A reflexão feita pelo presidente da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), Vinícius Palmeira, em relação à polêmica das prévias carnavalescas da capital alagoana; e o repasse de dinheiro para os blocos é algo que precisa ser levado em conta. Não se trata de uma disputa por dinheiro com a “malvada prefeitura” que quer acabar com o carnaval. Vamos com calma. É um discussão que levanta, inclusive, os questionamentos sobre as prioridades com os recursos públicos.

Logo, não bastasse a interrogação natural sobre a aplicação do dinheiro público e suas prioridades (com colocações que seguem a mesma lógica de quando deputados e vereadores resolvem apresentar emendas com recursos para clubes de futebol) é de se indagar - ainda que haja o peso cultural - se é o melhor destino para os impostos pagos pela população. Custear blocos, clubes, escolas de samba, enfim…

Uma coisa é o fomento e as condições para que estes se desenvolvam e empreendam. Outra é o recurso injetado de forma direta.

Portanto, é de se entender a importância dos blocos carnavalescos e da tradição da festa, que é necessário um suporte - que envolve da segurança à limpeza - para que esta acontece e possibilite dos blocos serem autossustentáveis; mas dinheiro público é dinheiro de impostos. Em crise econômica - que é esta que o país passa - é preciso se rever as prioridades. Neste sentido, se o dinheiro é de todos que seja empregado em ações que favoreçam a todos, sem virar “dinheiro vivo” na mão deste ou daquele (destes ou daqueles) blocos, por mais importantes que sejam.

Sendo assim, no clima de cobertor curto, acerta o presidente da FMAC quando garante a infraestrutura para a festa (o que já é gasto de dinheiro público), com a organização necessária, segurança, banheiros químicos e até mesmo uma chamada pública para a realização de oito pontos de festividades em distritos diferentes da capital, garantindo uma festa democrática. Como acertaria na reflexão se o coberto fosse longo. Pois é preciso sempre discutir os rumos destes recursos.

O titular da Fundação Municipal de Ação Cultural ainda disponibilizou estrutura pública necessária para as festas, como iluminação, limpeza de avenidas e equipamentos de som. Ora, com a estrutura garantida, que os blocos empreendam, incluindo a possibilidade de desenvolverem uma estrutura profissional para que estes tenham vida longa, com atividades em outras épocas do ano, como capacitação de recursos. Uma lógica que as festas de reveillon descobriram. Alternativas existem para além da dependência dos recursos públicos.

Afinal, os blocos possuem o apelo popular, são bons produtos que atraem público, os participantes possuem relações com empresários que podem ajudar e a Prefeitura Municipal de Maceió pode até ser uma incentivadora, uma vez que estrutura o palco para a festividade. Há o atrativo para o mercado. Então, diante do momento econômico, não vejo como absurda as declarações de Vinícius Palmeira, mas como sensatas identificando prioridades. Que os blocos sejam empreendedores.

Claro, a mesma lógica - na minha visão - se aplica ao Festival de Verão. Serve para a divulgação de Maceió e atração de turistas criando um calendário? Sim, é verdade. Mas precisa estar cada vez menos custeado pela Prefeitura Municipal de Maceió, com esta oferecendo o apoio logístico e - cada vez mais - tendo o apoio dos entes privados. Se for um peso para os cofres públicos, está errado! 

Em relação aos blocos, nos últimos anos houve repasses de recursos. Este ano, salienta o secretário de Cultura: “o prefeito Rui Palmeira não pode ser irresponsável e tirar dinheiro de onde não tem para colocar no carnaval. Infelizmente, esse ano não temos recursos necessários para esse apoio. Apesar dessa situação, preciso que as previas vão acontecer como são realizadas ao longo dos anos”. 

Ora, a queda do Fundo de Participação Municipal (FPM) não é segredo. Aposto que até o Governo do Estado teria dificuldade de atender a este pedido. Os idealizadores e coordenadores dos blocos já procuraram se reunir com a secretária de Cultura, Melina Freitas? O coberto anda curto em todos os lugares. 

