O Senado Federal não tem prazo para avaliar o que fazer após a prisão do senador e líder do governo federal, Delcídio Amaral (PT). Diante disto, o clima do Congresso Nacional é completa surpresa com a decisão e com o precedente que ela abre para todo e qualquer político que tentar – por meio de bastidores – influenciar nos rumos da Operação Lava Jato, afinal este foi o mote para a prisão em estado de flagrância do senador petista.

Ora, tendo em vista que muitos são os políticos investigados na Operação Lava Jato e citados nas delações premiadas – como foi o caso do próprio Delcídio Amaral – não é de se estranhar que senadores e deputados queiram se apegar a qualquer santo protetor dos políticos, se é que algum santo merece carregar este fardo. Aos que extrapolam a fé e a confiança na própria inocência, o Supremo Tribunal Federal mandou um recado por meio de Delcídio Amaral: o sol que nasce quadrado é a mensagem.

Por esta razão, há um componente a mais na turbulência que o Congresso Nacional vive agora. Este componente pesa sobre a decisão que o Senado terá que tomar ao receber os autos que resultaram na prisão de Delcídio Amaral. Trocando em miúdos, o lance é o seguinte: o Senado Federal – comandado pelo senador Renan Calheiros (PMDB) – vai “bater de frente” com o Supremo Tribunal ou vai deixar, parodiando a presidente Dilma Rousseff (PT), a “meta em aberto” abrindo um precedente para todos que resolverem cogitar influir nas decisões do Judiciário.

Agora a velha frase de Dilma – dentre tantas incompreensíveis que viram hit na internet – parece ter encontrado sentido.

A “meta aberta” – a referência à presidente se faz porque ela é atingida também pela prisão de Delcídio Amaral – pode pegar alguém de calça curta, afinal políticos respondendo a processo é o que não falta. A prisão de um senador – “nunca antes da história deste país” – abala a República pelo ineditismo. E arranha ainda mais a imagem do PT, caso ainda sobre algum espaço na estrela vermelha para caber um arranhão de tamanha proporção ou até mesmo um corte profundo.

Há tempos que o PT não pode ostentar a bandeira da ética.

Não estranhem se – diante deste contexto – não houver consenso sobre a votação para validar a prisão, ou até mesmo se esta deve ocorrer de forma aberta ou fechada. Não é por acaso que Calheiros optou pela prudência e as declarações evasivas em suas primeiras entrevistas. Será assim até as muitas avaliações que precisam ser feitas.

O senador Aécio Neves (PSDB) – um dos nomes fortes da oposição – falou abertamente em votação aberta. Hora de a oposição fazer a festa, ainda que seja a oposição tímida e covarde dos tucanos. Aécio Neves não quer só a votação de forma aberta. Quer de maneira imediata. Não se importa com o risco de dobrar a meta.

Calheiros divulgou nota oficial. Ele vai se encontrar com os líderes partidários e com a Mesa Diretora.  Em reunião, os senadores devem analisar as circunstâncias e a legalidade da prisão de Delcídio. Calheiros afirmou em entrevista coletiva há pouco que tinha informações de que o Supremo Tribunal Federal anteciparia a entrega das informações sobre a prisão ainda para esta tarde.

O fato em resumo:

Um senador – como mostra as gravações – tentou decidir diante de decisões do STF. Mas ao que tudo indica, o Supremo mandou de volta o recado: “Sou eu que Delcídio”.

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