O presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB) – aliado de primeira grandeza na recente História da República Petista – em raras vezes costuma dar declarações bem mais duras do que a “oposição” (sempre entre aspas) dos dóceis tucanos, que mais apanham do que batem.
Aliás – por falar em tucanos – já disse várias vezes: nada mais justo que o PSDB trocar o tucano por uma banana, mas voltemos ao post...
O enxadrista Renan Calheiros – que defendeu, recentemente, votação fechada para livrar a cara do senador Delcídio do Amaral (PT) - foi derrotado pelo plenário. Delcídio do Amaral (com muita coisa a dizer, algumas já gravadas) se encontra preso e negociando delação.
Em meio a este clima, na sessão que decidiu onde Delcídio do Amaral passaria algumas noites (se vendo a lua por entre grades ou em céu aberto), Renan Calheiros criticou duramente a postura do Partido dos Trabalhadores, por conta da nota oficial que praticamente abandonou Delcídio a própria sorte.
O PT que sustentou – e ainda sustenta em alguns congressos, como o da juventude – que alguns de seus presos são “guerreiros do povo brasileiro” com direito a rostos em faixas, deixou Delcídio do Amaral de lado. O presidente da legenda, Rui Falcão, assinou nota afirmando que o partido vermelho não teria obrigação ou solidariedade com o petista preso (falo do Delcídio. É que sempre que se usa o termo petista preso, é necessário especificar em função do atacado, já que não se trata mais de um varejo).
Renan Calheiros – aliado de quase todos os momentos do governo de Dilma Rousseff (PT) – classificou a nota como oportunista ou covarde. Ora, levando-se em conta o tamanho da solidariedade recebida por tesoureiros comprometidos e políticos condenados, é de se avaliar que Calheiros tem razão. Razão dá-se a quem tem, independente de quem seja.
Ao ver a grande mancha de batom na cueca de Delcídio do Amaral, em função da comprometedora 1h30 de gravação, os petistas já ensaiaram o discurso, e Amaral foi elevado ao status de “petista fake”, sendo esta uma condenação a mais; e talvez a mais antecipada de todas.
Rui Falcão reagiu aos comentários do peemedebista Renan Calheiros. Falcão – o justo dos justos que não se solidariza com Delcídio do Amaral por suas traquinagens, mas releva outros meninos traquinos de sua legenda, que por lá ainda possuem grande influência – considerou injustas críticas à nota assinada por ele.
Rui Falcão – como consta no site Política Real - responde que, “por tudo isso, é injusta a crítica de que não defendemos o Estado Democrático de Direito ao divulgar a nota que reprova as “tratativas” do senador já amplamente divulgadas. Há muito temos alertado para o surgimento de um “embrião do estado de exceção dentro do Estado de Direito”. Da mesma forma, temos denunciado o cerco ao PT, à Dilma e ao Lula por setores do aparelho de estado capturados pela direita”.
Falcão cumpre a cartilha esperada, inclusive ao falar das “forças ocultas” sem citar nomes. Quem seria a direita odiada por Falcão? O PSDB que se encontra há 13 anos fora do poder central? Os ministros do Supremo Tribunal Federal, muitos deles indicados já neste período da República Petista? Na cartilha de alguns petistas é ‘fascista’ tudo aquilo que discorda deles. Qualquer crítica ao monopólio de virtudes petistas – na cartilha de Rui Falcão – já se torna uma ameaça grave de direita. Oh, céus... ou então, a elite.
Se criticar o PT fosse sinônimo de ser elite econômica neste país, teríamos 90% de ricos. Os números das desigualdades sociais dizem o contrário.
Como se o PT não estivesse envolvido até pescoço em um esquema de corrupção que visa manutenção do poder, tendo para isto a partilha de estatais e a construção do fisiologismo. Quem foi mesmo que disse que fazia o diabo para ganhar uma eleição? Eis que agora tem algo mais visível e mais comprobatório que meramente o cheiro de enxofre.
