O Poder Judiciário divulgou nota para falar da impossibilidade de realização das eleições vindouras - no ano de 2016 - com as urnas eletrônicas. Criou uma polêmica e uma comoção do país. 

Mas eis que alguns pontos precisam ser refletidos diante da posição do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal. A nota é um - para usar expressão bem popular - “chororô” diante dos cortes e contigenciamento de recursos.

Vale lembrar que nosso Judiciário nada tem de franciscano. Ao contrário, é um Poder chegado em regalias como todos os outros constituído, sendo assim uma das patas pesadas do Leviatã brasileiro nas costas de contribuinte. Em troca, a morosidade, dentre outros problemas que culminam na dificuldade de acesso à Justiça. 

Ora, se o Legislativo e o Executivo merecem crítica por seus gastos, o Judiciário também. Afinal, pau que dá em Chico dá em Francisco, já diz o velho dito. O que dizer - por exemplo - do vergonhoso auxílio-moradia para quem mora no local onde trabalha, dentre outras benesses. 

No momento em que o Judiciário chora por ausência de recursos, em busca de provocar a comoção pública, vale lembrar que as vestes dos juízes, desembargadores e ministros não são franciscanas. 

Sendo assim, não se espantem se as urnas eletrônicas reaparecerem após diálogos para lá e para cá em busca de mais dinheiro. O chororô do Judiciário deveria nos servir para uma reflexão bem mais ampla: nosso modelo de Estado.

Quem acompanha este blog sabe que não é segredo que defendo um Estado mais enxuto, menor, com foco em melhorar os serviços que oferta, mas também com foco na redução de seu peso sobre as costas do contribuinte.

Não existe estado grátis. Não existe dinheiro público que não seja oriundo de impostos. Quanto maior o Estado, maior o seu custo. Não é coincidência que a elefantíase estatal - com tantos pendurados em suas gordas tetas - seja ninho reprodutório de incompetentes sugando recursos públicos, corrupção em excesso e como instrumento de poder, além - obviamente - dos péssimos serviços prestados.

Mas, não bastasse esta discussão, que precisa ser levantada, eis outra: estamos diante de um fato vergonhoso para nós brasileiros e provocado pelo imenso elefante - o Leviatã nacional - chamando Estado. Um fato que é apresentado para o mundo! Não é vergonhoso pelas eleições serem manuais. Que elas sejam! Afinal, a maioria dos países utilizam tal recurso. 

Os questionamentos que surgem em relação à credibilidade da urna fazem sim sentido. Em 2014, apenas os ilustres tiveram acesso à apuração. Nós, o povo, tivemos que confiar na palavra daqueles que comandam o Leviatã. Ora, se não podemos desconfiar disto e lançar questionamentos sobre, não estamos mais em uma democracia. Já se instituiu a ditadura. 

Portanto, as urnas eletrônicas merecem sim questionamentos, até mesmo pela dificuldade de auditá-las. Não é segredo que eu era favorável ao voto impresso. Já falei isto aqui outras vezes. 

O fato se faz vergonhoso - portanto - não pelas votação manual, digamos assim. É vergonhoso pelo que mostramos ao mundo. A face de um Brasil sem planejamento, uma caricatura de democracia que nunca amadurece, que não abre espaço para o empreendedorismo e que enxerga o Estado como a salvação de tudo.

Nós brasileiros - que nos orgulhávamos tanto das urnas eletrônicas como símbolo de nosso universo hi-tech, pois era onde supostamente superávamos a tecnologia alheia - vamos apresentar um Estado que não tem dinheiro para bancar o motivo de orgulho. Um Estado que vai ruindo pouco a pouco apresentado ao mundo o que é óbvio desde décadas passadas: não há almoço grátis. 

E a vergonha pode ainda ser maior. É o mesmo Poder Judiciário que colocou os brasileiros em filas quilométricas para a biometria. Lembram? O pretexto era uma eleição mais segura. Um processo eletrônico melhor. Mais avançado que o avanço que já tínhamos dado. Quanto orgulho, hein? Para nada. 

A prova viva que o Estado nos faz de palhaço aqui e acolá em busca dos interesses próprios de quem é a elite desta máquina está aí: na cara! Fomos feitos de palhaços, fomos obrigados a ir às filas. Tocar pianinho. Afinal, título de eleito cancelado significa CPF cancelado, que significa contas bloqueadas em função disto, por complicações com a Receita Federal (este sim, nosso órgão mais eficiente. Não é coincidência isto). 

Pois é, depois de nos colocar em filas para a biometria, o Estado agora não pede sequer desculpa por nos empurrar o velho papel e caneta. Os símbolos das democracias que julgamos ultrapassadas por não ouvirem o plimplim da urna eletrônica. 

Como nosso orgulho se apoia em coisas frágeis. Agora fica uma lição para nós brasileiros: nosso Leviatã sempre sabe o que fazer com o nosso dinheiro, não é? Vivas aos planejadores centrais, aos engenheiros sociais e seus jogos de cena, aos poderes custosos que sempre pedem mais dinheiro, vivas, vivas, vivas…pois continuaremos a espera deste Leviatã deitado em berço esplêndido!

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