O CadaMinuto Press traz uma entrevista exclusiva - nesta edição - com o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB-BA). Ele assume a liderança do PSDB na Câmara de Deputados em um momento de turbulência, já que se discute de imediato o processo de impeachment. Imbassahy dá a entender que a oposição deve endurecer o discurso e buscar o apoio dos parlamentares que estão em partidos da base aliada, mas que se encontram insatisfeitos.
O parlamentar afirma que não há saída para crise que não seja com o afastamento da presidente da República, Dilma Rousseff (PT). Todavia, o deputado federal afirma que o PSDB não será um partido de direita, mas que apenas se afasta das posições intervencionistas do PT. Mesmo não assumindo o discurso liberal, Imbassahy defende o enxugamento do Estado e o fim do poder público agindo como empresário. Para o deputado federal a saída é promover maior liberdade econômica e reduzir o estatismo.
O deputado ainda foi indagado sobre o Foro de São Paulo e outras pautas que o PSDB - em discursos e entrevistas - evita tocar. Imbassahy evita criar polêmica com a figura do senador e presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB), diante da postura mais governista do peemedebista, mas diz que o PSDB vai procurar dentro do PMDB “homens de qualidade”. Confira na íntegra o que pensa o líder do PSDB - o principal partido dito de oposição - sobre o retorno dos trabalhos do legislativo em Brasília.
O senhor assume a liderança do PSDB na Câmara em um momento em que é cobrado mais postura de oposição do PSDB, já quem em muitos momentos o ninho tucano se contradiz, como recentemente em relação a extinção ou não do PT com base no que ocorreu. Qual é o clima com o qual o PSDB retornar à Câmara e como o senhor pensa essa tarefa da liderança?
Eu focaria dois pontos para ficarmos apenas nas questões básicas. A questão de natureza política: o PSDB vai continuar lutando pelo afastamento da presidente Dilma. Por tudo que aconteceu. Pelo crime de responsabilidade. Consequentemente, teríamos a possibilidade de afastamento dela via impeachment - no Congresso Nacional - ou pelo processo no TSE, por irregularidades na campanha eleitoral. Este ponto será muito enfatizado, como já veio sendo ao longo do ano passado. Com relação ao segundo ponto: a economia, que é fundamental. Nós entendemos que a economia foi destruída pelo PT. Destruída pela prática do presidente Lula (PT) seguida pela presidente Dilma (PT). A responsabilidade da reconstrução da economia cabe ao governo, mas o PSDB vai se colocar de maneira pró-ativa no sentido de contribuir para a reconstrução e recuperação da economia nacional. Temos a volta da inflação. Ninguém poderia imaginar que o PT fosse capaz de trazer de volta à inflação e que o Brasil fosse entrar em uma situação dramática com a crise de desemprego e a recessão, que é a face mais cruel da economia que estamos vivendo. O PSDB não vai se afastar da responsabilidade de contribuir para melhorar o país.
Tem um ponto interessante neste discurso. O PSDB hoje faz um oposição diferente da que fez em um passado recente. Recentemente, o PSDB foi uma Geni. Levava pancada e pouco respondia. Há quem fale que é a estratégia das tesouras com uma briga dentro da esquerda, onde o PSDB é a oposição que o PT deseja que ele seja. Agora, o PSDB assume um discurso mais duro. Foram as ruas que acordaram o PSDB?
Não. Foi a campanha do senador Aécio Neves (PSDB) à presidência da República que resgatou muito esse legado positivo que o PSDB deu ao Brasil, notadamente no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando implantamos o Plano Real, que liquidou a inflação no país. Também houve a Lei de Responsabilidade Fiscal e as privatizações que deram certo. É importante destacar que o PT foi contra a tudo isto. Foi contra ao Plano Real, foi contra a privatização, foi contra a tudo isso. O PT foi contra o Proer que fez a recuperação das instituições bancárias no país. E hoje o que vemos nos anos da administração petista é esta tragédia que jamais foi pensada que ocorreria. Então, qualquer crítica que venha o PSDB saberá responder. Não só na Câmara, quando assumir a liderança, mas também no Senado, como já vem sendo feito pelo Aécio Neves.
Por que então se sabendo que o PT é um partido de pensamento mais intervencionista, de uma esquerda mais forte, o PSDB nunca atacou em seu discurso os pontos centrais que nos trouxe até aqui, como falar do Foro de São Paulo, escancarar a relação do governo com Cuba e Venezuela? Por que em alguns assuntos o PSDB é tão ameno quando se trata de criticar a raiz ideológica do PT?
