A secretária estadual de Saúde, Rosângela Wyszomirska, esteve - recentemente - no programa Manhã da Globo (Rádio Globo AM-710). Em entrevista a este blogueiro, Wyzomirska falou sobre diversos assuntos, dentre os quais a situação do Hospital Geral do Estado (HGE). 

Trago - aqui neste blog - alguns dos principais pontos da entrevista concedida pela titular da pasta que, desde o ano de 2015, enfrenta diversos problemas, dentre estes, o desabastecimento do Hospital Geral do Estado e o desfinanciamento do Sistema Único de Saúde. 

Confira os trechos do bate-papo com Rosângela Wyzomirska.

A senhora completa seu primeiro ano no comando de uma das pastas que mais enfrentou dificuldades no governo de Renan Filho (PMDB): a Saúde. Neste primeiro ano, houve crise com fornecedores, abastecimento de hospitais, dentre outras questões. Qual a avaliação que a senhora faz? Deu para avançar neste primeiro ano?

Pergunta direta. A resposta é que melhoramos em alguns aspectos e em outros, não. Alguns entraves - e falo primeiro na questão da assistência-saúde - que tínhamos melhoramos. Conseguimos resolver. Vou citar alguns durante a entrevista. Em relação à administração e problemas administrativos, melhoramos inicialmente, mas voltamos a ter problemas. O exemplo disto é o desabastecimento. Então, conseguimos sim caminhar, pelo menos na organização e no entendimento da complexidade da Saúde. Em outras áreas, nós tentamos caminhar um pouco e recuamos. Passamos o ano tendo muitas dificuldades. Como você bem colocou, muitas relacionadas ao poder de licitação da gestão pública. 

Na questão do abastecimento, uma das mais visíveis é do Hospital Geral do Estado (HGE). Nós vimos, na imprensa, familiares de pacientes dizendo que não se tinha a alimentação adequada, a questão dos medicamentos. A situação do HGE - depois de um ano desta gestão - é melhor, na avaliação da senhora, que aquele que foi encontrado?

Bem, sobre o HGE eu diria o seguinte: na minha visão melhoramos. Implantamos serviços extremamente importantes para a população, que foi a unidade de AVC, organizamos a ortopedia e no final do ano tivemos um baque, com o fechamento do Hospital do Açúcar. Quando fechou o serviço no Hospital do Açúcar, aí veio o problema para o HGE. Então, demos uma recuada e estamos novamente reorganizando a ortopedia. Melhoramos a assistência vascular. Hoje, o HGE tem uma capacidade de resolver as doenças vasculares, como a cardiovascular, porque implantamos a unidade de angioplastia primária. Eram estas as situações mais complexas do HGE. A maior causa de morte era o derrame cerebral. Então, fomos para ele. Implantamos a unidade de AVC, que é a única no Estado e que funciona e dá resposta. Reverte os indicadores de saúde. A segunda grande causa eram as doenças cardiovasculares e com o que fizemos muitas vidas foram salvas. Ainda neste mês de fevereiro ou março vamos abrir a hemodinâmica dentro do HGE. É um grande avanço. Nestes aspectos, foram passos largos. A proposta é que o HGE tenha super-áreas de especialidades organizadas para que não dependamos do privado, nem do contrato externo ao HGE. Agora, a sustentação disto tudo é um grande problema que não conseguimos resolver, que é diminuir a demanda para o Hospital. A demanda de casos que não era para ir pra lá, não resolvermos. Apesar de termos trabalhado um projeto de regionalização. Fizemos uma primeira etapa. Este ano vamos continuar investindo em regionalização, pois entendemos que é o que vai reduzir este problema. Outro problema é que não se conseguiu abrir as UPAs de Maceió. Isto reforça ainda mais os casos no HGE que não são para ir para lá. É o único hospital que entende neste Estado. Enquanto permanecermos assim, vai dá sempre esta sensação à população de que o caos está sendo instalado. Mas no HGE não tem caos. Temos a melhor equipe. A área vermelha de lá é quem melhor atende, a melhor equipe deste Estado e preparada para receber e resolver. Por fim, a questão do abastecimento: pelo fato de ser o único hospital, temos que construir dois novos hospitais. Só que isto demora para acontecer. Demora uns três anos para termos estes hospitais prontos. O desabastecimento foi algo muito sério. Grave. No final do ano passado, tivemos o problema com os alimentos. Tivemos um ano aguardando a saída das atas do registro de preço, porque não é a pasta da Saúde que licita, mas a Amgesp. Aguardamos a chegada das atas para abastecer. As atas de registro de preços de alimentos foram concluídas, mas chegou próximo ao final do ano. Então não tivemos tempo para fazer o pedido. Veio o fechamento do Siafem e veio o problema sério de desabastecimento que tivemos que resolver caso a caso. Tivemos que fazer fracionamento de processos que é proibido por lei. Então, você comete uma improbidade administrativa para apagar incêndio. Foi isto que fizemos no final do ano e ainda estamos neste processo. Agora é que começa a regularização das atas do registro de preço. Com o Siafem fechado também perdemos a capacidade de pagar e fazer empenho. O fornecedor fica sem querer entregar. Acredito que com a abertura e o ano começando a funcionar a gente comece a respirar com tranquilidade. Em relação aos medicamentos, muitas atas não foram concluídas, mas até março teremos estas atas para termos o ano e 2016 mais tranquilo em relação a abastecimento. 