Rui Falcão mostrou sim a face da covardia. Com a nota, o PT achava poder lavar as mãos, como se bastasse apenas isto para lavar a sujeira na qual se chafurda. Renan Calheiros – que também tem muito a provar em função do já apontado envolvimento na Operação Lava Jato – usou os adjetivos corretos para a nota postada por Rui Falcão.
Vejam, por exemplo, a pressa do PT quando o assunto é Delcídio do Amaral. Rui Falcão avisa que na próxima sexta-feira tratará da “abertura de um processo disciplinar face ao filiado Delcídio do Amaral, reafirmando o que entendemos ser seu comportamento antipartidário e antiético. Se queremos fazer recuar a ofensiva conservadora desfechada contra o PT, urge também combater, com rigor, o oportunismo, o personalismo e o relaxamento da vigilância contra comportamentos antipartidários que vicejam entre nós”, diz.
Indaga-se: o que é antipartidário para o PT? Ser imbecil ao ponto de se deixar ser gravado falando sobre as maracutaias? Eles que respondam. Todavia, se envolver em corrupção e ser condenado pela mais alta suprema corte de Justiça parece ser algo que não fere os ideias partidários. Afinal, alguns foram, mas seguem heróis. Mas os quadros do PT só tem uma pessoa que merece ser tratada como paria do partido: é Delcídio do Amaral. Afinal, dá para suportar tudo no PT, menos burrice! Até dinheiro na cueca pode. Que o diga o líder do PT na Câmara de Deputados.
Lembram dele? O assessor dele explica a ligação folclórica existente entre dinheiro e cueca. Quanto a Delcídio do Amaral, que pague pelo que deve. É um absurdo um senador da República tentando se esquivar de ser citado em delação negociando mensalidade a preso, réu confesso, e ainda negociando sua rota de fuga. Que Delcídio do Amaral abra a boca. Que o Senado tome as providências de levá-lo à Comissão de Ética e que siga o trâmite dentro do que prevê a Constituição.
E que Rui Falcão encontre o significado do ditado que diz que o pau que dá em Chico, dá em Francisco também. Algo possível até para os cérebros mais corrompidos pelas ideologias ou pelas maracutaias.
Sem me alongar mais, destaco um trecho da nota do Falcão: “ao PT interessa separar o joio do trigo. É inquestionável que o senador Delcídio traiu a confiança do PT, do governo Dilma, de quem era líder do Senado, e frustrou o seu próprio eleitorado”. O que o PT entende por joio ou por trigo? A pergunta é extremamente cabível.
Mais da nota: “Todos sabemos que há uma seletividade nas investigações da Lava Jato, como também são nítidas as manobras para criminalizar o PT como instituição. Também é verdade que o Judiciário não trata com o mesmo rigor filiados de partidos de centro e da direita, haja vista a morosidade e parcialidade nos casos do mensalão do PSDB e do trensalão em São Paulo”. Rui Falcão, o PT se criminaliza sozinho e não é de hoje. Sobre os casos envolvendo outros partidos: que se julgue e puna todos os culpados. É o que a sociedade quer: ladrão na cadeia, independente se do PT ou de outra legenda, como PP, PMDB ou PSDB.
É aí que entra algo legal de lembrar: o PT foi alçado ao poder diante da promessa de ser o diferente, sobretudo na bandeira da ética. Agora, comparam seus crimes com os de outros, principalmente do PSDB, ao velho estilo: “eu fiz o malfeito, mas eles fizeram também”. Ora, um pecado não absolve o outro. O crime de um não limpa o de outro. Se são dois partidos ladrões, que os dois sejam punidos. A grande diferença é que agora o esquema de corrupção loteou fisiologicamente o Estado em nível extremo, ampliando os gastos públicos, causando danos na economia, para manter uma estratégia de poder.
No mais, é Rui Falcão sendo...Rui Falcão! E Renan Calheiros sendo...Renan Calheiros. As respectivas biografias os antecedem.
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