então, natural que haja uma oposição crescendo. Mas esta oposição não é uma massa hegemônica. Ela é diferente. Você pode observar aí liberais que defendem menos Estado na economia, nas suas decisões individuais, como as questões sexuais ou substâncias que o individuo ingere, como também vê quem defende Ditadura Militar. Então, são grupos bem opostos. É um erro agrupar todo mundo em um rótulo de Direita. É impreciso e indevido. Eu não gosto destes termos “esquerda” e “direita”. Eu prefiro muito mais liberais, reacionários, conservadores – que são posturas diferentes – do que abrigar todo mundo em um mesmo rótulo, pois são posições que se diferenciam.
É o pior momento do nosso país?
Acho que não. Pelo menos as instituições estão funcionando. A gente vê as instituições funcionando. A gente está vendo isto com a Operação Lava Jato. Os funcionários públicos estão empenhados e trabalhando. Seria muito pior se o Supremo Tribunal Federal não estivesse funcionando. Isto acaba sendo – por exemplo – um ponto positivo para o PT. Os personagens da República sendo presos, mostra que está funcionando e punindo corruptos. Observar os poderes constituídos discutindo é bom também. É bom vê que os poderes podem discutir e divergir. Não é bom que eles estejam em conluio, que seja um amiguinho do outro.
Nós temos uma democracia com uma gama de partidos em que todos estão muito próximos ou são de esquerda, seja na social-democracia ou na esquerda mais radical. Qual a saída para se ter uma democracia com todas as correntes?
A saída é a batalha de ideias. Precisamos de mais participação nesta “guerra cultural” e mostrar soluções para coisas que as pessoas estão preocupadas, que é a pobreza, a extrema desigualdade, dentre outros pontos que estão sendo discutidos neste momento. Mostrar como livre mercado reduz pobreza, por exemplo. Como produz prosperidade. Mostrar que nos últimos 50 anos o mundo reduziu mais pobreza que nos 500 anos anteriores a estes. Isto é excelente. É um mundo onde menos 10% da população é pobre. Ótima notícia. Então, é neste ponto que precisamos divulgar nossas ideias.
Mas nós temos um ambiente dominando pelas ideias de esquerda. Isto é muito forte na imprensa e na intelectualidade. Não digo isto para dizer que não devam existir as ideias de esquerda. Eu acho que tem que existir todas, mas o outro lado é praticamente inexistente. Isto dificulta o debate de ideias de forma honesta e clara...
É difícil mesmo. Este é um problema que não é só do Brasil. Há muitos lugares nos EUA que é assim. Mas a internet está ajudando muito. O mercado está dando muito mais pluralidade de informações para as pessoas. Tem um lado ruim: criar guetos. Você só ouve aquilo que você gosta, só lê aquilo que você gosta e não confronta outras ideias. Isto faz com que pessoas se fechem em seitas e pensamentos esquisitos. Isto é ruim, mas é um efeito e um preço que a gente paga pelo que temos hoje.
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