Governo gosta de divulgar números. Mas, quando estes são favoráveis. Governo adora esconder (ou dificultar o acesso aos) números, quando estes depõem contra. Esta é uma máxima que quase sempre é verdadeira. São raras as exceções. Não sei se alguém achou que a facilitação da divulgação dos casos de microcefalia seria ruim para o governo. Os números foram divulgados. Porém, timidamente.

Eu defendo que o governo deveria ter divulgado de outra forma. Digo a razão pela qual penso assim.

Dito isto, eis que é necessário frisar – e elogiar! – o trabalho feito pelo jornalista Davi Soares, em seu blog, no dia de ontem, ao falar sobre os casos de microcefalia em Alagoas.

Foi aos números que deveriam estar no corpo da nota técnica, até mesmo para atestar a diferença entre Alagoas e os demais casos do Nordeste. Em recente entrevista – ao site G1 – a Secretaria de Saúde informou o seguinte: “A secretaria informou ainda que o estado registrou, em dez anos, 29 crianças nascidas com microcefalia. Neste ano, de janeiro ao dia 12 de novembro foram três casos. Em 2014, foram registrados dois casos, e em 2013, três casos”. Eis a matéria aqui.

No documento exposto pela Saúde, em nota de rodapé, é informado – dias depois – o seguinte, os casos aumentaram: “O alerta do MS em cadeia nacional e a divulgação da Nota a serviços e aos municípios resultaram no aumento do número de casos, tendo-se atualmente (até 20/11), para 2015, 18 casos, considerando os 3 casos registrados antes da declaração de 3 emergência e mais: 7 casos até 19/11, sendo 5 de recém-nascidos e 2 identificados por meio de ultrassonografia; 10 casos até 20/11, sendo 5 da Capital (Casa de Saúde e Maternidade Nossa Senhora de Fátima e o Hospital UNIMED), 4 de Santana do Ipanema e 1 de Canapi, identificado a partir da ultrassonografia (informados ao CIEVS por e-mail)”. Veja aqui.

Se não é a leitura do documento anexo à nota – que está lá no rodapé – não se tem a noção exata do quadro comparativo e da preocupação que ele ressalta. Mostrar os números de forma mais acessível, discutir com base neles, pode ajudar a conscientizar a população da gravidade, além de alertá-la a se informar sobre o assunto com a devida responsabilidade que é conclamada pela própria secretaria.

Não se trata de sensacionalismo com os números. Muito pelo contrário, se trata de ter acesso á informações que ajudem a divulgar o quadro real sem que meramente se fale de “aumento de casos” sem se saber quantos e onde. A dificuldade de acesso à informação fez com que – por exemplo – Alagoas sequer fosse citada anteriormente pelo Ministério da Saúde. Segundo Davi Soares, os dados não haviam chegado até lá.

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que defendo que a ida às fontes primárias coloca em evidência o que as linhas oficiais não falam abertamente, de forma direta. Num Estado onde se lê pouco, onde muitos se orientam apenas por manchetes de jornais, os dados principais devem ser de acesso rápido, sobretudo quando o caso exige o conhecimento pleno da realidade em função das especulações que surgem.

E o governo sabe disso! Afinal, quando reduziu homicídios não colocou tais estatísticas no rodapé de uma nota oficial que falava apenas em “redução de mortes”. É o que citei no parágrafo acima.

No dia de ontem, a Secretaria Estadual de Saúde divulgou uma “nota técnica” para falar dos casos de microcefalia em Alagoas. Parece detalhe, mas não é! É nos pequenos detalhes que estão as grandes reflexões necessárias a serem feitas. O jornalista Davi Soares fez!

Repito: o site oficial da instituição divulgou uma nota técnica (aqui) que não traz os números, que são essenciais para o conhecimento público. A pasta apenas coloca que “A Secretaria de Saúde de Alagoas vem há meses preocupada com o aumento de casos relacionados a essa tríplice virose. Temos emitido notas técnicas informando sobre a situação e sobre medidas a serem adotadas pelo setor saúde, além de divulgar, ao máximo possível, as orientações necessárias ao controle do vetor”.

Quem baixar o arquivo que consta lá é que chega ao resto. Por isto não digo que foram dados escondidos. Não foram escondidos. Longe de mim afirmar isto. Digo que não tiveram o destaque merecido e passariam batido se não fosse a imprensa.

O que é positivo de se observar na nota? Bem, que há preocupação e o interesse em divulgar as medidas a serem adotadas pelo setor de saúde, além de divulgar, ao máximo possível, as orientações necessárias. No mais, saberíamos de forma mais fácil o que o próprio Ministério da Saúde vem divulgando – o número exato de casos – se assim a pasta quisesse.

Fecho o texto repetindo de forma mais enfática o que já disse acima:

1) Chamar o número para as manchetes não é sensacionalismo, mas é dar ao caso a real dimensão que ele possui, alertando a população para um dado real, preciso, e assim divulgar orientações, precauções e ações a serem adotadas pela população.


 2) Chamar atenção para a necessidade de a população ajudar no combate ao vetor, como a própria nota chama atenção: “Vamos avançar no combate ao vetor dentro de nossas casas, nos quintais e nas áreas públicas, com a eliminação dos possíveis criadouros, a proteção de depósitos de água, o cuidado com o lixo”.


3) Também evitar a especulação e – aí sim! – o sensacionalismo que pode ser proveniente deste. Pois sem dados oficiais bem a mostra o que podemos ter é justamente o que a nota da secretaria condena: “precisamos ter cautela, especialmente com a circulação de noticias infundadas sobre o assunto e algumas orientações, que, sabemos, são pouco prováveis de acontecer e produzir resultados eficientes, especialmente no nosso clima”.


4) A cautela a ser adotada pela secretaria – em minha opinião – é justamente ser a primeira a divulgar todas as informações de forma clara e sem deixar dúvidas, com a finalidade única de evitar o alarmismo diante do que é irreal ou a ausência de engajamento diante de algo que deve ser uma preocupação de todos. É a melhor forma de não subestimar ou superestimar um problema. 

Por fim, que bom que a imprensa entendeu a importância de um número que está lá - em um link - no rodapé do texto oficial e o trouxe para as manchetes dos jornais impressos, além dos sites de notícia.

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