Tenho divergências ideológicas com a vereadora e ex-senadora Heloísa Helena (Rede). Sinto-me a vontade para firmar esta posição porque já externei isto à vereadora muitas vezes, em entrevistas e conversas de bastidores. Não é segredo.
Todavia, sempre tive um respeito enorme por Heloísa Helena. Alguns criticam a forma aguerrida com a qual a vereadora defende seus pontos de vista, mas este é um ponto que admiro, pois Heloísa Helena sempre traz embasamento e informações quando busca argumentar. Mesmo quando discordo de Heloísa Helena, reconheço isto.
Sempre reconhecerei, o que me leva a concordar com a vereadora em muitas falas, apesar de muitas convicções diferentes. Mas sempre com respeito.
No caso específico que trago aqui - o pronunciamento dela em relação ao pedido de impeachment que envolve a presidente Dilma Rousseff (PT) - Heloísa Helena chama atenção para pontos do processo deflagrado na Câmara de Deputados que se assemelham ao que já havia escrito aqui neste espaço.
Ela chama atenção para a necessidade de se fazer a leitura do pedido de impeachment na íntegra. Viva! Até quem enfim uma figura pública com mandato lembrou disto. Pois, é preciso - para início da discussão - saber se tal pedido está embasado ou não. E ele está. Eu chamei atenção para um ponto: os decretos de crédito que não passaram pelo Legislativo. E este é só um ponto.
Acerta Heloísa Helena em sua colocação.
“Sugiro a todas e todos que leiam o documento citado e leiam outros mais (contrários e favoráveis), não cansem de ler todo o conjunto de leis que envolvem o caso. Não sejam mais um entre os ridículos que apenas esbravejam cantilenas contra ou a favor da presidente”, salientou.
Como jornalista - mesmo com posição definida: a de reconhecer que este governo federal é um câncer de corrupção que rouba e se deixa roubar. Além disto afronta a democracia e desrespeita a Constituição Federal em muitos momentos - é o que tenho buscado. Estudar o documento do pedido de impeachment. Nortear-me pelo que está escrito.
Como lembra Heloísa Helena, o “tal golpismo na tal democracia pode existir dos dois lados”. Ela ainda complementa com um trecho que merece destaque, lembrando que se pode golpear a legislação “para não investigar e continuar a roubar, golpeando a legislação para tomar o lugar e assim voltar a roubar”.
Heloísa Helena cita Gabriel Garcia Marquez. Mesmo reconhecendo o valor literário de suas obras, eu não faria. É um escritor que - em matéria de opiniões sobre política - não possui meu respeito. Marquez foi um desonesto intelectual que fechou os olhos para as mazelas de Cuba, mesmo sendo um grande e genial escritor, com obras memoráveis como Ninguém Escreve ao Coronel. O romancista era um gênio como romancista. No mais, fico com os posicionamentos políticos de Mário Vargas Llosa.
Porém, é certo que, neste governo federal de Dilma Rousseff onde se “aperta, sai pus”. Não há como dizer o contrário. Heloísa Helena lembra o quanto a corrupção - que não é novidade deste governo - foi “aperfeiçoada pela esquerdalha (uma mistura de esquerda e canalha)”
Ela ainda lembra que este governo chegou o poder prometendo ser diferente, com a bandeira da ética.
“Sabemos que existem corruptos mentirosos e dissimulados na Câmara e no Senado – muitos alimentados pelo balcão de negócios sujos dos presidentes – frutos podres das escolhas eleitorais das maiorias, mas a saída é cassação a todos os envolvidos (na Câmara e no Senado, afinal sempre defendemos o fim da irrevogabilidade dos mandatos) e não a instalação do vergonhoso “ou instala-se a moralidade ou locupletem-se todos””, frisa ainda.
“A Nota Pública da Rede traz em seu primeiro ponto “O pedido de impeachment por parte de qualquer cidadão/ã não é golpe, é um direito garantido pela Constituição””, coloca ela ainda ao falar da posição do partido. Vale lembrar que a Rede defendeu Dilma Rousseff.
Mas eis o que diz Heloísa Helena: “A única forma de investigar, absolver ou punir um presidente no exercício do mandato (garantindo o amplo e legítimo direito de defesa), por indícios relevantes ou crimes de responsabilidade cometidos, é exclusivamente através deste procedimento apresentado”.
“Alguns acham – e os respeito - que apenas os eleitores nas urnas podem cassar ou conduzir alguém ao mandato, mas estou entre aqueles que compreendem que o processo eleitoral não confere a ninguém o direito de agir no exercício do mandato rasgando a legislação e assim sendo, podem constitucionalmente perderem seus mandatos independente da votação obtida nas urnas! No caso específico da presidente Dilma, respeito quem pensa absolutamente diferente, mas penso exatamente da mesma forma (como o fiz nos casos Collor, Sarney, FHC) e não conforme conveniências conjunturais e políticas”, complementa.
Por fim, a vereadora ressalta que “haverá bandidagem em torno do processo? Com certeza haverá! Haverá negociatas em promiscuidade política para as duas posições, conforme os cifrões estabelecidos no comércio por lá neste caso e em outros mais! Triste, mas infelizmente verdade!!”.
Um sóbrio posicionamento, em minha visão. Independente de se ser contra ou a favor do mérito, é um processo de investigação que está aberto com embasamento para isto. A presidente que se defenda. Pelo posto no documento, há sim motivos para se acreditar que a presidente cometeu crime de responsabilidade.
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