Um dos pontos da delação do ex-diretor da Petrobras tem passado batido em muitos setores da imprensa diante do volume de informações e do fato de que os jornais nacionais tocaram em pontos em separado. Se é verdade o que Cerveró fala ou não, que as investigações mostrem.

O fato é que - um dos mais “famosos” delatores da Petrobras - em uma única fala conseguiu envolver a presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT) e o senador Fernando Collor de Mello (PTB) num possível esquema de ingerência política na BR Distribuidora.

De acordo com Cerveró, sua indicação para o cargo na Petrobras é um gesto de “gratidão” do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Em matéria do site G1, que mostra parte da delação, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras afirma que foi alçado ao cargo devido ao ex-presidente.

Cerveró diz - ainda em depoimento - ter ajudado o Grupo Schahin a vencer uma licitação. Este é o negócio investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) que teria resultado em pagamento - por parte do Partido dos Trabalhadores - de um empréstimo de R$ 12 milhões para o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. 

Todavia, é mais adiante que o depoimento de Cerveró cita Fernando Collor de Mello mais uma vez. Collor - que também é apontado em outras delações - surge nesta como homem de forte ascendência política na BR Distribuidora graças a Lula e a Dilma Rousseff. 

Segundo Cerveró, coube a Lula garantir que o senador Collor tivesse acesso político à estrutura da BR Distribuidora. Ainda são citados o senador Delcídio do Amaral (PT), o deputado Cândido Vacarezza (PT) e o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB). Todos são apontados - por Cerveró - como recebedores de propinas. 

Sobre Collor e a BR Distribuidora, vale lembrar que - em outubro de 2015 - o senador alagoano foi apontado como tendo pressionado a BR Distribuidora a comprar grande quantidade de álcool em usinas indicadas por ele. A compra seria no valor de R$ 1 bilhão. Isto foi citado na delação de Fernando Soares, o Fernando Baiano.

Em fevereiro de 2015, Collor foi acusado de receber R$ 3 milhões em propina resultante de um negócio envolvendo a BR Distribuidora. Desta vez, o delator foi Alberto Youssef. O negócio envolvia uma troca de marca de postos de combustíveis. 

Em ambos os casos, Collor alegou inocência e buscou desqualificar os delatores. Fernando Collor de Mello sempre que se pronunciou fez duras críticas - inclusive - a forma seletiva do vazamento de informações. A Operação Lava Jato - por sinal - resultou em uma briga entre Collor e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Collor é um dos investigados em inquéritos abertos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O senador - como já dito - alega inocência. 

Em relação às informações que estão na imprensa nacional no dia de hoje, 12, chama também atenção uma matéria do Estadão. De acordo com a matéria, Ceveró afirma - em delação - que a presidente Dilma colocou à disposição de Collor a presidência e as diretorias da BR Distribuidora. Seria uma “cota” pessoal de Collor. 

Eis um dos trechos: ”Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a Presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias da BR Distribuidora. Fernando Collor de Mello disse que não tinha interesse em mexer na presidência, e nas diretorias da BR Distribuidora de indicação do PT”.

Nestor Cerveró diz que ouviu o relato de Collor. Mas, mesmo assim Collor não teria mexido nas diretorias e presidência do órgão, permanecendo indicações do PT, como mostra o texto. Todavia, o delator afirma que Collor tinha controle da BR Distribuidora.

Veja: “Fernando Collor de Mello e Pedro Paulo Leoni Ramos mantiveram o declarante no cargo para que não atrapalhasse os negócios conduzidos por ambos na BR Distribuidora; que esses negócios eram principalmente a base de `distribuição de combustíveis de Rondonópolis/MT e o armazém de produtos químicos de Macaé/RJ”.

Collor - nas entrevistas que envolvem a BR Distribuidora - nega ter “exercido qualquer ingerência ou pressão sobre a Petrobras ou sua subsidiária BR Distribuidora”. 

As novas informações divulgadas a partir das delações de Cerveró tendem a aprofundar ainda mais a crise política no país. Afinal, cita Lula e Dilma. Nomes que apareceram em outros depoimentos, mas também ressalta problemas no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). 

Apesar de não citar nomes, Cerveró diz que a venda da petrolífera Pérez Companc envolveu pagamento de propina no valor de US$ 100 milhões ao governo de Fernando Henrique Cardoso. A questão agora é: quem teria recebido este valor? A compra da empresa ocorreu em 2002. FHC diz que as declarações são vagas e não especifica pessoas envolvidas.

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