Sobre a renúncia do prefeito de Rio Largo, Toninho Lins - que pegou muitos de surpresa - há pontos que merecem ser discutidos. O primeiro deles é o motivo do ato. Claro que a carta de renúncia de Lins traz porquês, mas toda fonte oficial merece ser questionada, ainda mais quando se trata de um prefeito que está sendo acusado de irregularidades pelo Ministério Público Federal (MPF).

Se Lins é culpado ou inocente, é uma questão que deixo para a Justiça. Não faço pré-julgamentos. Jornalismo - neste sentido - não é tribunal. Agora, isto não impede a análise dos fatos. Uma primeira pergunta natural que surge é: estaria Toninho Lins renunciando para evitar uma futura cassação? Para tornar - longe dos holofotes - mais fácil a dedicação a sua defesa?

Sabendo que estas perguntas são naturais, o advogado Adriano Soares da Costa - que faz a defesa de Toninho Lins - escreveu um texto em suas redes sociais que julgo interessante de ser compartilhado. Acho Soares um dos mais competentes advogados do Estado e não escondo isto. Toninho Lins está bem servido. 

Soares cumpre seu papel com ética, pautado por argumentos sólidos e pela legislação. Inclusive está certo quando fala do fatiamento da ação para dar volume, para parecer que é do pior prefeito do mundo que estamos falando. Está certo também ao lembrar que as acusações contra Lins também deveriam pesar contra a vice Maria Elisa, e aí para os mesmos pesos, as mesmas medidas.

Bem, Soares ressalta que Toninho Lins renunciou ao mandato “para cuidar de sua defesa (isto responde a segunda pergunta que fiz lá em cima) e evitar que a cidade continue politicamente instável". Em relação a este segundo ponto, confesso que ainda não me vejo convencido por Adriano Soares. Não vejo com facilidade um político jogar a toalha por este motivo há um bom tempo. Entendo, entretanto que a saída da prefeitura pode pesar e muito na dedicação à defesa, inclusive a distância dos holofotes ajuda bastante.

Soares lembra ainda que “não existe contra ele nenhum processo de cassação na Câmara Municipal. Então não é essa a motivação da renúncia além do que exposto em sua carta à Câmara Municipal”. Mas em um ambiente instável, o que garante que isto não poderia vir a existir, sobretudo se houvesse uma recondução de Lins ao cargo e a disputa política se aprofundasse.

A Câmara Municipal não é um tribunal jurídico, mas político. Uma briga por lá desgastaria ainda mais Toninho Lins. O exercício de futurologia que aqui faço poderia muito bem passar pela cabeça do prefeito. Repito: aqui é só uma análise com questionamentos que acho justos de serem feitos. Faço-os em quanto ao processo político. Não ao jurídico.

Por que separo as coisas? Bem, destaco um trecho de Soares que mostra o motivo pelo qual discuto o assunto assim: “é sabido que havia um interesse político de grupos ligados à vice-prefeita em cassá-lo, ainda que sem razões jurídicas. Não é à toa que recentemente ela determinou fossem propostas duas ações de improbidade para afastá-lo do mandato, uma delas no plantão de carnaval”. Eis a palavra “cassá-lo” aí! Logo, este desdobramento poderia chegar ao Legislativo.

Logo, não acho a decisão tomada por Toninho Lins humilde. Madura é. Há um pouco de desapego? Há. Porém, é uma decisão estratégica em função do ambiente político de Rio Largo que pode - inclusive - ser desfavorável ao ex-prefeito (já é possível tratá-lo assim). Sendo assim, peço licença a Soares para exercer a discordância respeitosa, ao mesmo tempo que sigo o admirando profundamente como advogado. 

Dentro desta estratégia, não vejo toda essa preocupação com os “dissabores ao povo”, como ressalta seu advogado de defesa. Vejo sim, a preocupação com seu próprio futuro político. Afinal, prefeito jovem que tem eleições pela frente. 

A análise que faço não precisa ser a de meu leitor. Este pode fazer sua própria, por isto eis a íntegra do que fala o advogado de defesa Adriano Soares:

Uma manifestação oficial sobre a renúncia do Prefeito de Rio Largo: - Toninho Lins renunciou ao mandato para cuidar da sua defesa e evitar que a cidade continue politicamente instável. Não existe contra ele nenhum processo de cassação na Câmara Municipal. Então não é essa a motivação da renúncia além do que exposto em sua carta à Câmara Municipal.

É sabido que havia um interesse político de grupos ligados à vice-prefeita em cassá-lo, ainda que sem razões jurídicas. Não é à toa que recentemente ela determinou fossem propostas duas ações de improbidade para afastá-lo do mandato, uma delas no plantão de carnaval.

Toninho Lins tomou uma decisão madura, humilde, pensando no povo de Rio Largo, em sua família e na sua defesa, que tem demonstrado a correção dos seus atos. Não poderia ficar à mercê de interesses políticos menores, que apenas trariam mais dissabores ao povo riolarguense.

Toninho Lins informou à Câmara "a minha renúncia irrevogável ao mandato de Prefeito Municipal de Rio Largo, que honrosamente me foi confiado pelo voto livre e soberano do povo. Desde que eleito, não pude exercer a inteireza das funções que me foram atribuídas pela vontade popular. Foram diversos afastamentos decorrentes de decisões judiciais a respeito de fatos ocorridos no primeiro mandato, cuja inocência estou provado durante a instrução dos processos. Sim, em meu caso não me foi dada a presunção de inocência, de modo que ao invés de provarem a minha culpa tenho eu que provar a correção dos meus atos.”

Disse ainda que: "Pensando no meu povo, nas pessoas que votaram em mim e comigo sonharam com a construção de uma cidade mais humana, mais justa, com serviço público de qualidade, resolvi tomar essa decisão de sacrifício pessoal, porque acima dos meus interesses devem estar o da população". Lembrou que com todos esses atropelos que marcaram a sua vida, ferindo a sua alma e dos que o amam e cercam, conseguiu construir inúmeras escola e casas, ampliando os programas sociais, fazendo obras necessárias e cuidando dos mais humildades: "Orgulho-me da atuação da minha equipe, de todos que contribuíram em fazer tanto com tão pouco e apesar de todas as adversidades’.

Finalmente, disse ele:

"A minha renúncia decorre da esperança de que se estabilize o processo político e possa a minha sucessora fazer o mínimo pela cidade, que hoje se encontra abandonada, com lixo nas ruas e as pessoas descuidadas. Que não haja mais desculpas para esse abandono e que a nova prefeita cumpra o mínimo do que dela se espera: não deixar que esse abandono da sua gestão interina cause ainda mais dano ao nosso povo sofrido.

Saio da prefeitura pelo povo e para cuidar da minha defesa. Saio da Prefeitura mas não abandono os que me elegeram nem a vida pública. Saio com humildade para dar uma clara demonstração de que há valores maiores do que um cargo: a lealdade com o seu povo e a necessidade de construir uma nova história com todos os que confiam em mim e sabem que sempre honrarei a história do meu pai, como prefeito que foi, e da minha mãe, como eterna educadora que é. Por eles, pela minha esposa, pelos meus filhos e por todos os que me amam, estarei me dedicando a resgatar todos os meus sonhos e os valores que acredito e pelos quais entrei na política: depurando esses processos, mostrando a correção dos meus atos, construir um legado que o povo de Rio Largo tenha orgulho.

Comunico, então, a minha renúncia ao mandato, agradecendo ao povo de Rio Largo cada voto, cada gesto de carinho, cada abraço acolhedor, cada oração, os quais me lembro e guardo em meu coração com muita emoção e gratidão."

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