Recentemente vimos o problema em relação às cirurgias pediátricas, com esta questão envolvendo o Hospital Nossa Senhora da Guia sem atender. Como isto está sendo resolvido?

É preciso logo esclarecer: o Estado de Alagoas não deve nada ao hospital nem ao complexo da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. É mais uma crise. Este é um grande problema da pasta da Saúde: gerenciar crises. Quando a gente começa a achar que está regularizando alguma coisa, vem um problema. Tivemos no ano passado a questão da Zica e da microcefalia e agora vem esta questão da cirurgia pediátrica, que é uma dificuldade existente entre a Secretaria Municipal de Saúde - que é quem contratualiza os serviços - com os prestadores, que é uma dificuldade que eles tiveram o ano passado. Com isto gerou esta dificuldade que teremos que administrar. É uma situação que a gente achava que tinha avançado, porque havíamos resolvido parcialmente a situação das cirurgias cárdiopediátricas, que era um grande drama no passado. Em janeiro de 2015 era um tumulto grande, porque se fazia o transplante fora do Estado. Conseguimos dar encaminhamento e as cirurgias começaram a ser realizados aqui no Estado e só os mais complexos saiam de Alagoas. Realizamos uma cirurgia cardíaca na Santa Mônica, ainda simples e de pequeno porte. Estávamos querendo caminhar assim relação à pediatria. Organizaríamos a cirurgia cardíaca pediátrica e partiríamos para a neurocirurgia. Aí vem agora este embate que são as cirurgias pediátricas de pequeno porte, que eram feitas na Nossa Senhora da Guia. O Hospital Universitário realiza uma parte disto. Em Arapiraca, temos parte disto. Com esta atitude da Santa Casa, nós vamos ter agora que recuar para voltar a discutir e a pensar junto com o município para como vamos fazer. Não é um grande volume, mas existe sim e são procedimentos da pediatria. Espero que consigamos resolver isto para que então possamos avançar na alta complexidade que é a grande competência do Estado. Mas nos sentimos na obrigação de estarmos sempre voltando para as necessidades da pequena e da média complexidade. 

Outra questão que tem afetado o Estado em todo o país é o desfinanciamento do SUS. A pasta da senhora perde recursos por este lado e também perde de outra fonte, que são os recursos próprios em função das quedas no Fundo de Participação Estadual (FPE). Como trabalhar diante disto, pois ao passo que aumentam as necessidades de ações se reduzem os recursos?

