Liberdade de expressão: mera quimera

05/02/2016 14:50 - Geral
Por Candice Almeida

Há quem diga que os jornalistas são importantes núcleos de resistência democrática. Para elas, é essencial que os graus de corrupção sejam expostos, assim como a necessidade de uma reforma política e social, para que o público compreenda a exata importância de uma imprensa livre de amarras.

O compromisso profissional que os jornalistas firmam explica porque o mundo atual tem sido um inferno para muitos repórteres, cujo trabalho tem sido vigiado por governantes especializados em violação à liberdade de imprensa, mas também em perseguição até a morte de jornalistas inconvenientes ou desafetos políticos.

Um relatório dos Repórteres sem Fronteira de 2015 atesta que a liberdade de expressão continua sendo apenas uma ideologia em boa parte do planeta. Durante o último ano, 110 profissionais do jornalismo foram assassinados em todo mundo, sendo que ao menos 67 deles em decorrência de sua profissão ou de seu exercício. Só na última década foram 787 jornalistas mortos.

A França aparece entre os países mais perigosos para o jornalismo. Só no atentado contra o jornal Charlie Hebdo foram 12 profissionais assassinados. Há ainda países onde o ataque a jornalistas tornou-se lugar-comum, como: Síria, Iraque, Iêmen, Sudão do Sul e Filipinas. É natural que em locais de conflito, em guerras civis, até mesmo entre tribos rivais, haja maior perigo, principalmente aos jornalistas cujo trabalho é cobrir as zonas de risco.

Sem constrangimento, há atores políticos mundiais que também se acostumaram a permitir tais perseguições, agressões e até assassinatos, desde profissionais até pessoas comuns que exercem a liberdade de expressão como papel de informar ao público o que incomoda aos poderes instituídos.

Índia e México são os melhores exemplos, mas também potências mundiais como a China, que é o país que mantém maior número de jornalistas presos em todo o mundo. A violência deliberada contra os jornalistas revela o fracasso das iniciativas adotadas para protegê-los.

E a tendência, segundo mostram os números apresentados pela RSF, em vez de mitigar, é o crescente número de detenções arbitrárias, assassinatos e torturas contra jornalistas. Segundo a Unesco, em média um jornalista é morto por semana no mundo e menos de 6% do total de 593 assassinatos de jornalistas (2006-2013) foram resolvidos.

A jornalista Vanessa Alencar registrou em sua coluna semanal no CadaMinuto Press (nº. 117),  que aumentou o número de casos de violência contra a categoria. “foram 137 ocorrências registradas no ano passado, contra 129 registradas em 2014. Entre as violências sofridas pelos jornalistas em 2015, as agressões físicas (49) foram registradas em maior número, seguidas de casos de ameaças e/ou intimidações (28); agressões verbais (16); impedimento do exercício profissional (13); atentados (09); cerceamento à liberdade de expressão por meio de ações judiciais (09); prisões (08) e um caso de censura”.

Ao receber o Prêmio Colunista de El Mundo, o espanhol Arturo Perez-Reverte afirmou que “o medo da imprensa é necessário a nossa saúde social”. Com certeza, a saúde da democracia corre sério risco enquanto não houver freio aos ataques contra jornalistas – estas são violações à liberdade de imprensa, essencial à democracia no mundo moderno.

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