O governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), encaminhou um pacote para aumento de impostos para a Assembleia Legislativa, que – mesmo com início para o ano de 2016 – foi aprovado com urgência. A justificativa: a crise que assola o país. O peemedebista tem sido enfático em seus pronunciamentos: a crise é forte e Alagoas vem fazendo o dever de casa para não ser atingido como outros já foram.

Renan Filho cita, inclusive, exemplos de localidades que já atrasaram salários de servidores públicos. O chefe do Executivo tem colocado a crise no horizonte para justificar medidas, adoções de cortes de gastos e propostas para o aumento de arrecadação. É uma crise – portanto – que o governo vê, mas não são todos do governo que enxergam tal crise. Dentro da própria equipe, o governador do PMDB tem comandado que faz o discurso de culpar a imprensa ou amenizar os efeitos da crise econômica.

Só para constar, o próprio governo federal sabe da crise. Afinal, não foi a imprensa – muito menos os “golpistas” (para usar a palavra da moda) – que fecharam o ano de 2014 com déficit nas contas públicas. Não foi a oposição que fez um festival de mentiras na campanha presidencial apontando uma “inflação sobre controle”, um “cenário positivo”, para depois de eleito entregar uma realidade que nada tinha a ver com a promessa. Foi a presidente Dilma Rousseff (PT). A mesma presidente que deu suas pedaladas fiscais; a mesma presidente que contou com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), para aprovar uma revisão de meta fiscal no apagar das luzes de 2014.

Agora, de forma reincidente, é o mesmo governo que apresenta um déficit nas contas publicas (já referente ao ano de 2015) que se encontra em R$ 50 bilhões e pode ultrapassar – até o final do ano – os R$ 100 bilhões. De onde surgem estes números negativos senão de um momento difícil que inclui as dificuldades advindas de uma crise econômica. Aguardem. É a realidade! Os fatos se impõem por si mesmos e destroem as visões cor-de-rosa dos mais ideológicos, ainda que estes lidem com números e busquem amenizar os efeitos de uma crise que o Brasil vivencia e que apresenta dados alarmantes de norte a sul.

Ah, mas imprensa mente e exagera? Imprensa mente. Tudo que sai nos jornais deve ser lido com desconfiança. Isto é óbvio. É para isto que existem fontes primárias e outros dados a serem analisados.

Em Alagoas, por exemplo, conforme a Fecomércio, foram mais de 25 mil demissões no setor de serviços entre setembro de 2014 e setembro de 2015. Quem tem boa memória vai lembrar-se do secretário estadual do Trabalho, Rafael Brito, falando dos efeitos da crise no setor da Construção Civil (ainda no final de 2014, citando inclusive a desaceleração no Minha Casa, Minha Vida, em função da crise) e o temor da estagnação deste ramo por conta de abrigar muita mão-de-obra na Terra dos Marechais.

Vale lembrar também de uma longa entrevista de George Santoro – secretário da Fazenda – demonstrando preocupação com o futuro e apostando que 2016 é um ano difícil. Todos os prefeitos – independente de aliados ou não – cobram do governo federal uma melhor distribuição de recursos, pois a crise é a justificativa para os sucessivos cortes nos repasses do Fundo de Participação Municipal (FPM). Estaria o presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA), Marcelo Beltrão (PRB), mentindo? Com a palavra o presidente da Fapeal e economista Fábio Guedes. Por que o governo reduziu tanto FPE e FPM se não há crise? Ele é o homem do governo que – contrariando os discursos da maioria dos governistas – não enxerga essa crise toda e deu entrevista ao jornal Tribuna Independente expondo sua visão.

Uma matéria, inclusive, essencial, pois todos os lados e visões devem ser expostos e comparados.

Em relação à entrevista concedida por George Santoro, é essa aqui. Parece que Santoro, o preparado homem da Fazenda que o governador Renan Filho foi buscar, tem um prognóstico um tanto quanto diferente do presidente da Fapeal. Fica uma sugestão ao governador: trocar Santoro por Guedes no comando da Fazenda. Pode ser que o otimismo de Guedes ajude ao governador a não mais falar tanto de crise econômica por aí...

