Conversei - na manhã de hoje, dia 05, no Manhã da Globo, na Rádio Globo 710 AM - com o secretário de Segurança Pública, Alfredo Gaspar de Mendonça. O titular da pasta - que antes era a Defesa Social - tem sido apontado como o “xerife” do governo Renan Filho (PMDB), conseguindo reduzir os números da violência, como ele mesmo mostrou em recente coletiva.

Todavia, apesar dos números que apontam que os assassinatos reduziram em mais de 20%, o secretário também sofre críticas de parcela da opinião pública em função dos métodos que faz com que muitos analistas afirmem que a polícia em Alagoas se tornou mais violenta com o novo perfil da pasta. A mudança não é apenas de nome. 

Mas, ao deixar de ser Defesa Social e passar a ser Segurança Pública, o governo de Renan Filho atribuiu a Alfredo Gaspar de Mendonça a tarefa de fazer a polícia mais presente, mais unida, ostensiva, repressiva e transformar o secretário num anteparo das críticas às ações policiais (como você verá ao longo da entrevista) e - assim - alcançar resultados em curto e médio prazo. Os números vieram. A interrogação que é feita ao secretário é: o caminho é o correto? Seria a ideia dos fins justificando os meios? Vamos ao que Alfredo Gaspar de Mendonça fala.

Alfredo Gaspar de Mendonça - sabendo das críticas que recebe - rebate: “muitas delas críticas são infundadas e só visam denegrir a imagem do todo. Isto nos causa uma tristeza muito grande. Mas, todo gestor gosta da crítica construtiva que busca o melhor para a sociedade. Esta direciona o gestor e é muito bem-vinda”

Ao explicar o que muda na “filosofia” do governo quanto à forma de tratar segurança, Mendonça destaca: “a mudança não é apenas no nome. A pasta ficou com a parte referencial à segurança pública. A Defesa Social - como se tinha antes - era uma coisa mais abrangente. O governador criou uma pasta de Prevenção à Violência e dividiu. Segurança Pública se trata de questão inerente à pasta com uma filosofia da integração. Não podemos trabalhar num Estado tão violento sem a figura da integração. Não há salvador da pátria. Há união que produz resultado”.

O secretário ainda complementa: “não estamos satisfeitos, nem comemorando. Estamos felizes porque os números apontam para uma redução significativa. Segurança Pública sozinha não conseguirá resolver todos os males, mas a nossa parte vamos fazer: com inteligência, ostensividade e investigação. Para assim acabar com os altos índices de crimes e o ciclo da impunidade. Entregamos um resultado expressivo. 2015 em relação ao ano de 2014 foram 417 vidas salvas. Digo isto com base nos anos anteriores”

De acordo com Gaspar de Mendonça, o novo estilo fez com que “aumentasse 300% de ações policiais nas ruas do Estado”. “Houve redução em vários índices criminais, como roubo, e causa uma sensação de insegurança maior que o homicídio. Houve redução de tráfico de droga com a maior apreensão dos últimos anos. Mais de 120 quadrilhas desmontadas. Foram 500 mil abordagens pela polícia. Aumento de 300% de ações da polícia na rua. Não tem como não divulgar isto como um caminho a ser perseguido”. 

O titular da pasta diz que se confronta com um problema histórico. “Se mata muito por quase nada ou por nada, devido ao ciclo da impunidade. Você vai poder olhar para a década futura e vê que se recuperou a década passada. Voltamos a um patamar anterior a 2008. E digo isto, porque antes de 2008 não há dados confiáveis sobre a segurança em Alagoas. Em 2015, estabelecemos meta. Ela foi ultrapassada. Tínhamos como meta 12% de redução de homicídios e chegamos a 20%”.

Xerifão

Alfredo Gaspar de Mendonça deixa claro que rejeita o rótulo de xerife e diz que - ao contrário do que alguns pregam - “nunca defendi que bandido bom é bandido morto”. “Não vim para a segurança pública para defender que bandido bom é bandido morto. Mas, também não vim para ser uma pessoa acovardada. Quem dá o tom é justamente a criminalidade. Se a criminalidade respeitar a lei, a primeira coisa é que a polícia não vai estar presente. Quem mata muito no meu Estado não é a polícia, mas o bandido. Ele mata muito e por quase nada, ou por nada”, salientou.

"Não dá para, diante dos números alcançados neste ano - com apreensão de armas, drogas e com ações nas áreas críticas - colocar o policial na rua e querer que o policial arrisque a sua vida sem entrar em confronto em momentos críticos. Eu defendo o direito do policial agir corretamente e com equilíbrio e que ele tenha a segurança de que há alguém como pára-choque. Eu sou o mesmo Alfredo do Ministério Público, mas com um olhar externo. Eu não vim para a Segurança Pública para fazer discurso fácil que leva à  hipocrisia. Eu vim para falar o que penso e sinto. O meu policial tem que estar seguro de que, lá em cima na pirâmide, tem alguém defendendo o direito dele de trabalhar corretamente e seguro de que não será entregue e exposto no primeiro questionamento”.

De acordo com o secretário, “a família da segurança pública de Alagoas sempre foi massacrada antes de ter o direto à defesa”. “O discurso fácil agrada a algumas pessoas, mas desagrada demais ao trabalhador que está lá na ponta com todas as dificuldades. Na periferia, nas áreas mais críticas, onde falta tudo do Estado, a polícia é quem vai lá em momentos críticos. E o policial vai para uma zona que está desassistida de todo o poder público. Ela (a polícia) é a única parte do poder público presente e que está sendo responsabilizada por ser a única, muitas vezes, que atua. E não atua matando não. Atua para apartar briga de marido e mulher, para pegar filho que está batendo em mãe, para diminuir conflito, salvar vidas, buscar desaparecidos. Isto não é mostrado, mas quando há um erro por parte de um policial, aí é mostrado como se fosse o todo. Estas pessoas - os policiais - vão para a rua e fazem um bem que não é propagado da mesma maneira que é propagado um desvio de conduta pontual”.

“É este discurso que faço, mostrando isto, que parece ofender algumas que pessoas que não gostam da polícia. E não estou aqui falando daquela polícia do regime militar, não. Esta nem existe mais. Não é a polícia arcaica. Nossos policiais tem formação melhor que muito promotor, juiz ou doutor. São pessoas com mestrado, doutorado e que vão à rua com outra mentalidade. Vou defender o bom policial, o bom integrante da segurança pública”, complementou.

Alfredo Gaspar de Mendonça afirma ter “parado de se incomodar com as pechas que pessoas mal intencionadas gostam de me imputar. Eu prefiro que eu seja o alvo do que o meu policial. Eu estou secretário, mas não serei para o resto da minha vida. Que quando eu sair da pasta os números estejam em patamares aceitáveis e que a estrutura de segurança pública seja melhor reconhecida pela sociedade”.

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