E é preciso entender que a questão não pode ser resumida ao chavão: “a Prefeitura não quer dar apoio ao Carnaval”. Isto é desonestidade intelectual. Pode não ser o apoio almejado pelos blocos, mas - como já citei no texto - e conversei, recentemente, com Marcos Sampaio (da FMAC) há uma “chamada pública” com o objetivo de auxiliar bairros a realizarem festas locais. 

Isto vai ter um custo: palcos, som, banheiros públicos, iluminação e serviços de limpeza para que várias pessoas possam brincar o carnaval. 

Entendo o lamento dos representantes de blocos diante das declarações da Prefeitura. De fato uma frustração para quem contava com este recurso para colocar nas ruas uma festa tradicional, mas é um pouco demais colocar - de forma dicotômica - de um lado os “bons carnavalescos” e do outro a “malvada administração pública”, pois não se trata disto, nem de uma queda-de-braço. 

Trata-se de prioridade com recursos públicos em épocas difícil. Então, discordo do discurso de alguns dirigentes de blocos e clubes que afirmam que a postura da administração municipal é “inconsequente”. Afinal, eles mesmos reconhecem que tão ação - de repasses de recursos - já foi adotada por esta administração e gestões anteriores. E em época eleitoral, Rui Palmeira não seria idiota de comprar uma polêmica dessa caso o momento não o obrigasse. Afinal, faltaria coragem para comprar uma discussão que resulta em perda de parcela de votos. 

O meu texto vai em um questionamento pontual. Desejo sucesso e vida longa aos blocos. Eu sou o primeiro a apoiar a iniciativa e - em muitos anos - comprei camisas de alguns. Todavia, além da análise pontual há outra reflexão em relação a estas prioridades que é levantada pelo advogado Adrualdo Catão. O texto é de 2012, mas vale ser lido:

Esse país não tem prioridades. Volta e meia eu retomo esse assunto. O Carnaval é uma ótima oportunidade de lembrar como gastamos mal nosso dinheiro. Gastamos milhões em festas enquanto nossas escolas caem aos pedaços e nossa polícia ganha mal. No Carnaval, essa promiscuidade com o dinheiro público se exacerba.

Você sabe quanto vai custar o Carnaval dito “popular” de Recife? Fala-se em 35 milhões de reais em gastos com o Carnaval. Só pela prefeitura da cidade! Dá para acreditar? É... Enquanto você vai de carro para Recife, aprecie nossas estradas cheias de buracos, pois quando você chegar, terá uma festa de primeira, paga com dinheiro público.

Eu adoro Carnaval, festas de rua e similares. Não estou criticando a festa. O que não entendo é como se pode conviver com uma escola fuleira e um posto de saúde sem médicos, mas não se pode viver sem gastar dinheiro público com festa. E quanto dinheiro!

A verdade, meus amigos, é que, hoje, o Carnaval não é uma festa que surge da participação autônoma de indivíduos que gostam de alegria... Hoje, o Carnaval é uma industria de entretenimento. Em Salvador, empresários profissionalizaram o evento e movimentam milhões de reais com blocos e camarotes. Mesmo assim, o dinheiro público ainda é determinante.

Se há formas de patrocínio privado para a festa, por que o Estado ainda gasta tanto dinheiro? É que a rede movimentada pela festa é muito grande. Empresários, artistas e políticos se juntam numa associação promíscua e você paga a conta. Quando não há corrupção, há, no mínimo, favorecimento aos artistas amigos do poder. (Certos cantores em Recife só tocam em eventos públicos...)

A justificativa para tantos gastos é sempre a mesma: atrai turismo, gera renda, etc... Não sei. Acho que nessa conta não entram alguns custos óbvios da festa como o aumento da violência, os gastos com saúde provocados por acidentes de trânsito e a perturbação do sossego daqueles que não gostam de festa (provavelmente, a maioria da população). Isso não deve ser levado em consideração?

Não, amigos, não sou contra a festa. Sou contra o Estado patrocinando a festa. Ela seria possível sem isso? Não sei. Só sei que me incomoda muito ver o meu dinheiro patrocinando shows enquanto as nossas delegacias não têm a menor estrutura e nossos professores recebem salário de fome. 

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