A visão de Guedes ajudaria ao governador a não encaminhar – por exemplo - para a Assembleia Legislativa um pacote de aumento de impostos para incrementar a arrecadação em tempos de crise. Ah, mas é bom lembrar: as mensagens do governador que versavam sobre revisão de alíquotas foi defendido por vários secretários, dentre os quais o de Planejamento (Cristian Teixeira) e o da Fazenda. Todos eles falavam de crise. Foi a crise que convenceu os deputados.

A crise econômica é em grande parte política, dirão alguns. Não, não é! A crise econômica é porque socialismo acaba quando acaba o dinheiro alheio, uma aula que é muito bem exposta pela escola austríaca de economia, está no livro o Mito do Governo Grátis de Paulo Rabello de Castro, e está na prática quando – em função da catástrofe dos números – já há cortes em vários programas do governo federal e o próprio discurso da Pátria Educadora já não se sustenta por efeitos do momento em que o país passa. Usemos apenas um exemplo: em Alagoas, o Projovem não paga bolsas há seis meses. A Prefeitura de Maceió afirma: o governo federal não repassou recursos diante da crise econômica. Claro, há a possibilidade de não se ter esta crise toda e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), estar mentindo?

Aliás, qual é mesmo a função do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy? Lidar com a CRISE. As adoções de medidas por parte do governo federal – sem entrar no mérito da eficácia delas – foi para lidar com a CRISE.

Se o prefeito mente, o governador também. Afinal, a crise já faz parte do discurso de ambos. Mas, fico feliz em saber da pluralidade do governo. Das visões conflitantes. Que faz com que quase todos vejam crise, mas alguém em especial, não. Democracia.

Afinal, levando em consideração a lógica de Guedes, o governo do qual ele faz parte também exagerou no discurso e andou vendo chifre em cabeça de cavalo (a expressão é minha, mas quem leu a entrevista de Guedes, sabe que ela se encaixa). Renan Filho, ouça Guedes e não ouça tanto Santoro. Chega de pessimismo, de influência midiática, né não? Logo, repito: se não há crise econômica, superemos politicamente e deixa de lado essa história de aumentar impostos, né?!

Com todo respeito a Guedes, que tenho de fato e sou leitor de seu blog, devido sua competência como escritor e até porque me faz estudar pontos discordantes que ele defende com maestria e baseado em número. Posso discordar dele nas análises, mas não é da democracia. Apenas achei as declarações dele em total descompasso com o governo do qual faz parte e distante de uma realidade que as pessoas sentem na prática.

E antes dos mais "atrevidos" surgirem com "blá blá blá", não faço críticas à pessoa, muito pelo contrário: o elogio e acho que ele pode contribuir com a Fapeal. Agora, discordo da visão e mostro que o “todo” do governo estadual tende a enxergar a crise que a maioria da população enxerga, mesmo sendo um governo aliado ao PT, ora! E o governo o é. Basta olhar a cautela com a qual fala do momento que Dilma Rousseff vivencia.

Caso não fosse assim, porque reclamar das quedas repasses? Crise política há! É fato! Mas existem as duas: a política e a econômica. Ou o rombo no orçamento do Executivo federal também foi inventado pela imprensa golpista? Há uma crise política, uma moral, uma ética, uma de compreensão de Estado e uma econômica. E digo mais: a crise política também é culpa de um atual projeto de poder hegemônico e que flerta com o autoritarismo. Pois esta crise política aprofunda a econômica uma vez que se empurra problemas com a barriga, ladeira abaixo e sem o mea culpa necessário ou discussões sobre modelos de Estado. Eu defendo um Estado menor e com mais liberdade econômica, por exemplo.

Tal qual como defende Mises e tantos outros.

Entretanto, por falar em crises (no plural mesmo) desconfio que por vezes existam crises de visão também, quando os fatos são deturpados pela perspectiva dos interesses político-partidários!

Mas como cabe a mim provar o que falo, destaco frases do governador. Em seguida trago as de Guedes.