Esse é um grande problema. Sempre a gente fica dizendo que a questão é dinheiro. Mas, é também. Tem a questão de dinheiro para organização da gestão, mas a questão do desfinanciamento é muito séria. Há mais de um ano que nós levamos para o Ministério da Saúde - junto com o governador Renan Filho (PMDB), que tem estado sempre junto com a gente - todo o nosso projeto e o que planejamos para melhorar a Saúde de Alagoas. Isto tem um custo. Até hoje não tivemos respostas. Foram várias reuniões. Logo, no começo do ano - na primeira semana de janeiro de 2016 - nós estávamos no Ministério da Saúde e não temos o respaldo, nem a resposta. Nós ficamos exatamente como você descreveu: com menor volume de financiamento e os problemas que só aumentam. É um exemplo disto o que ocorreu com a microcefalia, quando o Estado assumiu a condução dos trabalhos, que é quem está organizando e oferecendo atendimentos, todos os procedimentos. Foi o Estado que assumiu e isto significa mais custos. Sempre mais custos. 

Secretária, em relação à falta de medicamentos para Alzheimer e para os pacientes que possuem diabetes?

Durante o ano de 2015 o abastecimento destes medicamentos de fato oscilou muito. Tanto os medicamentos para Alzheimer quanto as insulinas. As dificuldades foi de compra e entrega. Além disto, por termos dificuldades de licitar, como falei. Estes dois itens a Amgesp não conseguiu licitar. A gente fica dependendo das pequenas compras. Isto faz com que se apague um incêndio e depois tenha o problema novamente. Como não são medicamentos ligados diretamente a salvar vidas, como no caso do Alzheimer, que não cura a doença, mas apenas melhora um pouco o quadro o paciente sem interromper a evolução, então priorizamos outros medicamentos que salvam vidas. Na questão das insulinas, temos substitutos. Que não são as insulinas melhores com menos efeitos colaterais, mas temos os substitutos. Como não são medicamentos que salvam vidas, então ficamos nesta questão de apagar focos de incêndio enquanto não saia a licitação. As situações são essas infelizmente enquanto esperamos as atas de preços. 

Um dos problemas que - comumente - a senhora mesmo destaca em entrevistas é a dificuldade da estruturação da atenção básica, muito responsabilidade dos municípios. Neste sentido, eu indago: existem parcerias com os municípios no sentido de se estruturar uma rede que funcione de forma a desafogar o próprio HGE?

Nós - no ano passado - fomos a todas as regiões para fazer um levantamento das situações de cada uma delas. Com isto, nosso maior objetivo é regionalizar mesmo o atendimento. Para que cada região possa ter a capacidade de resolver as questões de Saúde no local. Isto em torno de 60% a 70%. Para evitar - com isto - o acumulo em Maceió e Arapiraca. Começamos uma segunda etapa deste trabalho, indo novamente a todas as regiões. Queremos poder monitorar todas as ações. Vimos unidades de atendimento, no interior do Estado, que não tinha ninguém sendo atendido, enquanto na capital tem gente pendurada no cipó para ser atendida. Então, as pessoas vão para a capital para ir ao Hospital, quando o atendimento primeiro, quando a porta de entrada, seria no atendimento em uma unidade local, até mesmo como porta de entrada. Então, precisamos deste olhar voltado às regiões para estruturar esta atenção básica e tirar estes atendimentos de dentro do Hospital, que não é a entrada, mas o ponto final do atendimento. Precisamos avançar e melhorar a área intermediária, que é a área de média complexidade, que é o diagnóstico. Os locais para a realização dos exames e os atendimentos de pequeno porte que não precisam estarem todos nos hospitais. Esta é a principal proposta de 2016, além das ampliações e do início das construções dos hospitais novos. Nós queremos ampliar quatro hospitais, nas quatro regiões mais carentes de Saúde do Estado, que é a região em que a referência é Porto Calvo, a região em que a referência é União dos Palmares, a que a referência é Viçosa e a região onde a referência é Delmiro Gouveia. Vamos colocar lá centro de diagnóstico e especialidades para tentarmos resolver ou minimizar este problema. É preciso dar às regiões maior autonomia e capacidade de resolver os problemas de Saúde.

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