O escândalo que atingiu o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB) em 2007 está de volta às manchetes de jornais. Calheiros é acusado de falsificar documentos para comprovar renda por ter utilizado de lobby para pagar a pensão à filha que teve fora do casamento.

Não se trata de juízo de valor sobre a vida pessoal do senador Renan Calheiros. Quanto a isto, o que é privado que permaneça privado. A questão é quando o público se confunde com o privado. Algo muito comum nesta República. Foi isto que fez com que Renan Calheiros enfrentasse uma tempestade política que quase lhe custou o mandato de senador em 2007.

Renan Calheiros era presidente do Senado Federal quando as denúncias estouraram. Foi acusado de usar laranjas, de falsificar documentos, dentre outras questões. Exímio enxadrista que é conseguiu articular e permanecer no mandato, mesmo perdendo a presidência do Senado Federal. Anos depois - reeleito senador em 2010 - Calheiros deu a volta por cima. 

Hoje é um dos principais nomes (no sentido de influência política e poder) da República e presidente do Senado. A situação de Calheiros atualmente é bem mais complexa de que no escândalo do passado. Além das denúncias de 2007, que se transformaram em denúncia do Ministério Público Federal que pode tornar o presidente do Senado réu no processo, ainda responde a seis inquéritos frutos da Operação Lava Jato, que é um dos maiores escândalos de corrupção do mundo. Bem verdade que além de Renan Calheiros, outros também são alvos de inquéritos por conta da Lava Jato. Em Alagoas, os outros dois senadores configuram na lista: Benedito de Lira (PP) e Fernando Collor de Mello (PTB).

Mas Renan Calheiros é o presidente da Casa. Conforme as investigações andam mais insustentável fica a situação do peemedebista-mor de Alagoas, haja vista o que acontece com o presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Mas Calheiros é governista. Neste governo federal do aparelhamento isto significa ser mais blindado que Cunha.

Logo, contra Cunha as coisas andam de Ferrari. Contra Renan Calheiros, andam de Fusca. Mas andam…

Agora, com as lembranças de 2007 batendo em sua porta, Renan Calheiros resolveu se defender de forma mais enfática. Disse que não há “dinheiro público” no pagamento da pensão à filha que teve fora do casamento. 

É que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve decidir em breve se Renan Calheiros vai virar réu por peculato (que é desvio de dinheiro público), falsidade ideológica e uso de documento falso. Ele é acusado de ter recebido propina da construtora Mendes Júnior para pagar as despesas pessoais - o que inclui a pensão - em troca de emendas parlamentares para a empreiteira. 

Renan Calheiros - na época - enfrentou cinco denúncias no Conselho de Ética do Senado. Foi salvo por seus pares. A denúncia mais devastadora foi feita pela mãe da filha de Renan Calheiros, a jornalista Mônica Veloso. Em entrevista à Veja, ela disse que um lobista entregava a ela pacotes com dinheiro em nome do senador para custear a pensão alimentícia. 

Renan se defendeu afirmando que tinha recursos próprios para custear a despesas. E alegou o investimento em gado, o que teria lhe rendido um lucro acima da média com as transações rurais. Por esta razão, o escândalo ficou conhecido como os “bois de ouro” do senador Renan Calheiros. 

A denúncia do MPF afirma - com base em laudo da Polícia Federal - que os resultados das transações financeiras são falsos e que os documentos foram forjados. 

Calheiros se defendeu afirmando que ele mesmo quem pediu a investigação junto ao Supremo Tribunal Federal e ao Ministério Público Federal. Renan Calheiros até pediu, mas não é o fato dele ter chamado a investigação para si que o faz inocente, mas sim se realmente os documentos são falsos ou não. Se forem - e assim o STF entender - a vida de Calheiros se complica. Se inocente for, que tenha a inocência reconhecida.

O fato de ter sido ele a pedir as investigações não muda em absolutamente nada a situação. 

Calheiros diz ainda já ter dado “todas as explicações”. E se Renan Calheiros virar réu no Supremo? Ele ainda não respondeu se deixa ou não a presidência. Os aliados dilmistas (e petistas) que hoje o apoiam pedirão sua saída assim como fazem com Eduardo Cunha, ou para estes os Chicos são diferentes dos Franciscos? A resposta pode vir com o tempo e com a decisão a ser tomada pelo STF. 

Em todo caso, o peso de Cunha para o governo é um. O de Renan Calheiros é outro.

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