A política - assim como o mundo - dá voltas e, quando menos se espera, rivais políticos dão as mãos e o passado vai para a lata de lixo. Muitas vezes, a fraca memória dos eleitores possibilita que alianças sejam costuradas sem muitos questionamentos. 

Agora, em 2016, este fenômeno pode ser bem visível pelo andar da carruagem. Alegando o cenário de crise política e econômica, podemos ter não apenas o palanque do prefeito Rui Palmeira (PSDB) na busca pela reeleição, mas um “palancão” que possibilite ao tucano (já com mandato) um voo mais fácil rumo ao cargo de chefe do Executivo municipal mais uma vez.

Em recente entrevista, o ex-governador e atual deputado federal Ronaldo Lessa (PDT) - que já disputou uma eleição com Rui Palmeira, em 2012, mas não conseguiu chegar ao final por que a Justiça Eleitoral tirou o pedetista de campo - já pregou a união em torno de uma única candidatura.

A declaração de Lessa gerou desdobramentos. O governador Teotonio Vilela Filho foi às redes sociais elogiar o deputado federal do PDT e ainda defender a união entre o governador Renan Filho (PMDB) e Rui Palmeira em uma candidatura única à Prefeitura de Maceió. 

Teotonio Vilela elogiou Ronaldo Lessa. Mais um encontro de rivais pode acontecer no “palancão de Rui”. A última vez que os ex-governadores estiveram juntos em um palanque foi no já distante ano de 2006, quando Lessa foi candidato ao Senado Federal e Vilela ao governo do Estado. Ambos se apoiaram mutuamente, mesmo não podendo coligar os partidos em função da verticalização da época. 

Na sequência, Vilela - que substituiu o pedetista no comando do Palácio República dos Palmares ao se eleger governador - culpou Ronaldo Lessa por um rombo de R$ 400 milhões nos cofres públicos. O rompimento político se deu. De forma tão forte que - em 2010 - os dois se confrontaram na disputa pelo Executivo estadual. Deu Vilela.

Uma eleição com trocas de farpas. Rendeu até uma ação judicial de Vilela contra Lessa. De 2006 à 2015, Ronaldo Lessa amargurou a ausência de um mandato. Tentou disputar a eleição em 2012, como já dito, mas sequer conseguiu chegar até o fim. Rui Palmeira - seu rival naquele ano - se elegeu ainda no primeiro turno. 

Mas não há mágoas do passado que os interesses do futuro não curem. Política é assim. Então, Teotonio Vilela - nome forte no PSDB alagoano - já deu a benção para a união entre Lessa e Rui Palmeira. Se vai sair casamento? Não se sabe. Mas os discursos é dos que já estão embonecando a noiva. 

Eis o que Teotonio Vilela Filho falou: “Destaco a iniciativa do deputado Ronaldo Lessa em defender a união das forças políticas do estado em torno da reeleição do prefeito Rui Palmeira. Um gesto louvável que deve ser valorizado, primeiro por entender o grave momento porque passam os municípios e os estados, segundo, porque na eleição passada ele disputou com Rui a prefeitura da capital”. 

“A atitude de Ronaldo é também uma forma de reconhecer o trabalho sério, transparente e eficiente do prefeito de Maceió, numa época de tantas dificuldades financeiras e de crise ética na política. Eu tenho certeza que, dentro desse contexto, Alagoas só teria a ganhar com essa união e com uma aliança entre o governador Renan Filho, que faz um trabalho digno de elogios, e o prefeito Rui Palmeira” complementa o ex-governador.

O “palancão de Rui” para por aí? Talvez não! Caso se concretize uma aliança com Renan Filho, obviamente o senador Renan Calheiros (PMDB) - presidente do Congresso Nacional - sobe também neste palanque. O PMDB de Renan Filho esteve ao lado de Ronaldo Lessa nas eleições passadas e - com isto - do lado oposto ao de Teotonio Vilela Filho e, mais recentemente, Renan Filho.

Um rompimento que - na época - também muito deu o que falar. Afinal, Renan Calheiros e Teotonio Vilela Filho (na época em que o tucano era senador) eram chamados de senadores siameses. Faziam uma dobradinha vitoriosa com a finalidade de ocupar as duas cadeiras do Senado Federal. Tanto que há ainda quem ache que Vilela - ao fim de seu governo - não apresentou sucessor para facilitar a eleição de Renan Filho. Conversas de bastidores. O tucano nega isto, evidentemente.

Então, um palanque com Ronaldo Lessa, Renan Calheiros e Teotonio Vilela ao redor de Rui Palmeira? Não só isto. Quem acompanha as redes do senador Fernando Collor de Mello (PTB) também percebeu que o petebista fez elogios ao prefeito Rui Palmeira e tem garantido o espaço do tucano, com destaque, em seus veículos de comunicação. 

Collor fez um gesto em direção ao prefeito. Resta saber se significa uma possibilidade de diálogo futuro com o ninho tucano. Afinal, Collor foi o mais recente rival de Teotonio Vilela Filho. Por sinal, Collor foi o político que mais criticou Vilela durante seus oito anos de mandato. Chegou a comparar o ex-governador tucano a uma tartaruga. 

Como a política é graciosa, não é mesmo? Em algum momento todos podem acabar no mesmo palanque. Afinal, palanque - na política alagoana - é igual coração de mãe. O problema é que haja teta nesta mãe caridosa chamada poder público.

Estou no twitter: @lulavilar