 Vamos lá. Renan Filho sobre a crise econômica:

“Essa redução da popularidade da presidente é em parte conseqüência disto (a CRISE ECONÔMICA). As pessoas não sabem qual vai ser a saída da CRISE. A incerteza, a imprevisibilidade, atrapalha ainda mais a ECONOMIA”.

"Em época de CRISE ninguém gasta mais do que pode. E quando a coisa melhora, isso gera a possibilidade de avançar mais rápido".

“O que houve é que o Brasil ficou muito caro. É o que aconteceu com a Grécia (em referência ao aumento dos gastos públicos do governo federal e a crise econômica). A única diferença é que nossa economia é mais robusta, somos a principal economia da América Latina e eles são a Bolívia ou Paraguai da Europa. Nós, não. Nós somos uma economia forte. Mas, o Brasil não aguenta mais pagar esta conta”.

“Eu digo isto e sei que sempre que se fala de imposto se é antipático, mas não gosto de fugir dos problemas, mas de falar da realidade. Acho que o governo federal tem que cortar na carne, mas é preciso ter aumento de receita se não vai prolongar a CRISE e nos fazer perder empregos”.

O leitor que quiser pode procurar por “Renan Filho e crise” no Google e achará bem mais informações, mas todas neste mesmo sentido.

Vamos ao que diz Fábio Guedes em entrevista à Tribuna Independente, ao afirmar que o país não vive uma crise, mas uma desaceleração econômica. Ele nem utiliza – como diz a matéria – a palavra crise em suas análises:

“Se tirar São Paulo da contabilidade nacional, os números mudam. Lá realmente a situação está péssima. Mas em outros estados ou regiões não tão industrializados, como é o caso de Alagoas, o que pode afetar a economia são os cortes fiscais do governo”.

Há, ele diz, que Alagoas é afetada pelo clima negativo do noticiário. Somos todos influenciados e paramos de consumir. Governador Renan Filho, esqueça aumento de impostos. Manda o povo parar de assistir e ler jornais e ir comprar.

“O setor de comércio aqui cresce em média 5% ao ano. Mas aí um varejista do Centro ou de um shopping vai dizer que não está crescendo. Ele dizia que estava crescendo quando esse índice era de 8%. O que diminuiu foi o ritmo de crescimento, mas há crescimento. Agora, essa diminuição não afetou as grandes redes de varejo, que é o quem tem sustentado esse número. Os pequenos sentem um pouco a desaceleração”. E aí, Fecomércio, reclamando demais, heim?

“Alagoas tem sofrido impacto da desaceleração econômica, mas com muito menor intensidade que em outros locais. Se aqui fosse uma economia capitalista desenvolvida, o estado estaria quebrado. Mas não é. Alagoas vive basicamente da informalidade, do setor público, de transferências governamentais e do comércio e serviço que se movimenta por isso. Como é que pode ter crise em Alagoas?”. Como é que pode ter crise em Alagoas? Esquece essa palavra, governador.

“Podemos até estar no início de uma crise econômica, mas ela foi, de fato, produzida. Em 2012 e 2013 não havia elementos que apontassem para o que se vê hoje, mas o clima político foi piorando em 2014 e isso ocasionou o cenário atual. O Congresso não tomou algumas decisões e isso está afetando a retomada da economia. Por isso as agências de rating reduziram a nota de investimento do país. Se demorou a fazer o ajuste econômico que eles querem e essa demora foi por causa do clima político. E enquanto não resolver a política, a economia é de incerteza”.

“Os setores de hotelaria, gastronomia e construção civil, que está expandindo com menor força, e serviços não podem dizer que vivem crise (ouviram, senhores  lojistas e comerciantes?). O pequeno comércio varejista até sente um pouco, mas o grande não, pois tem condições de se manter por terem estrutura de marketing e capital para vender crédito a longo prazo. Mas é bom destacar que o clima gerado no país deixa o consumidor apreensivo”,

E aí, leitor, há crise ou não? Fábio Guedes era um homem para ser mais ouvido no governo. Um contraponto interessante para os pessimistas que enxergam crise e falam de aumento de imposto, de cortes, de cenários de dificuldade para o futuro e de incertezas. Afinal, crise, que crise?

Com todo respeito, aqui quero apenas propor o debate...eu acho que há crise sim!

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