Doutrinação na escola é algo que precisa ser combatido sempre. Não é uma lei que vai por fim a esta péssima conduta dos militantes que se travestem de professores. Graças a Deus que não são todos os professores. Muitos são sérios, independente da postura que adotem quanto às suas concepções pessoais.

A melhor forma de combater doutrina é: o acompanhamento dos pais e mães. Que estes estejam sempre atentos e estudem ao lado de seus filhos, na busca por confrontar fontes primárias, interpretações e argumentos. Isto deve ser feito - sobretudo - nas disciplinas da área de Humanas.

Tenho batido nesta tecla em alguns textos deste blog. Em casa, a educação de minha filha é acompanhada passo a passo. Não há material didático que não seja lido por mim. Se pudesse dar um conselho aos pais, seria este: façam o mesmo. 

E quando o assunto é doutrinação, é preciso que se esteja atento a todas: política, ideológica e religiosa. São os pais que educam. A escola é uma ferramenta fundamental neste processo, desde que ciente de seu papel, de forma honesta, objetiva e mantendo o diálogo com a família.  É uma parceira importante, mas pais e mães não podem abrir mão de suas responsabilidades.

Trago este assunto mais uma vez ao blog por conta da quantidade de cópias de materiais didáticos que venho recebendo desde que decidi abordar o tema Escola Livre, defendendo o projeto. É a minha posição. De forma respeitosa, nunca ataquei por meio de adjetivos os que pensam o contrário de mim. O ataque histérico e adjetivado é a arma dos canalhas. Eu sempre preferi os argumentos.

Desta vez, destaco um destes materiais: de um livro de História do Sistema Poliedro. Eis que a apostila (o que jamais substitui o livro. Os pais e mães precisam saber disto e direcionarem seus filhos a livros diversos e fontes primárias) traz um capítulo sobre a Revolução Russa.

O livro abre com uma pose de Lênin (líder da revolução de 1917) como um super-herói e tenta trabalhar o conceito de revolução com os alunos, como se os moldes russos fossem sinônimo de criação de um mundo de igualdade social plena, justiça e respeito aos direitos humanos. Inclusive indaga, em um exercício, o seguinte: “você considera possível criar um mundo no qual exista igualdade social e direitos de acordo com a proposta socialista, sem que uma revolução aconteça?”.

Eu respondo: “em que pese haver esquerdistas que acreditam - de forma romântica - que os processos revolucionários trarão a justiça utópica de um mundo de riquezas distribuídas igualmente com respeito aos direitos humanos, afirmo sem medo de errar: as revoluções que tiveram como motivação os ideais comunistas geraram genocídios, miséria, mortos pela fome, ditaduras, ausência de liberdade, dentre outros males fartamente comprovados em fontes históricas sérias, como - só de exemplo - a obra A Era da Catástrofe Social de Robert Gellately, Os Ditadores de Richard Overy e o famoso Livro Negro do Comunismo. Contraponto o conceito de revolução, as democracias ocidentais - mesmo contendo falhas que precisam ser combatidas sempre - se mostraram terrenos férteis para inúmeras conquistas sociais e respeito aos direitos humanos, com base em valores judaico-cristãos”. As fontes que aqui cito - dentre outras - parecem ser desconhecidas dos autores das tais apostilas. Eu ainda mostraria uma imensa lista de autores a justificar o que digo. Alguns: Roger Scruton, Cristopher Dawson, Russell Kirk, Thomas Sowell, Michel Henry e o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (indico dele o seguinte livro: Invasão Vertical dos Bárbaros)

Não digo para que delas (das apostilas) sejam retirados o pensamento marxista. Claro que não! O aluno precisa ter acesso a obra de Karl Marx e aos seus contrapontos. Ora, que seja posto. É justo que o aluno veja tudo. Mas o TUDO inclui justamente as fontes históricas que mostram onde estas ideias deram, as consequências, como bem diz o pensador Richard Weaver, em As Ideias Têm Consequências. Isto sem contar com as análises políticas do processo e as teses econômicas que confrontam as teorias socialistas. A Escola Austríaca é um bom exemplo. 