Na verdade podemos até entender que em alguns pontos não houve a intensidade necessária para mostrar ao país este tipo de discurso equivocado e até prejudical ao Brasil. Você cita dois exemplos: o Foro de São Paulo, que é absolutamente uma coisa retrógrada. Agora quanto ao apoio do PT aos governos populistas, o PSDB sempre se postou de maneira enfática contra o chavismo, contra a questão de técnica do bolivarianismo que o PT quis introduzir no país e deseja. A mensagem do PT é essa: do entreguismo, do populismo, no sentido de querer fazer um nacionalismo retrógrado e ultrapassado. Nós nos posicionamos contra isto. O momento agora é que a população brasileira está muito mais sensibilizada para não apenas analisar, mas anexar sua indignação à corrupção a esta prática nefasta do populismo.
Temos uma economia com um capitalismo de Estado, um intervencionismo grande do governo e um Estado inchado. É isto que tem pregado as esquerdas e a alternativa seria maior liberdade econômica (que tem dado certo em alguns países), as teses do liberalismo, que é defendido no Brasil pelo que se entende ser a “direita”. Não está na hora do PSDB ser direita para apresentar algo diferente ao país?
Não. O que eu entendo é o seguinte: esta técnica do nacionalismo ultrapassado a sociedade percebe agora. Ninguém imaginou o ponto em que nós chegamos. A presidente mentiu de forma clara para a população brasileira em 2014. Uma presidente que disse que faria o diabo para vencer as eleições e ela fez mais que isto. Fez mais do que o que o diabo poderia fazer. Ela mentiu sobre as contas de energia e sabia que estava mentindo. Ela mentiu quando disse que os preços dos combustíveis seriam mantidos e não foi. Ela sabia que não seria possível. Mentiu sobre a taxa de juros, mentiu sobre a economia. Ela sabia de tudo. Ela perdeu credibilidade, perdeu conceito, perdeu a confiança. Agora, as nossas posições programáticas são profundas, com conteúdo e na linha do avanço. Você fazer o nacionalismo ultrapassado para prejudicar, não. O bom nacionalismo é aquele que você melhora a qualidade de vida da população e destina mais recursos para Educação, Saúde, Infraestrutura e não isso aí que o PT fez. O que avançamos em infraestrutura? nada. Na economia andamos para trás. Nossa posição será contra a aumentar impostos. Produzir no Brasil é um drama. As pessoas querem empreender, mas o governo não deixa. São as posições ultrapassadas do PT e de alguns dos seus aliados. Esta é a posição nossa.
Então o PSDB pensa em um país com maior liberdade econômica, incentivo ao empreendedorismo e menor tamanho do Estado?
Exatamente. Até porque quanto menor for o Estado maior capacidade dele prosperar e terá menos corrupção. A questão da Petrobras foi isto: se apropriaram das estatais, como fizeram do BNDES e por aí vai. Tudo isto em um processo que foi uma ação patrimonialista praticada por vários do PT que hoje estão presos. Foi uma organização criminosa que foi instalada na Petrobras e quem diz isso não sou eu, mas quem está na força-tarefa da Operação Lava Jato. Esses diretores da Petrobras foram nomeados - não todos, mas muitos - para roubar e destinar recursos para o esquema do Petrolão. Quanto mais enxuto o Estado, melhor o desempenho da economia. Até porque o recurso do tributo não será destinado à máquina, mas para a população. Menos recurso para a administração da máquina, mas recursos para os serviços que querem a população brasileira. O Estado empresário é uma coisa ultrapassada e falida que não deu certo em canto nenhum. É o que a gente vê nessas delações premiadas que são dadas por gente que é de confiança da Dilma, do Lula e do capitão do time, o José Dirceu. O Lula já está sendo chamado como informante, como testemunha, com denuncias de ocultação de patrimônio, e ele falando de forma acuada coisas que indignam a população brasileira. Absurdos vindos de um ex-presidente da República. A ideia é termos um Estado menor. Recuperação tem. O Brasil já superou crises passadas. Claro que estamos em uma das piores crises da história. Esta crise foi feita pelo PT e pelo populismo exacerbado. Nós vamos ultrapassar, mas não vejo como ultrapassar enquanto a Dilma for mantida no Palácio do Planalto. O que se espera dela é dignidade para renunciar, porque ela sabe que mentiu e sabe que é incapaz. A Dilma é uma invenção do presidente Lula. Alguém que ele colocaria lá e ficaria manobrando eternamente.