Mas, nos nossos Ensinos Fundamental e Médio o aluno consegue sair do processo educacional sem ter acesso a isto. É como se só um lado existisse. O pior: este único lado que existe ainda despreza o seu contraditório e - por vezes - as próprias fontes primárias. 

Por que falo das fontes primárias? Ora, se o assunto traz a concepção de revolução na ótica da Revolução Russa e seus líderes porque não mostrar o que diz o próprio Lênin. Cito um conselho de Lênin para que a revolução avance. Está em um dos memorandos encaminhados por ele ao Conselho de Comissários do Povo. 

Eis o trecho de Lênin: “Camaradas! A insurreição de cinco distritos camponeses precisa ser implacavelmente esmagada. 1) Enforquem - e estejam seguros de que o enforcamento terá lugar às vistas de todo o povo - não menos que uma centena de conhecidos kulaks, pessoas ricas, especuladores; 2) publiquem seus nomes; 3) confisquem toda a sua produção; 4) façam reféns…alardeiem tudo isto de modo que centenas de quilômetros em torno o povo possa ver, inteirar-se e tremer, gritando: eles estão estrangulando e irão estrangular até a morte os kulaks especuladores”.

Depois de lido isto, pediria aos professor - com tal módulo em mãos - indagasse se os alunos, pais e mães destes alunos e diretores da escola acha correto ainda indagar se esta revolução é o melhor meio? Se Lênin é o herói a ser mitificado na abertura do capitulo da apostila, tendo ele defendido o enforcamento de pessoas simplesmente por discordâncias políticas e de visão de sistema de organização social. Há ainda uma série de fotos dos campos de concentração e uma vasta obra sobre Stalin. Material de apoio é que não falta para se analisar a Revolução Russa sobre vários ângulos. Incluindo o ângulo dos doutrinadores. Que se confrontem os argumentos. 

O ensino da História só se faz diante da análise das fontes primárias. Esconder algumas destas fontes para que se prevaleça uma interpretação é uma vigarice intelectual. Isto inclusive é denunciado por um dos maiores historiadores da Idade Média, o senhor Jaques Le Goff. 

Todavia, o papel da doutrinação - e aí indico esta obra aos pais e mães de alunos do Ensino Fundamental e Médio - é explicado em detalhes por Thomas Sowell na obra Os Intelectuais e A Sociedade, publicado - no Brasil - pela É Realizações. 

Vejam o que diz Sowell quando mostra claramente o momento em que a educação erra quando "um processo habitua as crianças a tomarem posições sobre assuntos excessivamente complexos e pesados, depois de ouvirem apenas um lado das questões. Além disto, elas se habituam a extravasar suas emoções, em vez de se habituarem a analisar as evidências conflitantes e a dissecar argumentos”.

Estudos sobre esse processo é o que não falta. Ele existe sim. São militantes que fazem papel de professor. E há militantes na esquerda, como há na direita, como há em religiões. Todos estão errados de usarem sala de aula como palanque. Eu sou contra qualquer um deles. A escola é um ambiente de produção de conhecimento livre e não de promover uma concepção ideológica específica como verdade absoluta. Se os estudantes não tiverem acesso a várias fontes para que eles possam questionar e pensar por si mesmos, não serão estudantes, serão meros discípulos. 

Além disso, o pensador Thomas Sowell nos ensina a termos cuidado com os discursos dos intelectuais que bancam ser os anjos de candura. Por vezes, o que eles querem é ter autoridade sobre o monopólio das virtudes morais para com isto - por meio de suas opiniões - terem influência política e lucrarem com ela.

Se um professor acredita em suas revoluções e quer defendê-la, é um problema dele. Um direito dele, inclusive. Mas em sala de aula, ele tem que ensinar o processo histórico respeitando as fontes primárias existentes em relação aquele processo ainda que algumas destas fontes o contradiga. Ainda que seja livre - e deve ser! Defendo que seja! - para dar sua opinião sobre. Ele não é professor se varrer o conhecimento que não lhe agrada para baixo do tapete. Simples assim!

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