O PSDB se sente confortável para falar de Petrolão? Por que é um assunto que também envolve nomes de tucanos que foram citados em delação premiada…
Não existem nomes do PSDB. Existe um nome: o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, que já faleceu. Eu estive nos trabalhos da CPI da Petrobras e vi ali inúmeros depoimentos de ex-diretores da estatal, de empresários, de gente que meteu a mão na Petrobras. Todos vão na direção de que a organização criminosa foi instalada lá no ano de 2003. Com o governo Lula. Não foi conosco do PSDB. Ela foi mantida e talvez ampliada no governo Dilma. E não é só a Petrobras. Você tem isto nos Fundos de Pensão, no BNDES com negociações financeiras com países que não possuem regimes democráticos, que não tem órgão de fiscalização e controle, nem mecanismo de imprensa aberta que possa denunciar. O governo do PT deu preferência a estes países. O PSDB não está constrangido de forma alguma. O PSDB quer uma investigação a fundo. O instituto da delação premiada só está trazendo benefício ao país, pois um esquema dessa amplitude não seria descoberto se não fosse essas delações. Temos que apoiar e prosseguir nas investigações.
No xadrez político o processo do impeachment, com o retorno das atividades legislativas, vocês vão lidar com o PMDB. O PMDB tende sempre a ser governo. Foi assim inclusive na época da presidência do PSDB. Como será o diálogo PSDB e PMDB em Brasília, já que num eventual impeachment o governo pode ser deles?
O PSDB tem sua identidade própria. Lógico que não vivemos em um mundo isolado. A gente vive com outros partidos. O PMDB tem sua história e suas características. A gente vai tentar identificar dentro do PMDB os principais interlocutores. Vamos continuar fazendo. Entendo que qualquer partido tem uma dificuldade ou outra. Com o PMDB - por ter participado do governo nestes últimos 13 anos - você tem mais dificuldades de localizar as personalidades. Mas para os que desejam reconstruir o país serão bem recebidos pelo PSDB. Temos agora as eleições municipais, teremos as presidenciais e é buscar conviver com as pessoas boas e de qualidade. Dentro do PMDB tem pessoas e qualidade.
O senador Renan Calheiros, que é presidente do Congresso Nacional, é um peemedebista de qualidade?
O senador Renan Calheiros tem uma função importante porque dirige o Congresso Nacional. Tem contra ele algumas colocações que estão surgindo e cabe a ele fazer as explicações necessárias. Pelo cargo que ele ocupa ele tem que dar estas explicações. É aguardar que ele possa explicar todas as situações.
Mas ele é um fiel escudeiro do governo Dilma Rousseff e pode trabalhar para enterrar o impeachment…
Dizer que Renan Calheiros pode enterrar o impeachment é um exagero, pois isto depende da vontade do Congresso Nacional. Da maioria. Evidentemente que ele tem margem de manobra, mas como qualquer um outro parlamentar vai estar sendo observado pela sociedade brasileira. A sociedade não vai estar apenas olhando para o Renan, mas para todos os parlamentares de qualquer Estado. Não se pode dizer que ele pode enterrar. Ninguém tem capacidade disto.
E Eduardo Cunha? O senhor vai lidar com esta questão: a sustentabilidade ou insustentabilidade do atual presidente da Câmara no cargo. O senhor acha que ele tem condições de ficar no cargo?
Não. Digo com tranqüilidade por tudo que já foi revelado. Esta posição o PSDB já adotou. O mais razoável é que ele se afaste. Até porque a presença dele coloca o processo de impeachment sempre sob a suspeita de que possa ser algo que interesse a ele pessoalmente e não aos interesses nacionais. O presidente Eduardo Cunha perdeu as condições de permanecer no cargo.
Neste processo de impeachment o PSDB confia no Supremo Tribunal Federal?
Decisão da corte tem que ser cumprida. Eu diria a você - com muita honestidade intelectual - que a decisão de que não se pode apresentar a chapa alternativa no processo de impeachment é equivocada, até porque o sentimento do Congresso é votar. Mas mesmo que a decisão não seja revista, o processo tem que seguir. Mas seria o fim do mundo dizer que isto coloca a corte sob suspeita. Seria o fim do mundo se o STF fizesse o que o Palácio manda. Nós confiamos na decisão da Suprema Corte. Podemos discordar de um posicionamento ou outro, mas temos confiança e respeito. Até porque esta é a diretriz da democracia.
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